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Análise: Code Vein (Multi) mescla soulslike e anime em uma aventura surpreendente

Título da Bandai Namco se destaca por suas batalhas contra chefes e variedade de opções de customização e estilos de jogo.


Code Vein (Multi) é um novo título da Bandai Namco que mistura elementos do subgênero "Soulslike" com uma estética de anime. Ele oferece uma visão diferente sobre a existência de vampiros por meio de uma história que, embora demore um pouco para engrenar, possui seus momentos de brilhantismo.

A existência das Aparições


Após o mundo sofrer um grande colapso, cujas causas são incertas, a humanidade se vê no limite de sua existência. Monstros vagam o mundo e o tornam perigoso para quem nele vive. Para combatê-las, cientistas criam as Aparições, seres humanos ressuscitados a partir do implante de um parasita geneticamente preparado no coração da pessoa. Esse parasita a ressuscita e dá poderes de regeneração e habilidades especiais, elevando os sentidos e tornando o hospedeiro um ser imortal de grande poder.

A morte de uma Aparição faz com que ela perca parte de sua memória. Conforme ressuscita múltiplas vezes, suas memórias se tornam cada vez mais fragmentadas. Apesar das capacidades regenerativas e de serem chamadas de imortais, as Aparições podem ser mortas de duas formas: ataque direto ao coração ou por meio de frenesi (um estado que aparece ao deixar de consumir sangue por muito tempo ou ao respirar a toxicidade do mundo, composta pelo miasma, que são partículas deixadas pelos corpos mortos dos Perdidos e que, quando inaladas, aceleram o frenesi). Neste último caso, após o frenesi, a Aparição se torna um Perdido, os monstros que vagam pelo mundo de Code Vein.



É importante ressaltar esses pontos acima sobre o mundo e personagens de Code Vein. Há muito que desvendar e entender conforme a jogatina se desenrola, e é difícil explicar a história do título sem explicar ao menos alguns dos conceitos básicos de seu universo.

A história se desenrola de maneira relativamente satisfatória. O protagonista, criado pelo jogador em um robusto sistema de criação, é uma Aparição especial. Sem nenhuma memória de seu passado, ele descobre que seu sangue possui capacidade de regenerar as fontes de sangue espalhadas pelo mundo. Essas fontes fornecem Cristais de Sangue, que saciam a sede das Aparições por dois meses e evitam a necessidade do consumo de sangue humano.

A missão inicial do jogador é regenerar as fontes de sangue mas, conforme progride, protagonista e outros personagens aliados se veem unidos por um mistério e objetivo maiores. Não tem como explicar de forma mais clara sem dar spoilers importantes da trama.

Os personagens em Code Vein possuem seus motivos para estarem ali e estão, de certa forma, interligados com a história principal. Para desvendar seus passados e entender essa ligação, o jogador deve regenerar Vestígios, cristais vermelhos que contêm memórias de seu ser e que surgem quando Aparições e Perdidos morrem. Com a ajuda de Io, uma das aliadas do jogador e primeira pessoa a ajudá-lo no início da história, o protagonista regenera e absorve as memórias dos Vestígios, herdando as memórias ali presentes.

Embora o mundo e os personagens sejam bastante interessantes e a história explore de forma única a existência de criaturas vampíricas, Code Vein deixa a desejar ao entregar um protagonista mudo. Isso se torna um defeito ainda mais aparente dado seu papel fundamental no desenrolar da trama. Teria sido de grande valia ter um personagem bem estabelecido, com personalidade desenvolvida e participação ativa nos diálogos, indo além de suas ações e eventuais "sim e não" que faz com movimentos da cabeça.

Os Códigos de Sangue


O combate de Code Vein é reminiscente da série Dark Souls, da From Software, com dificuldade elevada e a exigência de cautela e precisão nas batalhas. Ainda assim, oferece suas próprias nuances embasadas em seu mundo.

