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Análise: Xenon Racer (Multi) requer precisão e muita paciência

Jogo de corrida em estilo arcade tem diversos aspectos interessantes, mas no geral merecia um cuidado melhor.

O mundo das corridas virtuais sempre teve opções para todos os gostos. Desde simuladores como Gran Turismo e Project Cars, até os mais divertidos e descompromissados, como Mario Kart. Um nicho que está órfão de um grande título há um bom tempo é o de corridas em estilo arcade, sem uma história a seguir ou mapa para desbravar. Como exemplo disso temos as séries lendárias F-Zero, WipeOut e Ridge Racer.

Xenon Racer (Multi) tem, ou pelo menos tinha, tudo para matar a saudade de quem procurava esse tipo de diversão. Porém, talvez ele ainda precise de algumas melhorias para conseguir convencer o jogador a pagar pelo seu preço, que é bem salgado (para os consoles).

Mundo futurista

O game traz um pequeno pano de fundo para justificar o mundo em que se ambienta. Estamos em 2030 e a Liga Mundial dos Protótipos (WLP) confirmou que o ano seguinte seria primeiro a ter disputas com veículos movidos por levitação magnética. Esse seria então o último torneio de modelos terrestres. Isso fez com que montadoras de diferentes lugares do mundo organizassem um torneio à parte, para focar no desenvolvimento e evolução tecnológica da modalidade tradicional. Assim nasceu o Xenon Racing Championship.

Essa pequena narrativa explica não só o ambiente, mas o visual dos veículos e seu funcionamento. O aspecto futurista nas pistas é bem trabalhado, mas sem grande detalhamento. Apesar de fictícias, estão localizadas em diversas localidades reais, como Japão, Estados Unidos, França, Canadá e Dubai.

O destaque fica por conta do design dos carros, também originais do jogo. Seu visual aerodinâmico e customizável pode parecer meio bizarro de começo, mas depois que o jogador escolher a composição que lhe agradar mais, ele fica com um aspecto bem bacana.

Porém, a diferença gráfica entre os consoles é gritante. Xbox One e PC contam com um visual mais fluído, enquanto a sensação durante a corrida no PlayStation 4 é de algo um pouco mais travado, até lembrando de leve as gerações passadas. Já a versão do Switch foi a que recebeu o downgrade mais significativo, apresentando até mesmo problemas de renderização ao longo que a corrida acontece.

Corre que os caras estão malucos!

Xenon Racer foca bastante na prática do drift para ganhar as corridas. Logo, as pistas têm curvas insanas para serem feitas em alta velocidade. Além disso, a velocidade pode ganhar uma força extra com as três barras de turbo, que podem ser preenchidas com as derrapadas ou com os pontos de boost na pista. Porém, não adianta fazer o trajeto de qualquer jeito, pois também temos uma barra de danos que quando chega a 100%, nos faz reaparecer no meio da pista e perder um tempo considerável.

Essa tarefa poderia ser simples, se a direção do carro não fosse tão sofrível. Por mais que seja uma questão de costume e adaptação com o estilo do jogo, fazer curvas às vezes requer não só habilidade, como também o dom da premonição. Pode-se usar tanto o breque normal quanto o freio de mão para fazer cada virada, só que existem momentos que o nosso bólido vira demais, a ponto de bater no muro de dentro. Outras ele simplesmente não esterça, e vai de encontro com o paredão de fora. Pelo menos a barra de turbo sempre enche, mesmo que uma esteja sendo usada no mesmo momento.

Outro fenômeno sobrenatural é o piloto à jato. Geralmente as corridas possuem três voltas e a distância do oponente mais próximo sempre é mostrada na tela. Assim é possível ter uma noção de quantos metros faltam para alcançar quem está na sua frente, ou saber da sua vantagem quando estiver na liderança.

Porém, quando estamos na ponta, o segundo colocado é possuído pelo próprio Ayrton Senna e começa a diminuir a distância de maneira absurda, independente do tamanho do espaço que nos separa. Não importa qual foi a dificuldade escolhida, na maioria das vezes o segundo colocado vai sim conseguir chegar colado em você. Entretanto, do mesmo jeito que ele vira o ás do volante quando estamos na dianteira, não é incomum também pilotos a nossa frente começarem a fazer curvas quadradas, e deixarem uma abertura enorme para passarmos.

