Hades (PC): revisitando o roguelike um ano depois

Em relação ao lançamento inicial, o título da Supergiant Games apresenta uma experiência ainda mais elaborada e viciante.

em 16/12/2019

Hades é o novo projeto da Supergiant Games, produtora independente conhecida por títulos como Bastion e Transistor. No jogo, controlamos um deus que tenta escapar do Submundo em uma aventura de ação com aspectos de roguelike. O título foi lançado em formato Acesso Antecipado na Epic Store no início de dezembro de 2018, e agora ele chega também ao Steam. Joguei o título assim que ele foi lançado e aproveitando a oportunidade do lançamento em outra plataforma, decidi revisitar Hades para conferir as inúmeras novidades incluídas no jogo.

Tentando escapar do Mundo Inferior

Zagreu, o príncipe do Submundo, não suporta mais a atitude evasiva de seu pai, Hades. Inconformado com essa situação, o jovem deus decide fugir do Inferno a fim de entender melhor suas origens. A tarefa não é fácil, pois o Mundo Inferior tem configuração que justamente impede que as almas (mortais ou imortais) escapem de lá. Mesmo sendo derrotado inúmeras vezes, Zagreu não desiste e vai persistir em seu objetivo.

Hades é um jogo de ação com aspectos de roguelike. No controle do jovem deus, tentamos escapar do Submundo em uma aventura focada em combates cujo objetivo é derrotar todos os monstros de uma sala para poder seguir para a próxima. Zagreu tem à disposição algumas armas, como uma espada, uma lança, um escudo, e um lançador de dardos, cada qual com ataques e habilidades diferentes. Além disso, o rapaz consegue realizar uma investida para escapar de ataques e atravessar obstáculos, e uma pedra especial que pode ser lançada como projétil.


O príncipe do Submundo não está sozinho nessa difícil jornada: os outros deuses do Olimpo mandam seu auxílio na forma de Dádivas que alteram as habilidades do protagonista. O poder é relacionado à personalidade do deus, ou seja, Zeus provê ataques de eletricidade que rebatem entre oponentes, a força de Afrodite é capaz de enfraquecer inimigos, Poseidon provê movimentos aquáticos, já a proteção de Atena permite rebater projéteis e muito mais. A variedade de poderes é grande e permite montar diferentes estratégias.

Ao morrer, Zagreu volta para a mansão de Hades, o que significa recomeçar a jornada desde o início na próxima tentativa. Como é de praxe de roguelikes, o jogo tem muita variedade na forma de mapas gerados proceduralmente, Dádivas distintas, eventos, inimigos, chefes e mais, o que faz com que cada partida seja distinta uma da outra. Na verdade o título é uma representante da variação lite do gênero por apresentar melhorias permanentes entre as várias tentativas — mesmo morrendo, há sensação constante de evolução.


Exploração variada e empolgante

Comandos precisos, ação extasiante e muita variedade são as características que tornam Hades divertido. O combate em tempo real mistura destreza, posicionamento e agilidade de ótima maneira, em confrontos que nos forçam a mover constantemente e a utilizar as habilidades na hora certa. É tudo muito frenético e basta um momento de desatenção para ser derrotado. Mesmo assim, toda vez que morri, fiquei com vontade de tentar de novo — o ciclo de jogo é sólido e viciante.


A grande diversidade de Dádivas e armas fazem com que a experiência mude completamente de uma partida para outra. Em uma tentativa, Zagreus lançava raios ao esquivar, lançava uma bomba explosiva de água no lugar da pedra mágica e tinha sua força aumentada ao derrotar todos os inimigos de uma sala sem ser atingido. Em outra ocasião, meu personagem envenenava inimigos com os poderes de Dionísio, refletia projéteis com a esquiva e era capaz de fazer seu escudo rebater em inúmeros inimigos. Já em uma nova partida, meu foco foi poder: com a ajuda de Ares, meus golpes enfraqueciam inimigos, uma bênção da deusa da caça Artemis aumentava a taxa de acerto crítico e uma aura liberava dano ao ser atingido.