As Aparições possuem Códigos de Sangue, que podem ser entendidos como as classes do jogo. Cada Código confere poderes especiais chamados Dádivas, sendo estas passivas ou ativas e de efeitos diversos. Derrotar Perdidos, coletar Vestígios e conversar com aliados permite que o jogador desbloqueie novos Códigos de Sangue e os use de forma livre. Essa é uma característica única do protagonista (cada Aparição é limitada a um Código).

Os Códigos de Sangue modificam de forma ativa o estilo do jogador ao modificar  características básicas como Pontos de Vida, Vigor, Inteligência, Destreza, dentre outros. Essas características têm influência direta no uso das armas e Dádivas. Há Códigos específicos para combate corpo a corpo e agressividade, bem como para agilidade e foco especial em magias.



Ao derrotar inimigos, o jogador coleta brumas de sangue, que podem ser usadas nos pontos de descanso para fazer melhorias nos Códigos e adquirir novos poderes. É possível equipar quatro Dádivas passivas e oito ativas, dando bastante liberdade de personalização. A grande variedade de Códigos de Sangue e Dádivas preza pela experimentação por parte do jogador, para que ele possa descobrir e montar seu conjunto ideal de habilidades. Abarcar diferentes estilos e balancear bem as características básicas é um ponto forte do título.

O combate de Code Vein tem velocidade balanceada. Há inimigos com ataques rápidos e ferozes, bem como oponentes com ataques fortes, pesados e esmagadores. Por parte do jogador, sua agilidade ficará por conta do tipo de arma que estiver usando. Machados e espadas de duas mãos, por exemplo, gastam mais vigor e desferem golpes mais lentos, porém de alto dano. É possível se adaptar em diversas situações, embora todas as armas possam ser usadas a todo mundo. Além disso, combinar ataques físicos com as múltiplas dádivas disponíveis torna o combate ainda mais variado. Cabe ao jogador decidir a que casa melhor com seu estilo de jogo.

O uso das brumas de sangue


Como mencionado, derrotar inimigos concede brumas de sangue. Essa é a moeda do jogo, e assim como serve na aquisição de poderes especiais, também é utilizada para para subir o personagem de nível, melhorar armas e equipamentos e comprar itens.

A cada nível adquirido, as características mais básicas do jogador são melhoradas, sendo elas Pontos de Vida, Vigor e poder de ataque. As outras características ficam restritas às modificações conferidas pelos Códigos de Sangue e Véus de Sangue (vestimentas/equipamentos de defesa). É uma forma interessante se exigir estratégia e adaptação por parte do jogador, já que ele só poderá compensar suas deficiências ao criar conjuntos diferentes de Códigos, Véus de Sangue e armas.



Subir de nível vai ficando mais caro conforme o jogador evolui. Como não é possível guardar brumas, é preciso se arriscar nos cenários para aumentar a quantia acumulada caso o objetivo seja ficar mais forte. Porém, assim como na série Souls, se o jogador morrer, perderá suas brumas, que ficarão no local de sua morte. Caso morra sem recuperá-las, a perda se torna permanente. Como alternativa, ao invés de buscá-las, o jogador pode utilizar a fonte termal na Base para sacrificar metade das brumas perdidas e recuperar a outra metade sem ter de correr o risco de morrer no caminho.

Para combater os Perdidos, o jogador conta com espadas de uma mão, alabardas, baionetas, machados, martelos, dentre outros tipos de armas de combate físico. É preciso levar em conta não apenas o poder de ataque de cada uma, mas seu tipo de dano e a mobilidade do personagem ao utilizar uma arma específica. Tudo isso influencia na eficiência durante os combates.

Ao coletar itens especiais, é possível aumentar o nível das armas e Véus de Sangue, maximizando seus poderes ataque e suas resistências, respectivamente. É importante estar atento às resistências, inclusive, visto que os inimigos podem causar danos específicos, como fogo, gelo e veneno. A necessidade de se adaptar perante situações e inimigos confere um senso de estratégia interessante ao título.