Muitos modos, mas nem tão divertidos

Como é costume em jogos do gênero, existem vários tipos de disputas, com regras específicas. Além da corrida rápida normal, que consiste em uma prova única com um número de voltas a ser definido, existe o Modo de Borda. Na verdade trata-se apenas de um menu secundário que reúne os demais tipos de modalidades.

Nele estão a Corrida Contra o Tempo, em que temos que bater o cronômetro, o Ponto de Controle, em que temos que passar por checkpoints antes do tempo acabar, e o Eliminação, em que a cada 5 segundos o último competidor é desclassificado até que sobre apenas um. Ainda tem o modo livre, para correr descompromissadamente, e um tutorial bem simples.

Ainda existe o foco do jogo, o Xenon Racing Championship. O torneio é composto não só por corridas básicas, com uma ou mais provas, mas também de disputas com as regras dos outros modos apresentados. Tinha tudo para dar certo, mas a quantidade absurda de provas, somado aos problemas de jogabilidade, deixa tudo muito desgastante. Outro ponto negativo é que, por mais que o jogador possa escolher qual prova quer disputar, no final ele é obrigado a passar por todas.

De todos os males, o multiplayer local consegue ser um pequeno alívio. Apesar das dezenas de troféus/conquistas baseadas no modo online, temos a presença da ilustre tela dividida, que nos poupa de passar nervoso com os erros de conexão.

Funilaria e pintura

Voltando a falar dos possantes, a nossa garagem pode contar com nove veículos diferentes. Como cada um possui uma versão normal e outra de desempenho, atingimos a marca de 18 protótipos. Começamos apenas com duas versões de um carro, mas à medida que progredimos no modo torneio, mais modelos vão sendo adicionados.

Também é possível customizá-los tanto no visual quanto na performance. Modificar pintura, decalques e rodas é meramente estético. Já pneus, para-choque dianteiro, asas laterais, aerofólio e sistema de turbo influenciam diretamente nos atributos do carro, como aceleração, derrapagem, manuseio e velocidade máxima. A única coisa que não pode ser removida ou mudada são os adesivos de patrocínios fictícios, mas isso não causa mal algum.

Cada peça da garagem também é desbloqueada ao se alcançar certas posições em determinadas provas do torneio. Conseguir tudo pode ser meio cansativo, já que cada elemento de cada carro tem que ser liberado separadamente, inclusive para diferentes versões do mesmo modelo.

Pifou na largada

Xenon Racer (Multi) parecia ser o jogo certo que veio para acalentar o coração dos fãs que curtiam uma corrida mais focada na diversão. Porém, ele falhou em entregar algo proveitoso. Além disso, seu preço nos consoles é impraticável para um título que não oferece uma experiência proveitosa.

O jogo não é ruim, longe disso, mas seu potencial é muito mal explorado. Quem sabe após uma grande atualização ou, em um caso mais drástico, outro título na mesma pegada, a SOEDESCO acerte a mão. A produtora já sabe o caminho e tem bons elementos para aproveitar, só falta aprender com as falhas e dedicar um pouco mais de atenção ao ponto principal de um jogo corrida, a jogabilidade.

Prós

  • A customização é variada e divertida;
  • Visual futurista é uma escolha acertada e bem trabalhada;
  • Trilha sonora complementa a temática perfeitamente;
  • Vários modos de jogo;
  • Multiplayer em tela dividida. 

Contras

  • Fazer curvas com precisão é uma tarefa complicada e tortuosa, comprometendo completamente a jogabilidade e a diversão;
  • Os modo torneio é cansativo;
  • Com a imprecisão do manuseio, o modo Ponto de Controle, especificamente, torna-se impraticável;
  • Ter que jogar o modo online exaustivamente para liberar todos as peças dos carros torna-se uma tarefa bastante chata;
  • Inteligência Artificial que varia entre pilotos de Fórmula 1 e integrantes da Corrida Maluca;
  • Preço elevado demais nos consoles.
Xenon Racer — PC/PS4/Switch/XBO — 5.0
Versão utilizada para a análise: PS4
Análise feita com cópia digital cedida pela SOEDESCO

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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