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Análise: Heavy Rain (Multi) — um mistério clássico e envolvente chega ao PC

Clássico mistério lançado anteriormente apenas nos consoles da Sony é um título indispensável para fãs de experiências narrativas em jogos.

Para quem curte experiências mais narrativas em jogos, certamente o nome Heavy Rain não é estranho. Desenvolvido pela Quantic Dream e lançado originalmente para PlayStation 3, o título é cultuado por sua história instigante e pela forma como as ações executadas pelo jogador tem repercussão no desenrolar da trama. Agora o jogo chega ao PC via Epic Games Store e mostra toda a sua qualidade.

O mistério do Origami Killer

Em Heavy Rain, um assassino em série tem causado pânico em uma cidade. Em dias chuvosos de outono, ele sequestra suas vítimas e poucos dias depois seus corpos aparecem com uma flor e um origami. Por conta disso ele passou a ser chamado pela polícia e pela mídia de Origami Killer.

O jogador então alterna entre quatro pessoas que estão ligadas ao caso, cada uma com seu próprio interesse e questões pessoais. Esse recurso faz com que o caso seja mais dinâmico, acrescentando outras perspectivas para o jogador. E isso acontece de forma natural, como cortes entre sequências de um filme.

Além do mistério e sua revelação ao longo do jogo, uma questão fundamental da narrativa é o apelo emocional. Enquanto jogava, me senti verdadeiramente tenso pelas situações apresentadas e desejando no mínimo resgatar a última vítima do Origami Killer, mesmo que não tivesse o melhor final possível. Em especial, essa sensação se deve à boa apresentação do drama familiar de um dos personagens, cujo desenvolvimento, apesar de breve, adicionou um peso muito pessoal ao problema e me causou forte empatia.


Outro aspecto importante para causar essa tensão é a importância das decisões do jogador. Além de alterar o desenvolvimento do enredo nas cenas, algumas escolhas podem causar impactos drásticos no final obtido. Somos jogados diante de situações moralmente ambíguas ou momentos complicados onde descuidos podem ser fatais. Agir e reagir a elas adequadamente nem sempre é uma tarefa fácil e é interessante ver as repercussões que elas têm na trama.

No controle da ação


Mais do que simplesmente escolher uma ação como usualmente aconteceria em uma visual novel, o jogador precisa executar comandos para realizá-las. A complexidade do movimento necessário varia bastante de acordo com a cena. Coisas simples são em geral associadas a um único botão ou movimento do mouse. Mas as ações também podem exigir uma combinação mais elaborada (como apertar e segurar vários botões ao mesmo tempo).

Por um lado, isso adiciona uma camada de realismo simulando parcialmente a sensação de executar as ações na vida real. Por outro, em alguns momentos, ações que seriam mais triviais em outros jogos ficam desnecessariamente complexas. Nesses casos, é fácil questionar se havia realmente necessidade de reproduzí-las dessa forma pois a complexidade adicional pouco acrescenta às cenas.


No entanto, em seus momentos de maior ação, realizar os comandos e vê-los sendo executados pelos personagens em cenas cinematográficas adiciona um fator tensão muito bem vindo. E, de forma geral, eventos que aproveitam bem a proposta de controle são mais comuns do que os que se mostram equivocados ou incômodos.

Um clássico envolvente


Em seus aspectos mais técnicos, existem alguns pequenos problemas com o jogo. Em uma cena importante na delegacia, é possível ver pessoas atravessando o corpo de uma personagem como se fossem fantasmas. Há também várias pequenas deformidades na animação facial dos personagens, em especial, na boca de alguns deles. As primeiras cenas com o detetive particular Scott Shelby, por exemplo, mostram bem isso. Mas apesar de incomodarem pontualmente, esses defeitos não são nem de longe suficientes para desvalorizar a experiência.

Algo que pode ser bem pior devido à natureza narrativa do título é a ausência de português brasileiro como uma opção de legenda e áudio. O jogo até conta com português, mas de Portugal, o que certamente não agrada tão facilmente ao público brasileiro. Particularmente, optei por jogá-lo em inglês, justamente por considerar a leitura dessa outra versão da nossa língua um tanto incômoda.

Caso a falta de português brasileiro não seja um empecilho, o jogo apresenta um excelente mistério, com boas reviravoltas e diversos possíveis resultados dependendo das ações do jogador. Além disso, seu gameplay faz um interessante experimento de imersão, com comandos que emulam a realização das tarefas na vida real e foram adaptados de forma razoável para teclado e mouse. Um título indispensável para quem gosta de jogos narrativos e ainda não teve a oportunidade de jogá-lo em suas versões anteriores.

Prós

  • História instigante e com forte apelo emocional;
  • Narrativa tem interessantes ramificações de acordo com as ações do jogador;
  • Em seus melhores momentos, o gameplay é bastante imersivo.

Contras

  • Gameplay é, em alguns momentos, desnecessariamente complicado para realizar ações simples;
  • Falta de legendas em português do Brasil;
  • Pequenos detalhes na animação dos personagens são um pouco estranhos.
Heavy Rain – PC/PS3/PS4 – Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Análise produzida com cópia digital cedida pela Quantic Dream

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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