Para tentar aumentar o tempo de jogabilidade, Code Vein conta com dungeons chamadas Profundezas. Para acessá-las, basta encontrar mapas especiais e entregar ao personagem Davis, na Base. Infelizmente as Profundezas nada mais são do que desafios que repetem monstros e chefes enfrentados na história principal. São uma boa forma de conseguir itens específicos e brumas de sangue, mas nada além disso.

Os Grandes Perdidos


As melhores batalhas de Code Vein são contra os chamados Grandes Perdidos, os chefes do jogo. Cada batalha é única, oferece desafios acentuados e exige paciência, estratégia e perseverança do jogador. A grande vantagem dos chefes fica por conta de serem inimigos totalmente únicos, não sendo apenas uma "versão parruda" de monstros comuns encontrados durante o jogo.



Code Vein oferece a opção de ter aliados no campo de batalha. É uma opção viável para aqueles que não querem jogar online mas também precisam de uma mãozinha durante os combates. A presença de um aliado em campo faz com que os monstros, inclusive os chefes, foquem no personagem controlado pela inteligência artificial, o que dá uma boa margem para o jogador respirar, usar itens de cura e planejar seus movimentos. Além disso, o companheiro pode impedir a morte do protagonista quando sua saúde chega a zero ao sacrificar parte de seus pontos de vida.

"Inimigos" técnicos


Visualmente falando, Code Vein é um título bastante agradável. Particularmente, é um dos poucos jogos distribuídos pela Bandai Namco que considero ter os visuais dos cenários bem trabalhados e que de fato parecem pertencer à atual geração de consoles, com texturas de boa qualidade e efeitos de iluminação bastante competentes (embora alguns cenários pareçam "brilhar demais", como a Catedral de Sangue). Mesmo que traga boa variedade de cenários, é inegável que alguns inimigos parecem se repetir à exaustão. Ainda assim, é um detalhe que pode ser deixado para trás dada a qualidade das batalhas.



Em questão de desempenho, Code Vein sofre bastante. O jogo oferece uma taxa de frames por segundo que mira 60 quadros, mas dificilmente consegue mantê-la. Isso fica nítido em cenários mais apertados, como corredores e cavernas, e sendo eles recorrentes, as quedas de fps são constantes. Além de constantes, são bruscas e evidentes, a ponto de causar distração por parte do jogador. Teria sido melhor almejar maior estabilidade em 30 quadros por segundo.

Ainda sobre os corredores apertados, é preciso elucidar outro problema de Code Vein: sua câmera. O jogo insiste em colocar inimigos de grande porte em locais apertados, fazendo com que tampem completamente a câmera e o campo de visão do jogador. Travar a mira em um monstro específico, nesses momentos, é pedir para sofrer ainda mais. A solução, parcial, é derrotar os monstros em câmera livre.

Qualidades que sobressaem aos defeitos


Code Vein (Multi) é uma das maiores surpresas que tive em 2019. O título oferece possibilidades variadas de customização para diferentes estilos de jogo, bem como combates excelentes e batalhas contra chefes desafiadoras e únicas. A história demora um pouquinho para engrenar mas, quando o faz, se mostra competente e deveras interessante. Os problemas técnicos podem ser facilmente deixados de lado dada à qualidade da jogabilidade, visual e estética de anime que o título adota.

Prós

  • História de qualidade, com mundos e personagens interessantes;
  • Jogabilidade fluida e variada;
  • Diversas possibilidades de customização e estilos de jogo;
  • Batalhas contra chefes únicas e divertidas;
  • Possibilidade de ter um aliado controlado pela I.A. que ajuda em momentos de dificuldade mas não impede o game de ser desafiador;
  • Belos visuais e estética de anime.

Contras

  • Protagonista mudo não é uma boa escolha para o jogo;
  • Quedas de fps são nítidas e distraem bastante quem está jogando.
Code Vein — PS4/XBO/PC — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Xbox One

Revisão: Farley Santos
Análise produzida com cópia digital gentilmente cedida pela Bandai Namco

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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