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Análise: The Padre (PC) é uma tímida aventura cheia de tensão, monotonia e criatividade

Desenvolvido pela Shotgun with Glitters, The Padre faz um uso criativo dos bloquinhos ao estilo Minecraft.

The Padre (PC) é um jogo peculiar que mostra como é possível aproveitar uma linguagem visual já batida para desenvolver jogos criativos. Desde o lançamento oficial de Minecraft (Multi), a onda dos gráficos cúbicos bombou na indústria de games, fazendo com que inúmeros jogos independentes fossem lançados com esse estilo visual. Mas a maioria acabou se baseando demais em Minecraft para isso, fazendo com que todos parecessem apenas “mais do mesmo.


Porém, o game lançado em abril de 2019 pode ser considerado um ponto fora da curva. Isso porque, mesmo utilizando a linguagem visual de cubinhos que ficou muito conhecida em jogos sandbox de sobrevivência, The Padre é um jogo de puzzles e suspense, com visão isométrica e teor bem sombrio. Mesmo que o jogo não seja exatamente cativante, sua criatividade e inteligência pode agradar bastante.


O exorcista com uma missão

A história de The Padre nos coloca na pele de Sandro, um padre exorcista que tem como missão encontrar seu mestre e tutor desaparecido, o cardeal Benedictus. Assim, suas investigações acabam guiando-o para uma mansão supostamente vazia onde seu antigo mestre investigava casos sobrenaturais. E é exatamente aí que o jogo de fato começa.

A narrativa em si é interessante, com uma relação ambígua do protagonista com seu mestre, mostrando que eles não eram exatamente amigos e sua tutoria não foi exatamente saudável. Ao mesmo tempo, tanto os textos quanto os elementos da história oscilam entre terror, suspense e comédia, com algumas boas risadas podendo surgir entre um diálogo e outro.



O jogo é claramente cheio de referências a jogos clássicos de survival horror, como a franquia Alone in the Dark, Dracula e os primeiros games de Resident Evil. Desde a voz de Sandro, claramente forçada, até às paletas de cores do cenário (que lembram bastante Alone in the Dark), tudo no jogo faz referência à estes jogos antigos, mas com um tom de sarcasmo muito bom, que faz desta uma experiência diferente do que experimentamos no final dos anos 1990.

Visual criativo e caricato

Como falamos anteriormente, o visual de The Padre foi um dos seus elementos que mais me chamou a atenção durante sua análise. Isso por conta da combinação bastante criativa do estilo de “cubinhos” conhecido como voxel com uma paleta de cores quente e sombria, além de uma câmera isométrica que muito agrada durante a jogatina. 



A iluminação é sempre um dos atrativos por se diferenciar bastante de outros jogos em voxel que conhecemos, mas não tornar o jogo demasiadamente pesado. Ele funciona muito bem em PCs medianos e isso é ótimo para a proposta. Além disso, o fato de ser um jogo de terror e suspense todo com personagens em cubos dá um balanço quase contraditório para o jogador.

Isso tem seu lado positivo, mas também carrega pontos negativos. Isso porque enquanto a diferenciação entre a linguagem estética do jogo e seu gênero dão a ele uma cara quase única e bem criativa, essa contradição entre elementos narrativos impede o jogo de ser verdadeiramente aterrorizante ou causar minimamente terror nos jogadores.



Assim, mesmo que se espelhe em clássicos como Alone in the Dark (Multi), The Padre não chega nem perto de causar a tensão que estes games antigos causavam, ainda mais em pleno 2019. Mas isso não faz dele um jogo ruim, só o joga para a categoria “mediano”, pois não cumpre exatamente um dos principais objetivos que seu gênero pede.

Controles simples demais

Os comandos do jogo são todos baseados na visão isométrica, como falamos anteriormente. Entretanto, estes são demasiadamente simples, o que acaba por tornar a experiência casual demais. Boa parte das interações são feitas através do mouse, enquanto que a movimentação da câmera pode ser feita através dos direcionais em alguns ambientes. Porém, o controle pelo mouse não é muito bem ajustado.



Isso não é um problema quando estamos procurando elementos para interação no cenário, mas acaba se tornando bastante incômodo em momentos de combate contra inimigos diversos ou contra armadilhas e inimigos que flutuam ou voam pelo cenário. Assim, nos momentos de maior tensão do jogo, temos uma experiência que não chega a ser frustrante, mas que não alcança o patamar de “agradável”.

Enigmas criativos

Para compensar os controles não tão bem ajustados, temos como melhor característica do jogo seus enigmas. Estes são bem pensados para seres instintivos e relativamente fáceis de serem resolvidos por aqueles que prestam atenção nas dicas que o próprio jogo dá através de falas de Sandro enquanto ele pensa alto, bilhetes espalhados pelos cômodos da mansão entre outras coisas.



Infelizmente, os enigmas por si só não se tornam um elemento tão instigante para que os jogadores se mantenham engajados jogando The Padre por muito tempo. Mas isso não torna esse elemento do jogo ruim, na verdade, é um dos melhores momentos da experiência de jogar The Padre.

Um meio termo em vários sentidos

The Padre (PC) está bem longe de ser um jogo excepcional. Mas também não podemos dizer que ele é ruim ou péssimo. Sua proposta é muito criativa e quase única, com uma combinação estética que não se vê todo dia por aí. Além disso, sua história é divertida e a jogatina nos dá de bandeja uma quantidade interessante de referências a games de survival horror clássicos.



Entretanto, com tantos elementos contraditórios como humor e terror, visual sombrio e em voxel, puzzles inteligentes e comandos simples demais; temos em mãos um jogo que não é nem um pouco frustrante, mas também não é suficientemente gratificante para manter o jogador engajado em jogá-lo até o fim. Um meio termo entre vários elementos que dá uma experiência mediana, porém sólida, ao jogador.

Prós

  • Boa trilha sonora;
  • Visual em voxel usado de forma criativa;
  • Ambientação interessante;
  • Enigmas bem pensados e com bom nível de desafio;
  • Narrativa divertida, mesmo que contraditória.

Contras

  • Combates confusos em alguns momentos;
  • Contradição entre horror e visual voxel impede o sentimento de tensão;
  • Enigmas não são tão instigantes para manter o jogador engajado;
  • Layout dos menus muito cru;
  • Controles simples acabam atrapalhando a experiência.
The Padre - PC/Switch - Nota: 5.0
Análise produzida com cópia digital cedida pela Feardemic. 

Gilson Peres é Psicólogo e Mestre em Comunicação pela UFJF. Está no Blast desde 2014 e começou sua vida gamer bem cedo no NES. Atualmente divide seu tempo entre games de sobrevivência e a realidade virtual.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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