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Análise: Call of Duty: Modern Warfare (Multi) revitaliza a franquia mas carece de cuidados ao seu multiplayer

Novo título da aclamada franquia de FPS oferece uma excelente experiência singleplayer e um multiplayer que não atinge seu potencial máximo.


Call of Duty: Modern Warfare (Multi) é uma releitura de Call of Duty 4: Modern Warfare (Multi), lançado em 2007. O título traz rostos novos e familiares para conflitos inéditos em um modo campanha visceral e um modo multiplayer que precisa urgentemente de ajustes para poder fazer jus ao legado da franquia.


Bravo Six: going dark


A história de Modern Warfare conta com momentos intensos, fortes e pesados. O jogador assume o controle de Alex, um agente da CIA cuja missão é descobrir o paradeiro de armas químicas roubadas por terroristas; e Kyle Garrick, um agente das forças britânicas SAS que está cansado de ter suas ações limitadas pelos comandos que recebe de seus superiores, cautelosos em excesso na maioria das vezes.

Ao lado de Farah Karim, líder do exército rebelde do Urziquistão, e Capitão Price, um dos principais ícones da franquia, o jogador encara missões em diversas localidades, alternando entre operações furtivas e combates abertos de pequena e grande escala. A alternância de momentos táticos e explosivos traz variedade e qualidade para a campanha, que termina de maneira satisfatória (embora falhe em conceber cenas interessantes para alguns dos protagonistas). O título deixa o caminho aberto para uma futura continuação com uma cena que mexe com os corações dos fãs da trilogia Modern Warfare clássica. O fanservice é grande e legítimo, mas bem executado e crível.



Embora dedique parte de seu tempo a mostrar atrocidades como crimes de guerra (enforcamento e assassinato de civis), ataques terroristas (tiroteios em massa e homens-bomba) e até mesmo a morte de crianças e mulheres, o título da Infinity Ward não lança mão de elementos visuais grotescos, como mutilação e desfiguração, tornando a violência visualmente tolerável, mas ainda assim bastante incômoda e real. É importante ressaltar que títulos anteriores já trouxeram cenas visualmente viscerais. No geral, Modern Warfare trabalha bem seus temas, sem tornar a violência do título algo gratuito.

Outro detalhe que reforça o bom trabalho dos desenvolvedores são os questionamentos levantados por Kyle e Farah. Kyle quer "retirar as luvas" e fazer o trabalho da maneira mais correta possível para salvar vidas (um exemplo: atirar primeiro ao invés de ter que esperar alguma ação do inimigo para efetuar o primeiro disparo); já Farah se recusa a adotar métodos de "assassinato" em massa. Ela poderia muito bem utilizar armas químicas contra os terroristas do grupo Al-Qatala e o exército russo, mas sabe que se fizer isso será uma pessoa tão ruim quanto seus inimigos.

Price, por outro lado, é um personagem que sabe qual o caminho certo e que deseja praticar o bem e proteger o mundo de ameaças maiores, mas que não hesita em tomar decisões drásticas (e por vezes cruéis) para cumprir sua missão e salvar vidas. Isso é praticamente o seu lema: "Nós nos sujamos e o mundo permanece limpo. Essa é a missão.".



Um multiplayer carente de atenção e melhoria

O principal motivo para a maioria dos fãs adquirir o Call of Duty do ano é o seu modo multiplayer, que evoluiu com o passar dos anos mas manteve sua essência presente nos tiroteios intensos e movimentação frenética em partidas rápidas e divertidas. Modern Warfare, ainda que traga parte desses elementos, parece um recomeço quase completo para a franquia.

O título oferece uma variedade básica de modos de jogo, indo de clássicos como Mata-mata em Equipe, Dominação e Localizar & Destruir, até novas opções como Guerra Terrestre para até 48 ou 64 jogadores e Atirador, que coloca duas duplas para se enfrentarem em pequenas arenas e com um conjunto de armas aleatório oferecido pelo jogo.



A implementação de mapas nos modos é um dos pontos que precisam de atenção em MW. Ao todo, o jogador tem a disposição 23 mapas, dos quais: 4 são exclusivos para modos de 20 jogadores (10x10); 4 são mapas noturnos; 2 são para Guerra Terrestre; 7 são apenas para o modo Atirador; e 6 para modos de 12 jogadores (6x6). Essa fragmentação do número de mapas faz com que as partidas em determinados modos fiquem extremamente repetitivas e cansativas. Se o jogador opta por jogar o modo Dominação para 20 jogadores (10x10), por exemplo, ele terá apenas quatro mapas adicionados à rotação. E para piorar, o jogo não oferece votação de mapas após as partidas, sendo comum repetir o mesmo cenário vezes seguidas.

