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Análise: SuperEpic: The Entertainment War (Multi) aposta na simplicidade e acerta em cheio na diversão

A luta contra uma organização que só visa lucro com jogos ruins não é nada se não estivermos montados em uma lhama e pegando referências bem colocadas.

A Numskull Games traz um jogo simples mas com uma mensagem bem forte sobre o comportamento das desenvolvedoras que estão transformando jogos em serviços com o objetivo de fazer dinheiro de forma rápida e fácil, mas devendo em qualidade e no que realmente importa em um jogo eletrônico, a diversão.




SuperEpic: The Entertainment War faz uma crítica bem humorada sobre como somos bombardeados diariamente por jogos gratuitos que são mais do mesmo, mas sempre faltando algo, e o que falta você pode adquirir gastando seu dinheiro. A aposta em um gênero já consolidado, o popular metroidvania, para fazer sua crítica, mostra que é possível sim oferecer conteúdo sem comprometer a qualidade. E o melhor, sem precisar gastar mais dinheiro para apreciar um bom jogo.

O levante contra o monopólio dos games

O ano é 2048 e estamos em meio a uma sociedade de animais antropomórficos. Após sucessivas aquisições, só existe uma desenvolvedora de games no mundo, a RegnantCorp. A companhia alienou a sociedade com jogos free to play, forçando os usuários a gastar todo seu dinheiro com seus games ruins e comprometendo a comunicação uns com os outros. Seu lema é “Trabalhar, Jogar e Gastar”.

O tirano PEO da RegnantCorp.
Mas nem todos são forçados a jogar esses jogos ruins. Escondido e usando métodos alternativos de comunicação, o guaxinim TanTan ainda consegue jogar bons jogos em sua casa, sem interferência do monopólio da RegnantCorp. Uma noite TanTan recebe uma mensagem diretamente em sua televisão. É um rosto mascarado convidando o guaxinim a participar de um levante contra a empresa e, vendo a oportunidade a sua frente, TanTan atende ao chamado e parte para a luta com sua lhama Ola para derrubar a RegnantCorp. a fim de proporcionar à sociedade uma chance de voltar a ter jogos bons.

"Esta pode ser a chance que tanto esperávamos. Vamos chutar alguns traseiros de porcos e ganhar nossa liberdade de volta!"
Durante a investida contra a RegnantCorp., TanTan e Ola terão a ajuda de Xaloc e suas duas amigas porcas rebeldes, Gregal e Migjorn. Elas vão disponibilizar itens e upgrades para os equipamentos e habilidades do guaxinim por um bom preço, obviamente. TanTan posteriormente descobre que não é o único com intenções dentro da RegnantCorp. a raposa Boxcar e sua alpaca Kase estão em uma missão para resgatar seus amigos que foram capturados e aprisionados no prédio. O guaxinim ainda a encontrará em outros momentos durante a aventura.

Acima: Boxcar e sua alpaca Kase. Abaixo: A porca rebelde Xaloc.
Cada departamento da corporação é controlado por um chefe executivo da empresa e cabe a TanTan derrotá-los um a um até chegar ao Pig Executive Officer (PEO). Alguns deles são a escravizadora de equipe, o monetizador sênior e o game designer trapaceiro — todos eles são estereótipos que representam tudo de negativo que uma desenvolvedora de games ruim pode proporcionar a seus empregados e jogadores. Há também referências a jogos e personagens da cultura pop, como Castlevania, Metal Gear Solid, Mega Man e até Dragon Ball Z nos inimigos, diálogos e cenários do jogo, incluindo um embate com um dos chefes em um cenário totalmente em 8-bit.

Referências, referências...

Um metroidvania simples e sem frescuras

Como um bom jogo deste gênero tem que ser, nosso objetivo é fazer com que TanTan e Ola obtenham habilidades e se fortaleçam para avançar na exploração do gigantesco mapa de jogo que se passa dentro da RegnantCorp. O mapa se divide nos vários departamentos da corporação, partindo da recepção, passando pelos departamentos jurídico, servidores e de desenvolvimento, chegando até o setor de monetização e a antiga sede.

Cada área conta com um terminal que revela salas importantes do local. TanTan coleta pendrives com informações sobre os respectivos pontos de interesse e a eficácia do terminal é determinada pelos pendrives que possui. Se você só tiver os pendrives de banheiros e de elevadores, por exemplo, ao interagir com o terminal você só terá esses pontos da área revelados no seu mapa, que correspondem aos pontos de salvamento e de viagem rápida, respectivamente.


O jogo conta com uma jogabilidade simples e bem intuitiva. TanTan é capaz de realizar combos com seus três tipos de ataque: um ataque frontal, básico, o mais usado durante o jogo; um uppercut, mais fraco, que lança os inimigos no ar; e um terceiro, chamado de smash, o mais forte e lento, que é utilizado para finalização de combos e quebra de defesa de inimigos. Cada um destes ataques possui itens específicos para serem equipados e estes podem ser melhorados até três vezes para alcançar sua eficiência máxima. Ao dominar essas habilidades de combate é possível realizar combos muito divertidos e eficientes contra inimigos mais fortes, possibilitando que sejam derrotados bem mais rápido.