Mesmo sendo um roguelike, Hades consegue contar uma boa história e desenvolver seus personagens. Com o passar das partidas, vamos descobrindo aos poucos as reais intenções de Zagreu por meio de diálogos e flashbacks. Além disso, é possível estreitar laços com os vários personagens do mundo, inclusive os deuses do Olimpo, o que liberam novas conversas e informações. Como é de praxe da Supergiant Games, a apresentação é impecável: os exóticos personagens esbanjam personalidade com suas aparências, texto e dublagem; os gráficos são elaborados e vibrantes; e a trilha sonora está repleta de faixas marcantes e energéticas produzidas pelo compositor Darren Korb.


Uma aventura ainda mais completa

Quando eu joguei Hades pela primeira vez no lançamento original, eu já o achei muito sólido e divertido. No entanto, a experiência ainda era bastante limitada por causa da pequena quantidade de conteúdo — somente duas áreas, dois chefes e alguns poucos eventos estavam disponíveis. Com o tempo, o título recebeu várias atualizações e agora ele oferece muito mais, por mais que sua essência ainda continue idêntica.

Muitas novas mecânicas trouxeram mais complexidade e diversidade às partidas do jogo. Dentre elas, destaco Dádivas especiais que exigem preencher uma barra de fúria para serem ativadas: seus efeitos devastadores podem fazer grande diferença em momentos complicados. Agora há também Dádivas do tipo Dupla, que concentram poderes de dois deuses diferentes em uma única habilidade — é preciso se planejar para ter a chance de adquirir uma bênção dessas. Por fim, as armas receberam versões alternativas desbloqueáveis com características e ataques diferentes, o que é capaz de mudar completamente o ritmo de jogo. Um novo armamento foi adicionado ao título e outro está previsto para o início de 2020.


A quantidade de conteúdo também não foi negligenciada. Hades agora conta com mais duas novas áreas (totalizando quatro), chefes alternativos, inúmeras novas Dádivas, outros tipos de salas e vários eventos. Uma das adições mais interessantes é Caos, o titã que é o pai dos deuses: ele oferece uma bênção poderosa que só é liberada após sobreviver alguns encontros sob algumas restrições, como levar dano ao executar ações específicas. Em outro tipo de evento, Zagreu enfrenta seu irmão Tânato em uma competição de quem consegue matar mais inimigos, e caso o príncipe saia vitorioso ele recebe algum prêmio valioso.

A dificuldade e outras pequenas características são constantemente balanceadas, mas Hades continua um jogo difícil (o que é normal, afinal ele é um roguelike). Mesmo assim, foram adicionadas opções para diferentes tipos de jogadores. Aqueles que querem somente ver a história (ou que já estão cansados de morrer para o Minotauro e Teseu) podem ativar o God Mode, que deixa Zagreu extremamente poderoso, já o Hell Mode é para os que buscam maior desafio. Além disso, foram incluídas também opções para os jogadores que já conseguiram escapar do Submundo na forma de restrições que deixam a jornada mais complicada e difícil — naturalmente, há recompensas exclusivas ao ativá-las.


Por fim, Hades agora conta com mais história e diálogos, boa parte deles dublados. Itens equipáveis de efeitos diversos são incentivos para interagir com os personagens. Uma notícia boa para os jogadores brasileiros: o título já conta com tradução parcial para o português do Brasil, que apresenta qualidade mesmo estando em um estágio inicial.

Um roguelike que vale a pena

Hades é um sólido roguelike de ação que apresenta alto polimento mesmo estando em Acesso Antecipado. Gosto bastante da experiência diversificada proporcionada pela combinação de mapas gerados proceduralmente, as várias Dádivas que modificam as habilidades de Zagreu e as armas de estilos diferentes. Em pouco mais de um ano a desenvolvedora Supergiant Games conseguiu produzir uma quantidade de conteúdo notável, além de várias alterações muito interessantes — o jogo está tão bem acabado que já parece algo completo. Hades já é muito divertido e recomendo bastante para quem gosta de títulos de ação com aspectos de roguelike.

Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela Supergiant Games
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é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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