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Red Dead Redemption II (PS4/XBO): "Blood Feuds, Ancient and Modern" é um ode ao Velho Oeste

A missão é uma das várias que tornam o título tão grandioso, no que melhor há do gênero faroeste.


Sem ignorar as problemáticas oriundas da prática de crunch time — da qual já falamos no GameBlast —, Red Dead Redemption II (PS4/XBO), desenvolvido pela Rockstar Studios, é um inegável sucesso, seja por sua tecnologia, trilha sonora e, principalmente, enredo.


Embora o título se volte para o Velho Oeste, cuja temática seja ignorada por boa parte das novas gerações em outras obras, como livros e cinema, o script ultrapassa todos os limites, tornando-o não apenas um bom jogo de ação em terceira pessoa, como também um drama inspirador.

Antes da ruína, de fato

Todos acompanhamos o trágico declínio da Gangue Van der Linde, bem como sua dissolução e a emocionante derrocada de Arthur Morgan mas, em seu ápice, a família — um tanto torta, convenhamos — criada por Dutch se apresenta uma união poucas vezes observada e explorada no entretenimento eletrônico.
A caminho da mansão Braithwaite.


Blood Feuds, Ancient and Modern é a 15ª missão principal vinculada ao 3º Capítulo e retrata o sequestro do pequeno Jack, filho de John Marston e Abigail Roberts, por ordem de Catherine Braithwaite em razão do “golpe comercial” que sofreu da gangue de Dutch.

Embora o resgate efetivamente ocorra quando Catherine informa aos foras-da-lei que a criança fora entregue a Angelo Bronte (outro membro da alta classe fixado em Saint Denis, igualmente corrupto, racista e explorador de garotos), todo o desenrolar desta missão pode facilmente ser definida como “épica”.

Seria melhor não ter mexido com o garoto

Um dos aspectos mais interessantes de RDRII é o trabalho de dublagem e nesta missão em especial, as expressões de revolta e fúria no caso de Dutch e John, respectivamente dublados pelo trabalho fenomenal de Benjamin Byron Davis e (novamente) Rob Wiethoff —, bem como o desespero na voz de Abigail, dublada por Cali Elizabeth Moore, são tocantes.
Davis impõe tanto respeito quanto o personagem para o qual empresta a voz.


Tão impactante quanto é a imagem de praticamente todos os membros “ativos” (entendam “a força bruta da gangue”) em formação com seus cavalos indo em direção à mansão Braithwaite — sendo nada menos senão oito integrantes do bando cortando os campos à noite até chegarem em seu destino, algo lindo de se ver.

Tão logo o grupo chegue em frente à mansão, saltam de seus cavalos e seguem armados junto à entrada da mansão, uma das melhores representações do gênero nas mídias de entretenimento.

Essa cena é de tremer os ossos.


O barulho da grama pisoteada é acompanhada da canção Braithwaite Manor Battle, além da intimação de Dutch: get down here now!, seguido de um dos melhores insultos que já ouvi de todos os tempos: you inbred trash (traduzido no Brasil como “seus restos de incesto” — numa referência pejorativa à prática de casamentos entre primos para a manutenção do poder familiar.

A despeito de Dutch requisitar constantemente a John que ele mantenha a calma, cada vez que a melodia da canção intercala com notas suaves de guitarras distorcidas, à essa altura o jogador já percebeu que a intenção do grupo, além de resgatar Jack, é colocar todo o lugar abaixo.
A civilidade do Velho Oeste de acordo com a Colt.


A intenção se confirma quando o bando, cara a cara com os capatazes e família Braithwaite, é surpreendido com um disparo à queima roupa de Dutch contra um dos adversários, precedido de if you ain't gonna be civilized about this… — e é nesse instante que o jogador se vê envolto em um dos melhores e mais emocionantes tiroteios de todo o jogo.

Embora boa parte da atenção é envolta ao controle de Arthur, é possível observar que Dutch à frente do bando é um atirador destemido ao empunhar duas pistolas e utilizá-las com eficácia e precisão, não temendo a saraivada de balas disparadas pelos inimigos protegidos dentro da mansão.
Bang! Bang! You shot me down...


O tiroteio se inicia na entrada e se prolonga por dentro do imóvel durante as buscas pelo garoto sequestrado, com vários dos cômodos guarnecidos por capatazes e membros da rica família — além de vários outros membros que se aglomeram e cercam o local a fim de eliminar os membros do bando.

Outros dois pontos altos da missão são o “interrogatório” de Dutch contra Catherine, obrigando-a a informar onde estaria Jack, já que não fora encontrado na mansão e, diante da negativa da mesma quanto a informá-los, não apenas executando a sangue frio seu último filho, como arrastando-a pelos cabelos escada abaixo, ao passo que o segundo ponto é a ordem para que o bando incendeie o imóvel — ao melhor estilo Trevor Philips (Grand Theft Auto V, Multi).


Diante do massacre de seus familiares, da derrocada moral e total perda do patrimônio — mais do que as bebidas e cavalos tomados pela gangue —, finalmente Catherine informa que seus filhos enviaram Jack para Bronte, restando-lhe nada mais senão retornar para a mansão em chamas e arder até o fim com ela.

Grandes títulos ultrapassam o mero entretenimento

O sucesso da Rockstar oriunda do excelente trabalho desempenhado pela equipe, dos desenvolvedores aos artistas, dos dubladores aos roteiristas — e cada novo título lançado pela empresa há uma superação no produto final.

O resultado é tão positivo que há estágios, missões e cenários que merecem uma análise minuciosa, como fizemos há algumas semanas quando mencionamos Clean and Serene (Grand Theft Auto IV: The Lost and Damned, Multi): simples intercursos no enredo mostram-se inesquecíveis.

Revisão: Mariana Mussi S. Infanti

Mineiro, apaixonado por livros, música, filmes, discussões, Magic: The Gathering e, claro, jogos eletrônicos.
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