O herói faz uso de itens pouco convencionais como armas. No início do jogo o guaxinim está equipado com seu fiel guarda-chuva, vassoura e desentupidor de pia. Mas isso não chega a ser um problema, pois na sequência obtemos um poderoso peixe espada empalhado e uma placa de trânsito. O taco de golfe é excelente para lançar os inimigos no ar para depois finalizá-los com uma panelada. Pressionando o analógico direito você tem acesso a um menu rápido para utilizar itens de recuperação de pontos de vida e de rage, para execução dos ataques especiais.

TanTan e Ola podem, cada um, equipar dois itens. Um dedicado para a defesa e um acessório, que pode proporcionar bônus de ataque ou defesa, uma melhoria de captação de moedas, chances de anular o dano de um ataque inimigo, ou elevar a taxa de acertos de golpe crítico. No decorrer do jogo nosso herói também obtêm objetos que ativam habilidades permanentes, como o clássico pulo duplo, esquivas e a capacidade de explorar ambientes submersos.

Essas habilidades permitem que TanTan consiga transpor obstáculos que possibilitam explorar mais o mapa de jogo e acessar novas áreas. O backtracking é rotineiro e ao chegar na terceira área do mapa isso já se torna mais frequente, então prepare-se para as rotineiras idas e voltas. Ao encontrar um elevador, a viagem rápida para esta área é habilitada e isso economiza tempo durante as andanças no prédio.

No decorrer do jogo TanTan também pode fazer upgrades nos seus pontos de saúde, de rage e de stamina, que é consumido para realizar movimentos especiais. Os ataques especiais são adquiridos com Gregal, uma das porcas que ajudam o guaxinim dentro do prédio, e podem ser compradas utilizando um segundo tipo de dinheiro, as gemas. As habilidades especiais são adquiridas na exploração, possibilitando o acesso a novas áreas.

Mais do mesmo, mas com algo a mais

Ao começar a jogar SuperEpic já temos uma noção de como vamos progredir em nossa aventura, principalmente se formos acostumados com um metroidvania. As salas com puzzles são poucas e são bem simples de resolver, com exceção da quadra de basquete que requer atenção a um detalhe bem sutil no local e outros puzzles que exigem uma dedicação maior do jogador por necessitar de itens ou interações em diferentes áreas do mapa, como os porcos dorminhocos e as câmeras de vigilância.

Pensando nisso, um fator mais imersivo foi inserido para sair das trivialidades do gênero. Em determinados momentos do jogo nos deparamos com a clássica sala onde há um obstáculo que deve ser aberto por uma chave ou código, como na imagem a seguir.

Note que há uma coisa bem peculiar nessa sala e você que está lendo esta análise pode interagir com ela se quiser. Basta pegar seu smartphone e escanear o QR code para acessar um jogo. Durante a aventura é possível acessar várias cópias descaradas de jogos que já conhecemos, como Flappy Bird, Puzzle Bobble e Candy Crush Saga. São os jogos desenvolvidos pela RegnantCorp. dentro do universo de SuperEpic e é possível sentir na pele a tormenta que os cidadãos animais estão passando e simpatizar mais com a causa de TanTan.
Para progredir nestas salas, você precisará de um smartphone para escanear o QR code, jogar e obter um código dentro do minigame no seu celular para obter a senha de acesso e desativar o obstáculo. Hoje praticamente todo mundo tem um smartphone, então é pouco provável que você não tenha problemas quanto a isso. Caso não tenha, infelizmente o progresso naquele local ficará pendente. E já adianto que esses jogos são bem ordinários, mas nem um pouco difíceis.

Além desse tipo de interação, seu smartphone ainda terá outra utilidade, a de minerar pigcoins. Cada área da RegnantCorp. possui um terminal de pigcoins com um QR code para acessar um aplicativo de mineração. Você pode minerar pigcoins para trocá-los, posteriormente, por dinheiro dentro do jogo. Mesmo fora do jogo você pode continuar minerando pigcoins para resgatar em forma de cartões pré-pagos fictícios quando voltar. Adicionar novas áreas no aplicativo proporciona mais núcleos de mineração, representados pelos chefes de cada área, possibilitando o resgate de mais cartões, mais rápido.

Uma longa caminhada sempre tem alguns tropeços

Apesar dos méritos positivos na arte, música, jogabilidade e na interação com o jogador através do smartphone, SuperEpic tem alguns problemas que podem atrapalhar os jogadores mais acostumados com o gênero e até os novatos.

O primeiro problema que identifiquei foi na gestão do inventário. Um ponto que pode passar batido para alguns jogadores. Eu tenho o hábito de organizar itens que me interessam e vender o que não me serve mais como forma de levantar dinheiro. A única maneira de conseguir dinheiro no jogo é derrotando inimigos, encontrando cartões pré-pagos no jogo e resgatando códigos de créditos pelo aplicativo de pigcoins.

