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Análise: Rage 2 (Multi) - muita ação e pouca beleza no geral

Novo título publicado pela Bethesda compensa mais pela jogabilidade simples, divertida e variada do que por sua história ou gráficos que deixam a desejar.

em 29/05/2019

Rage 2 (Multi) é a continuação numerada do jogo homônimo de 2011. Desenvolvido em conjunto pelas produtoras ID Software e Avalanche Studios, o título mistura um vasto mundo aberto com tiroteios frenéticos, velozes e violentos.


Contra a Autoridade

Rage 2 se passa no ano 2165, 30 anos após o título anterior. Com a ajuda dos satélites Ecopods, a humanidade conseguiu transformar a aridez desértica das terras devastadas do planeta em novos biomas, dando vida às regiões e proporcionando o nascimento de tundras, florestas e pântanos. Com esse “renascimento” da natureza, por assim dizer, novas sociedades começam a surgir, e um princípio de ordem começa a se estabelecer.

O exército conhecido como Autoridade não compactua com o ressurgimento da humanidade, e seu general Cross, uma mistura de ser humano e máquina, visa a extinção da raça humana e o domínio de seus soldados sob as terras do Ermo. Como principal linha de defesa, o jogador assume o papel de Walker, único soldado de elite restante dos Rangers e o último capaz de restaurar o Projeto Adaga e dar cabo aos planos da Autoridade.

Rage 2 possui uma história tão interessante quanto uma bula de remédios. Missões são repassadas através de diálogos simples e rápidos. O antagonista, General Cross, não se posta como verdadeira ameaça em momento algum, sendo chefe em batalhas extremamente fáceis.



Pelo Ermo, há a presença de diversas facções controlando pontos das regiões disponíveis para exploração. Bandidos, Exército dos Imortais, Porcos do Rio e a própria Autoridade dividem espaço no mundo de Rage 2, mas nenhum deles, com exceção do último, têm participação fundamental na história. Compõem um mundo cuja desordem está sendo combatida e representam bem, até certo ponto, o caos criado em um mundo praticamente anárquico, sendo esse seu papel máximo no título.

Mercenário nas horas vagas

O mapa de Rage 2 é dividido em várias regiões, e cada uma delas conta com diversas atividades secundárias e terciárias, indo desde missões de matança e captura de postos avançados até desativação de estações de energia e postos de reabastecimento inimigos. Todas as missões, sem exceção, são embasadas em tiroteios ferozes e explosões para todo lado.

Como instrumentos de sobrevivência e combate, o jogador tem à disposição armas comuns como rifle de assalto e pistola de repetição, e armas peculiares, como a magnum Diablo, cujos projéteis incendiários são acionados com um estalo de dedos à lá Thanos. Quase todas as armas possuem modo de tiro secundário, ativado ao segurar o botão de mira, trazendo assim maior variedade de ações para o jogador através de seu arsenal.

Como um Ranger, Walker tem acesso a habilidades especiais concedidas pelos Nanotritos, micro-organismos robóticos que aumentam as potencialidades do usuário. Essas habilidades concedem ataques devastadores e mecanismos de defesa e movimentação aprimorados, que podem ser aplicados em todas as situações de combate. Entre as habilidades disponíveis há Estilhaçar, em que Walker desfere um golpe poderoso à sua frente, arremessando o inimigo, e Enterrada, cujo dano em área é desferido através de um soco do protagonista no chão.



Uma das habilidades principais de Walker, disponível desde o início da aventura, é a Sobremarcha, que concede um aumento de dano e resistência para o protagonista, além de conferir modificações poderosas para suas armas por um curto período de tempo. É uma excelente forma de escapar da morte em situações de perigo intenso.

Todas as habilidades e armas disponíveis em Rage 2 podem ser encontradas em estruturas chamadas de Arcas pelo Ermo, exigindo que o jogador adote a exploração como tarefa principal para seu fortalecimento dentro do jogo. Cada Arca fica em um local distinto, e muitas vezes estarão bem protegidas por grupos de inimigos.

É possível aprimorar as habilidades de Nanotritos com Aceleradores de Nanotritos, conferindo melhorias definitivas aos movimentos especiais de Walker;  atributos e características das armas são aprimorados com a aplicação de Mods de Armas. Ambos os itens (Aceleradores de Nanotritos e Mods de Armas) podem ser encontrados em baús de Arca pelo Ermo, comprados de vendedores nas cidades disponíveis e ganhos ao completar missões diversas.

Concluir missões também concede dinheiro, que pode ser usado na compra de itens de cura, munição e informações sobre colecionáveis e missões secundárias espalhados pelo Ermo.

Diferentemente do título original, Rage 2 conta com um mundo completamente aberto e sem telas de carregamento. Para facilitar a locomoção pelo cenário, o jogador pode lançar mão do uso de veículos para ir de um ponto ao outro, sendo o principal chamado Fênix. O Fênix conta com armamentos pesados para combates nas estradas, e pode ser melhorado com Autopeças, ganhas em missões secundárias e compradas de vendedores.

