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Análise: Beyond: Two Souls (Multi): ação, drama e o que está além do mundo físico

Título antes exclusivo PlayStation chega ao PC e se mostra uma experiência narrativa interessante com sua belíssima direção de arte.


Desenvolvido pela Quantic Dream, Beyond: Two Souls é uma narrativa interativa envolvente. Com ação, drama e elementos sobrenaturais, a história da jovem Jodie é bastante interessante. Assim como no caso de Heavy Rain, o jogo era anteriormente disponível apenas no PS3 e no PS4, e seu lançamento no PC é uma grande oportunidade para fãs do gênero experimentar a obra.

Uma menina especial


Duas são as formas como a história de Beyond: Two Souls pode ser apreciada. Uma delas é acompanhar o crescimento de Jodie da infância até a fase adulta de forma linear. A outra segue uma ordem própria, que intercala eventos de pontos diferentes da timeline, adicionando uma camada de suspense, de construir um quebra-cabeças com as memórias da personagem.

Como tudo é guiado de forma bastante lógica, as passagens não são nada abruptas e é possível compreender bem como cada evento se encaixa na vida da personagem, o que também é facilitado por um mapa temporal que é mostrado antes de cada cena. Ao mesmo tempo, esse modelo não-linear permite que memórias importantes sejam omitidas e apresentadas posteriormente, quando revelá-las é mais interessante.


Desde que se conhece como gente, Jodie sempre esteve conectada a Aiden, um ser de outro plano da existência com poderes sobrenaturais. Cabe ao jogador alternar entre ambos os personagens para lidar com as várias situações que são apresentadas, além de realizar uma série de escolhas que podem alterar o desenvolvimento da história.

Ao contrário de Heavy Rain, que tinha um enfoque no suspense e um bom trabalho com drama familiar, Beyond: Two Souls apresenta uma narrativa muito mais centrada na ação e no indivíduo de Jodie. Ao mesmo tempo em que é um jogo, a grosso modo, sobre uma menina com poderes sobrenaturais e como ela lida com eles, também é uma história bastante pessoal sobre vários momentos de sua vida e como eles afetaram quem ela é.


Nesse sentido, é bastante interessante como existem várias versões do modelo da personagem. Não apenas criança, adolescente e adulta, mas vários cortes de cabelo e roupas. Isso contribui para a noção de que ela é uma metamorfose ambulante, uma pessoa condenada a se reinventar continuamente para lidar com as reviravoltas da vida. Até mesmo a forma como ela se movimenta pelos cenários varia de acordo com a cena, refletindo claramente aspectos emocionais da personagem.

Escolhas e sensação de determinismo


Como um título narrativo, boa parte da história é contada em cenas onde o jogador deve escolher uma opção de diálogo ou reagir a situações de quick-time event. A ação nesses momentos pode ser bem frenética, e o uso de comandos bastante simples torna a experiência bastante agradável, ao mesmo tempo em que oferece a sensação de que o jogador está efetivamente realizando aquelas ações pré-programadas.

Mas o jogo também conta com cenas em que o jogador tem liberdade para explorar os cenários, interagir com os objetos e poucas pessoas neles presentes. Assim, como no caso da aparência da protagonista, os ambientes têm uma boa diversidade, contando, por exemplo, com laboratórios, áreas desérticas e regiões cobertas de neve. Junto com as animações faciais e corporais bem executadas dos personagens, isso torna perceptível o grande cuidado da desenvolvedora com o aspecto gráfico do jogo, que de fato chama bastante a atenção.


Além disso, é possível alternar várias vezes entre Jodie e Aiden. Enquanto a primeira pode interagir com os objetos e pessoas diretamente, Aiden usualmente utiliza algum tipo de poder sobrenatural. De acordo com o contexto, ele pode empurrar ou quebrar objetos, e até mesmo entrar no corpo de alguns personagens para realizar determinadas ações.

No entanto, em termos da capacidade de escolha do jogador, Beyond: Two Souls deixa um pouco a desejar. Apesar de ser possível alterar uma série de coisas no desenvolvimento da história, existe uma forte sensação de que quase nenhuma escolha importa. Isso é bastante desagradável em uma obra narrativa, cujo foco está na agência do jogador; e o problema ainda é acentuado pela forma como o maior drama da narrativa envolve uma ação que precisa ser realizada para progredir, o que reduz profundamente o seu impacto emocional.

Uma experiência narrativa interessante


De forma geral, apesar de reduzir um pouco a sensação de que as ações do jogador são significativas, Beyond: Two Souls desenvolve uma interessante história de ação com elementos sobrenaturais. Com a possibilidade de jogar em português brasileiro, uma belíssima direção de arte e comandos simples, o título é certamente recomendado para fãs de experiências narrativas.

Prós

  • Excelente direção de arte;
  • Boa variedade de cenários e animações;
  • Comandos simples tornam a experiência mais agradável;
  • Possibilidade de jogar em português brasileiro.

Contras

  • Forma como a história é conduzida deixa uma forte sensação de que as escolhas do jogador pouco importam.
Beyond: Two Souls – PC/PS3/PS4 – Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
 Revisão: Mariana Mussi
Análise produzida com cópia digital cedida pela Quantic Dream

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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