Em SuperEpic não é possível vender os itens e isso causa um certo desconforto na hora de procurar e comparar os itens que queremos equipar em TanTan e Ola. Ao encontrar um novo item, é preciso rolar no meio de todos os outros já coletados para selecionar o que queremos equipar. A sensação de entulhar itens no inventário me incomodou um pouco.

Tela de inventário
Outro ponto que não me agradou foi a interface ao comprar itens das porquinhas. As informações importantes ficam dispersas nas extremidades da tela e as vezes é necessário ir e voltar na mesma tela para checar quantas moedas você tem e resolver se a aquisição daquele upgrade é interessante naquele momento.

Mas o ponto que mais me incomodou foi justamente um dos mais importante neste gênero de jogo, o mapa. O mapa de jogo da RegnantCorp. é imenso, e se orientar nele quando a maior parte já está revelada fica um pouco confuso. Existem os ícones padrão para identificar os pontos de salvamento, de viagem rápida, lojas das porquinhas e portas trancadas, que ficam marcadas no mapa quando você já as encontrou mas não possui a chave para abri-las.

Se orientar no mapa pode ficar confuso quando você começa a fazer backtracking e, caso você não memorize ou anote os locais que necessitam que você volte para progredir naquele ponto, você pode perder um bom tempo dando voltas desnecessárias no mapa. Durante meu jogo eu tirei vantagem da opção de screenshots do console e isso me ajudou. Além disso, as diferentes áreas do prédio poderiam ser representadas com cores diferentes, facilitando a navegação quando você já tem acesso a todo o mapa do jogo. É compreensível que o estúdio queira manter o ar de simplicidade em algumas coisas, mas em 2019 já é possível oferecer, pelo menos, uma ou duas ferramentas que auxiliem na navegação no mapa de jogo.

E não acaba por aí!

O final do jogo me revelou uma surpresa que eu sinceramente não esperava, e prefiro não contar o que é para não estragar a experiência de quem vai jogar. Como disse, o jogo conta com atividades que exigem a exploração completa do mapa para aquisição de itens para executar algumas tarefas. A principal delas está relacionada com a personagem Boxcar, que encontramos na primeira hora. A atividade envolvendo a raposa está diretamente relacionada com o final do jogo.

Além disso, outro modo de jogo também pode ser liberado. Durante a história TanTan encontra um cartucho de um protótipo de jogo da RegnantCorp. que não foi aprovado ainda por não ter passado pelo departamento de monetização. RC Roguelite Proto é um modo de jogo que permite jogar em modo semelhante ao roguelike. O famoso, jogue, morra, se fortaleça e tente outra vez. Nele, TanTan e Ola exploram um novo mapa com o objetivo de escapar do prédio da RegnantCorp. Uma adição muito boa por estender a vida do jogo e ainda proporcionar uma experiência diferente. O modo já fica disponível logo quando você adquire o item, após derrotar o segundo chefe, e pode ser acessado no menu inicial.

Modo já fica disponível assim que você coleta o cartucho no jogo

Mas afinal, vale a pena?

SuperEpic: The Entertainment War despertou meu interesse, primeiramente, pela arte e pelo gênero metroidvania, que gosto bastante. A trilha sonora cativante, as referências e a jogabilidade completam a experiência, tornando o jogo bastante divertido. As atividades extras para completar 100% do mapa e o modo extra de jogo suprem o gosto de “quero mais” que o título deixa no final, e é uma excelente, podemos dizer épica, adição para o gênero que foi abraçado pelo cenário independente.

Além disso, tomamos pequenos choques de realidade da história com a crítica que é feita com as grandes desenvolvedoras, que muitas vezes se mostram mais interessadas em fazer um jogo que vai arrancar nosso dinheiro do que criar uma experiência que vai nos divertir e merecer nosso investimento. Todos jogamos jogos ruins e até nos divertimos com eles, principalmente nos smartphones. Uma banalidade para ocuparmos nosso tempo livre. Felizmente, SuperEpic não é um deles.


Prós

  • Arte e trilha sonora cativantes;
  • Jogabilidade simples e agradável;
  • História faz crítica a um tema contemporâneo;
  • Interação com smartphone é um diferencial;
  • Mapa de jogo imenso;
  • Referências e piadas nos momentos certos da narrativa;
  • Jogo possui um final alternativo;
  • RC Roguelite Proto adiciona um ótimo fator de replay.

Contras

  • Gestão de inventário praticamente não existe;
  • Navegação complicada após revelar muito do mapa;
  • Interface de compra de itens com informações dispersas.
SuperEpic: The Entertainmet War – PC/PS4/XBO/Switch – Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PS4
Análise produzida com cópia digital cedida pela Numskull Games.
Revisão: Farley Santos 


Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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