Ainda que o controle dos veículos não seja perfeito, especialmente o das motocas, Rage 2 oferece combates explosivos e divertidos em suas estradas, criando novos momentos de ação que casam bem com as situações a pé e trazem um pouco mais de variedade para as situações de combate.



Desbloqueando projetos

Os aliados de Walker durante a aventura concedem projetos de melhorias que atuam em diferentes aspectos da jogatina, conferindo novas habilidades de exploração, combate e travessia do mapa. Lily oferece melhorias para a garagem; Marshall é focado em habilidades de matança e destruição; Loosum oferece opções para o bumerangue de ataque e localização de comboios para serem destruídos; e Dr. Kvasir é voltado para melhorias de rastreamento de baús e datapads.

Cada aliado possui um tipo de missão atribuído para si, e podem ser identificados através das cores amarela, rosa e azul. Conclui-las concede pontos de reputação e, ao completá-los, pontos de projeto e itens para melhorias são dados ao jogador.

Feltrita: material geológico encontrado no cenário e ao derrotar inimigos. Também é utilizado para desbloquear camadas de melhorias.


Como é possível perceber, Rage 2 conta com diversas formas de melhorias e ramificações de habilidades, dando grande ênfase à exploração e conclusão de missões pelo Ermo. Ainda assim, a quantidade diferente de formas de melhorar habilidades é alta e pode causar confusão em certos momentos. O ideal seria a presença de um sistema mais homogêneo e bem organizado.

Além de contar com sistemas de melhorias excessivamente confusos, o game não oferece uma necessidade intrínseca de se melhorar atributos fundamentais como Saúde, Sobremarcha e Dano de Armas. Todos estes podem ser aprimorados através do Ciberdoutor, na cidade de Sorvedouro. Em 13 horas de jogo, fiz apenas uma melhoria de saúde (100 para 105 pontos), e em nenhum momento me senti em desvantagem. Nem mesmo nos confrontos finais.

Tecnicamente nheeeee

Na parte técnica, Rage 2 não se destaca em quase nenhum aspecto. Embora conte com uma variedade interessante de biomas, com diversos elementos compondo os cenários e enriquecendo conteúdo geral, o visual sofre com uma resolução abaixo do esperado. Ou ao menos é a impressão que fica.

As produtoras optaram por oferecer opções distintas nos consoles. PS4 e Xbox One contam com resolução em 1080p e rodando a 30 quadros por segundo; PS4 Pro e Xbox One X contam com a mesma resolução, mas rodam a 60 quadros por segundo. A versão analisada, no Xbox One X, não apresenta problemas de quedas ou slowdowns na grande maioria das situações, exigindo um grande número de explosões e elementos em tela ao mesmo tempo para o desempenho sofra com quedas rápidas de fps. Aconteceu duas vezes em 13 horas de jogo.

A resolução, por outro lado, não parece ser a mesma descrita pela produtora. Os cenários e objetos são renderizados com um aspecto embaçado, além de contar com bordas serrilhadas em diversos elementos. Arbustos pelas estradas são um ótimo exemplo, contando com uma borda “esbranquiçada” quando vistos à distância. Talvez seja somente impressão, como também pode ser uma resolução menor do que a divulgada. E sobre a imagem mais embaçada, pode ser algo recorrente dos métodos de “anti-aliasing”/suavização de imagem aplicados.

A distância de renderização de elementos e texturas (draw distance) também sofre impacto ao se almejar 60 quadros por segundo. O pop-in de objetos e texturas é frequente, especialmente nos momentos de exploração do Ermo e seus grandes cenários abertos. Sombras são geradas somente quando o jogador está muito próximo. No fim das contas, entendo que tudo isso são “firulas” e detalhes muito técnicos, e que provavelmente não irão afetar a todos os jogadores. Mas, para os mais atentos e/ou exigentes, são detalhes que quebram bastante a imersão.

Rage 2 (Multi) é um jogo curioso. Possui tiroteios de qualidade, diversas armas e habilidades para serem usadas no Ermo e controles responsivos e intuitivos. Peca por oferecer uma história abaixo da média e um sistema de melhorias bagunçado. Conta com desempeno de quadros por segundo excelente, mas oferece visuais abaixo do ideal para um título AAA. No geral, o saldo é positivo graças à sua jogabilidade, mas a sensação que fica é que é um jogo “ame-o ou odeie-o”.

Prós

  • Arsenal variado;
  • Grande número de habilidades;
  • Combates frenéticos e divertidos;
  • Combates veiculares complementam a variedade da ação;
  • Biomas únicos espalhados em um mapa repleto de atividades.

Contras

  • História desinteressante;
  • Sistemas de upgrades excessivamente espalhados e confusos;
  • Visualmente mediano, com qualidade inferior à títulos AAA recentes.
Rage 2 - PS4/XBO/PC - Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Xbox One
Análise produzida com cópia digital gentilmente cedida pela Bethesda

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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