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Análise: Date A Live: Rio Reincarnation (PC/PS4) é uma interessante coletânea de visual novels de harém

Jogo que inclui todas as visual novels baseadas na série Date A Live é uma excelente pedida para fãs de animes de harém.

Com character design de Tsunako (Hyperdimension Neptunia) e história original de Koushi Tachibana, Date A Live é uma franquia que foi iniciada como uma série de light novels de harém no Japão. Posteriormente houve a adaptação dela em anime e em jogos do gênero visual novel. Date A Live: Rio Reincarnation é uma coletânea que reúne todos os jogos da série lançados até o momento.


São ao todo três visual novels: Rinne Utopia, Arusu Install e Rio Reincarnation. Apesar das duas primeiras serem basicamente isoladas, a terceira retoma a história de ambas, funcionando efetivamente como uma conclusão. Esse pacote certamente agradará aos fãs da série, mas será ele bom para outros jogadores?

As três histórias


Date A Live é uma série de harém em que o protagonista precisa ir a encontros com garotas espíritos. Vindas de outra dimensão e com poderes além da compreensão humana, elas podem causar grandes catástrofes no mundo. Há apenas duas formas de detê-las: matando-as ou harmonizando suas emoções através de encontros românticos.

Após o final dos eventos que são apresentados na primeira temporada do anime, acontece o primeiro jogo da trilogia: Rinne Utopia. Após um incidente, Shido descobre que as espíritos com quem já havia lidado antes estão instáveis e é necessário sair em encontros com elas para poder evitar uma catástrofe. Além disso, pequenos detalhes do seu cotidiano parecem diferentes do normal. Será que alguma coisa está acontecendo na cidade?

Cabe ao jogador então realizar encontros com as garotas. Na primeira vez, o jogador pode aproveitar eventos com Tohka, Origami e Yoshino. Depois, são liberadas Kotori e Kurumi. E por fim, ao concluir as rotas de todas as personagens, é possível realizar a rota verdadeira. Apesar de existir uma razão no roteiro para que isso seja feito, a conclusão é profundamente óbvia e ficar preso sem poder avançar a história corretamente é bastante incômodo.


Cada uma das garotas tem seu próprio estilo e são carismáticas, mas suas rotas são superficiais e pouco interessantes. As situações são típicas, com raras exceções, e existem algumas versões diferentes dos mesmos eventos, mas elas não adicionam absolutamente nada ao jogo. Ao contrário da rota verdadeira que é bem executada, existe uma forte sensação de que aqueles eventos não tem muito valor, com raras exceções usualmente no final das rotas das personagens.

Felizmente, apesar de seguir o mesmo padrão, Arusu Install já é uma experiência mais interessante. Boa parte dos eventos tem um aspecto cômico bem trabalhado, utilizando-se de clichês e histórias comuns do gênero como uma forma de paródia. A história se passa em um mundo virtual chamado “My Little Shido 2”, após a segunda temporada do anime.

Com isso as irmãs Kaguya e Yuzuru e a idol Miku também se juntam ao grupo de garotas apaixonadas pelo protagonista. Além delas, duas misteriosas novas garotas aparecem. Ambas se chamam “Arusu” e têm uma aparência similar. Curiosamente, graças ao tom mais leve, passar pela história de todas as personagens para alcançar o final verdadeiro consegue ser menos incômodo em Arusu Install, mesmo tendo mais garotas.

No entanto, é bom deixar claro também que o jogo também passou a ter cenas mais eróticas de uma forma geral. Então, apesar da história ter um tom que combina mais com a série e aproveita melhor o seu contexto, isso pode ser um ponto um pouco negativo dele. Em particular, pela sexualização de duas personagens com aparência mais infantil.

Mas em ambos os jogos, o ápice da história está em suas rotas verdadeiras, cujos finais são recheados de ação. Mesmo com um uso bastante limitado de imagens e efeitos visuais, suas cenas são empolgantes e é interessante ver Shido e as garotas enfrentando forças inimigas para voltar a uma situação de normalidade.

Por fim, Rio Reincarnation encerra com chave de ouro a história trazendo um drama forte e envolvente baseado nos finais verdadeiros dos dois jogos anteriores. Ele inclusive apresenta uma versão compacta dos eventos das duas primeiras temporadas do anime e dos jogos na forma de um Digest que curiosamente é narrado (com voz) por Shido, que em todos os jogos é um protagonista silencioso.