Outro ponto que merece a atenção dos desenvolvedores fica por conta dos locais de renascimento. Não é incomum reaparecer ao lado de inimigos e não ter nem mesmo chance de pensar em como sobreviver.

Alguns dos mapas precisam ser melhor balanceados. No modo Mata-Mata em Equipe, por exemplo, os mapas parecem grandes demais, prejudicando a fluidez dos combates e muitas vezes fazendo com que a partida acabe por limite de tempo, e não pontuação. Dominação, por sua vez, oferece os mesmos mapas com bandeiras a serem capturadas. A maioria das bandeiras B fica em locais dificílimos de defender. Se o time não tiver foco naquele ponto, as chances de perder a partida aumentam exponencialmente.



O modo Guerra Terrestre foi retrabalhado para comportar partidas de até 64 jogadores. Infelizmente, como mencionado, oferece somente dois mapas para suas guerras em grande escala. O mapa mais recente, Tavorsk Bridge, é composto por diversos prédios, sendo o paraíso para snipers. Essa predominância de snipers e o baixíssimo TTK (tempo que o personagem leva para matar/morrer) torna a experiência nesse mapa frustrante — definitivamente não casou bem com Call of Duty. No entanto, é possível dar o benefício da dúvida para essa modalidade e acreditar que algumas alterações de balanceamento possam oferecer uma experiência de jogo mais divertida.

Modern Warfare sai do design tradicional de "3 linhas" (3 lane), com mapas que oferecem áreas amplas para combate com diversas opções de caminhos entre corredores, salas, quartos; há espaço para conflitos a qualquer distância, embora haja a predominância de armas de médio e longo alcance na maioria das partidas.

Com a utilização do crossplay entre PS4, Xbox One e PC, Modern Warfare unifica a base de jogadores e melhora as chances de encontrar partidas. No entanto, ainda é possível ter certa demora para encontrar salas em momentos aleatórios. Além disso, o jogo desfaz todas as salas após cada partida, exigindo a procura de um novo lobby logo em seguida, o que não faz sentido.

Customizando o arsenal

Terminar partidas, matar inimigos, concluir desafios diários; praticamente tudo em Modern Warfare concede pontos de experiência para o jogador subir de nível e desbloquear novas opções de armas, vantagens e séries de baixas.

O título não oferece um arsenal exatamente vasto, mas conta com armas clássicas e queridas do público, como o rifle de assalto M4A1 e o rifle de atirador Kar 98k. Cada arma possui características básicas como dano, controle, precisão e mobilidade. Ao utilizá-las em batalha, as armas recebem experiência e, a cada nível, anexos são desbloqueados. Cada anexo possui qualidades e deficiências, exigindo que o jogador monte um conjunto balanceado se quiser um armamento eficiente em combate e até cinco podem ser equipados ao mesmo tempo. É importante frisar que, embora as armas possuam mais de 50 opções de acessórios, entre miras, canos, lasers e bucais, a grande maioria desses acessórios possui características bastante semelhantes, mudando apenas o visual. Ainda assim, ter essa variedade visual é muito bacana pois permite ao jogador criar uma arma com aparência única e especial.

As armas também possuem opções de pintura que são desbloqueadas conforme elas sobem de nível e desafios específicos são concluídos


Para completar o conjunto, o jogador pode escolher três vantagens (Perks) que concedem bônus passivos durante as partidas, como reabastecimento de munição em inimigos mortos e ser indetectável por sistemas de radares. É possível selecionar também uma melhoria de campo, que é ativada ao pressionar ambos os botões de ombro nos controles quando seu medidor está completo. Essas melhorias tendem a ser opções de suporte para o time, como fornecimento de caixas de munição e inserção tática.

As séries de baixa, ou killstreaks, estão de volta da maneira mais clássica possível. Selecione três opções de suportes que são liberados de acordo com o número de baixas sem morrer durante a partida. Há diversas opções, como VANTs de rastreamento, torretas automáticas, barragens de morteiro e helicópteros armados com metralhadora e mísseis.

Como novidade, o jogador pode concluir missões especiais e desbloquear versões com visuais modificados das armas disponíveis, chamadas de blueprints. Essas missões consistem em tarefas variadas, como eliminar determinado número de inimigos com um tipo de arma ou vencer partidas públicas. Conforme conclui os desafios, o jogador  desbloqueia itens de personalização como emblemas, cartões de visita e, por fim, blueprints de armas.

Jogabilidade imponente

A maior mudança sentida por mim, veterano da franquia, fica por conta da jogabilidade de Modern Warfare. Como mencionado anteriormente, o tempo para matar/morrer (TTK) no jogo é baixíssimo. Sendo assim, é fundamental que o jogador adote cautela na hora de percorrer pelos mapas. Sair correndo e atirando a esmo serve apenas para ter uma morte prematura. Além disso, em grande parte dos confrontos o tempo de reação é praticamente nulo, vencendo a batalha aquele que começar a atirar primeiro. Isso é mitigado somente em casos que o inimigo tem a pontaria ruim.



Essa facilidade de matar e morrer torna esse Call of Duty um título aparentemente mais lento e que possivelmente irá assustar tanto veteranos quanto novatos. Ainda assim, o poder de fogo das armas e o impacto de suas balas nos inimigos são características que tornam os embates bastante satisfatórios.

Preciso ressaltar, porém, que minha sensação com o título é mista e estranha. Há elementos de Call of Duty, mas a alma parece de um jogo diferente. Não obstante, diversas vezes me senti jogando Medal of Honor: Warfighter (Multi), muito por conta dessa facilidade de morrer e ritmo mais cadenciado.

Spec Ops

Modern Warfare tem o retorno do modo cooperativo Spec Ops. O modo continua a história da campanha de maneira sutil, mas eficiente. Ao todo, são quatro missões disponíveis para serem jogadas por até quatro pessoas em equipe, e elas acontecem em pequenos mundos "abertos".

O jogador pode escolher entre seis funções que concedem bônus passivos e possuem habilidades especiais únicas como fornecer armadura para a equipe, reviver todos os aliados caídos ao mesmo tempo ou utilizar um drone de reconhecimento controlado manualmente.

Infelizmente, seu desafio se baseia em colocar os jogadores contra ondas incessantes de inimigos. O respawn infinito não é o desafio ideal e, para piorar, dano e resistência dos inimigos são altíssimos.

Operadores são personagens utilizáveis nos modos multiplayer e que são desbloqueados cumprindo tarefas diversas pelo game; são opções puramente cosméticas.


Um exemplo de qualidade visual e sonora

Os visuais de Call of Duty: Modern Warfare são incríveis, desde a utilização de iluminação global de qualidade e uma belíssima implementação de feixes de luz em frestas e atravessando cortinas de poeira e fumaça. As texturas são de altíssimo nível, e os cenários são ricos em detalhes, tornando a experiência visual bastante agradável. A transição entre cenas de corte e jogabilidade mostra a qualidade dos modelos dos personagens, cujas expressões faciais e movimentação são bastante realistas. Ponto para os desenvolvedores que souberam produzir o título em um novo motor gráfico, era a evolução técnica que a franquia precisava.



Na parte sonora, MW se destaca novamente. Diferentemente de outros títulos da série, as armas agora possuem sons de disparos um pouco mais agudos, reproduzindo de forma convincente o que se escuta na vida real. Quem jogou outros títulos mais recentes da franquia sabe que era comum o uso excessivo de baixos e graves.

A atuação dos personagens é digna de ser notada, com destaque grande para Barry Sloane como Capitão Price e Claudia Doumit como Farah. Caso opte por jogar com dublagem brasileira, o jogador não irá se decepcionar. O trabalho de localização e escolha de vozes também é de grande valor.

Call of Duty: Modern Warfare (Multi) renova a vida da franquia de maneira agridoce. Sua campanha é incrível e oferece momentos e atuações memoráveis. A Infinity Ward trabalhou bem os temas delicados que propôs e criou uma história que choca mas não agride seu público. Seu modo multiplayer, o grande chamariz da série, precisa de bastante atenção no momento, principalmente no que concerne o design e rotação de mapas. São pequenos ajustes que, à medida que forem sendo feitos, tornarão a experiência mais prazerosa. Se você é novato na série, não tenha medo de aprender a combater e sobreviver; se você é veterano, olhe com carinho para o passado ao mesmo tempo que abraça essa nova fase para a série, e dê uma chance para este novo título.

Pros

  • Campanha para um jogador possui momentos intensos e grandes atuações;
  • Variedade de fases na campanha;
  • A sensação de controlar as armas e eliminar inimigos é muito boa;
  • Mudanças no multiplayer dão nova cara à franquia;
  • Visualmente e sonoramente impecável.

Contras

  • Design de mapas problemático;
  • Sistema de respawns precisa de maior cuidado;
  • Rotação de mapas precisa ser incrementada para dar maior variedade às partidas;
  • Mudanças no ritmo do jogo pode afastar alguns jogadores.
Call of Duty: Modern Warfare — PS4/XBO/PC — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Xbox One
Revisão: Farley Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Activision

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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