O título é mais curto do que os outros, com bem menos cenas, mas valoriza a co-presença de personagens e sua história é muito mais coesa e interessante. Ele também é o único dos três a não forçar o jogador a fazer outras rotas para alcançar o final verdadeiro. Sua história é simples, direta e de uma força emocional muito maior do que os outros jogos, especialmente por se construir em cima das resoluções das rotas verdadeiras dos jogos anteriores.

Uma visual novel polida tecnicamente


Mesmo para quem não teve contato com a série antes, os três jogos introduzem muito bem as personagens, suas histórias e personalidades. Com isso, é fácil aproveitar o que a trilogia tem de melhor, caso o jogador goste de obras no estilo harém, com uma comédia bem trabalhada no segundo jogo e um drama que conclui bem a história.

De forma geral, também é possível dizer que a Idea Factory International fez um trabalho muito bom de tradução, sendo raros os casos em que notei problemas. Nos que encontrei, além de bobos erros de digitação, estavam alguns em que o personagem a quem a fala deveria se referir foi trocado por outro, o que é perceptível pelo contexto da fala.

É interessante também que cada uma das garotas principais tem seu nome de uma cor na caixa de texto, facilitando a identificação para quem ainda não as conhece. Essa escolha combina com as cores do character design, sendo bastante intuitiva e uma boa solução. Já personagens secundários, como o amigo Tonomachi ou a professora Tama-chan, não tem esse privilégio, mas é possível ativar eventos com eles também no mapa caso o jogador queira conversar mais com eles.

A arte colorida e chamativa da artista Tsunako também ganha bastante vida no jogo graças a pequenas animações parciais, seja na respiração dos personagens nas cenas comuns ou em alguns movimentos (principalmente os sexualizados) presentes nas cenas mais elaboradas (CGs). A trilha também é bem utilizada, mas, ao contrário da arte, não chama atenção. Inclusive, é notável a retirada das canções de abertura e encerramento do jogo, que originalmente tinham vocais. No caso do encerramento há uma boa escolha de música de substituição, mas a nova abertura instrumental é uma péssima entrada.


Como conteúdo extra, o jogo também apresenta três histórias escritas pelo autor original e artbooks com as personagens na galeria, adicionando ainda mais valor para fãs da série. No entanto, assim como no caso dos jogos é bom seguir a ordem correta para evitar spoilers e aproveitar mais a experiência.

Um bom pacote de visual novels de harém


De forma geral, apesar do seu enredo ter altos e baixos e de seus melhores momentos estarem presos sob a condição de que o jogador explore todas as rotas, Date A Live: Rio Reincarnation é uma excelente pedida para fãs de animes de harém. Esse é o público que melhor irá aproveitar as cenas de fanservice e comédia apresentadas.

Mas apesar de tentar se esforçar para trazer muito conteúdo com cada uma das personagens, é curioso notar que o terceiro jogo de seu pacote dá pistas de algo mais sério e inspirado que poderia se tornar mais acessível e interessante para um público maior. Seu roteiro dramático, apesar de mais linear, é mais envolvente e bem escrito.
Para quem curte visual novels do estilo ou animes de harém, a obra apresenta bastante conteúdo. Mas dificilmente será atrativa fora desse círculo, especialmente por propor a exaustão do valor do seu roteiro sem agregar novos conhecimentos a cada nova rota apresentada ao invés de propiciar ao jogador alcançar a rota verdadeira no seu próprio ritmo.

Prós

  • Pacote com três visual novels oferece bastante conteúdo;
  • Artes de Tsunako são chamativas e apresentam belas animações parciais em alguns momentos;
  • Conclusão dramática em Rio Reincarnation bem escrita e cativante;
  • Alguns momentos de comédia bastante engraçados, em especial em Arusu Install;
  • Clímax de ação nas rotas verdadeiras proporcionam momentos empolgantes;
  • De forma geral, apresenta uma boa tradução.

Contras

  • Força o jogador a passar por todas as rotas para obter os finais verdadeiros de cada jogo exceto Rio Reincarnation;
  • Sexualização de duas personagens com aparência muito infantil;
  • Alguns erros de tradução;
  • Corte das músicas com vocal, em especial, a abertura.
Date A Live: Rio Reincarnation –  PC/PS4 – Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Raphael Barbosa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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