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Análise: One Piece: World Seeker (Multi) mescla bem aventura e exploração, mas deixa a desejar em outros aspectos

Jogo de ação e aventura com mundo aberto consegue cumprir bem sua proposta, mas alguns detalhes mal trabalhados o enfraquecem.



Desenvolvido pela Ganbarion, One Piece: World Seeker surgiu com a promessa de ser um jogo ousado para a franquia. Um jogo de ação e aventura com mundo aberto implicaria em várias possibilidades de exploração. O resultado final é um bom jogo e, tendo acompanhado tudo o que foi mostrado desde seu anúncio, afirmaria que ele cumpre bem com tudo o que foi proposto. Entretanto, ele também possui algumas falhas que, de forma geral, enfraquecem a experiência.

Uma aventura filler bem executada


Em One Piece: World Seeker controlamos o protagonista da série, Luffy, em uma aventura pela Ilha Prisão, localidade original do jogo. Após a morte da sua líder, a ilha ficou completamente desorganizada. Sua população se dividiu entre aqueles que apoiavam a intervenção da Marinha na ilha (Pró-marinha) e aqueles que eram contrários (Anti-marinha). O forte atrito entre eles cresceu diariamente e a divisão social também, especialmente devido à regulação e ao controle promovido pelos marinheiros, forçando os Anti-marinha a uma vida mais miserável e permitindo o enriquecimento do outro grupo.

Eis que os Piratas do Chapéu de Palha descobrem que um grande tesouro estava na região, mais especificamente, na maior das prisões da ilha, a Prisão Aérea. O grupo tenta uma abordagem ousada, mas tudo não passava de uma armadilha de Isaac, o comandante da ilha. Após fugir, Luffy se separa da tripulação, conhece a população local e acaba se envolvendo fortemente com os moradores, especialmente a jovem Jeanne, que salvou a sua vida no início da história. Mais do que isso, o grupo acaba em uma enorme disputa de poder que envolve grupos extremamente importantes da série, como os Almirantes da Marinha, o Exército Revolucionário, a Germa 66 e a CP-0.

A história é, de forma geral, bem conduzida. Em comparação com outros animes, considero One Piece um dos melhores em contar histórias filler, ou seja, eventos adicionais que não foram pensados na obra original. Eles usualmente fazem sentido e se encaixam bem com os eventos canônicos de forma geral. World Seeker não foge à regra e conta uma boa história que apresenta novos personagens e problemas que estão sensivelmente ligados à criação de mundo de One Piece.

No entanto, a escolha de colocar na ilha personagens de peso, como os Almirantes, não foi tão boa. Obviamente, é compreensível como tática de vendas que o jogo queira apresentar faces conhecidas do público. No entanto, é um pouco forçada a presença desses personagens e as suas atitudes de forma geral, já que o conflito principal é relacionado a Isaac e às forças opostas presentes na ilha. Dessa forma, esses grandes inimigos são reduzidos a fantoches ou grupos muito isolados do que está acontecendo.

Apesar disso, em outros pontos, principalmente relacionados à tripulação de Luffy, o jogo consegue se utilizar bem da riqueza da personalidade dos mesmos. O carisma deles e seus traços mais marcantes são claramente respeitados pela história e até servem como motivação para algumas sidequests.

Um novo mundo


Como era de se esperar de um jogo de mundo aberto, é possível explorar bastante a ilha em busca de recursos e missões adicionais. Enquanto a primeira parte pode ser conseguida a qualquer momento, a segunda depende bastante do sistema de Karma. No início do jogo não é possível fazer nenhuma missão extra, elas são desbloqueadas conforme os personagens, tanto velhos conhecidos como os novos, são apresentados. A partir daí, a realização de uma série de desafios é necessária para aumentar o karma (relacionamento) de Luffy com eles e abrir novas oportunidades de missão.

As missões não fogem do típico, alternando entre buscas por itens e lutas contra inimigos. Inicialmente Luffy tem apenas ataques básicos (um combo de três golpes) e uma movimentação simplória. Conforme realiza missões, consegue pontos que pode usar para desbloquear novas habilidades a critério do que acha melhor priorizar. Isso significa que, no início, as batalhas e a exploração da ilha são um tanto penosas, mas conforme obtém os upgrades, o jogador ganha mais possibilidades.

É possível fazer o Luffy ter mais habilidade em stealth (com habilidades ligadas ao haki de observação) ou focar em uma build puramente ofensiva (com habilidades ligadas ao haki de armamento), por exemplo. Infelizmente, puro stealth é um tanto complicado devido à proximidade que o personagem precisa para atacar, mas confesso que gostei de utilizá-lo para reduzir as forças inimigas antes de enfrentá-las no corpo-a-corpo.

Habilidades defensivas como esquiva perfeita e defesa perfeita, em que é possível congelar o tempo ao apertar o botão no tempo certo, também são adições interessantes. Infelizmente a transição entre golpes e defesa/esquiva não é muito fluida, a animação de ataque dura tempo demais e a defesa/esquiva não causa um cancelamento da animação (cancel). Com isso, é provável ficar preso em um combo e tomar dano por não conseguir esquivar ou defender em tempo hábil (mesmo apertando o botão com um timing que funcionaria se houvesse o cancel).


Já no aspecto de exploração, a habilidade de Gomu Gomu no Rocket é uma forma bastante divertida de andar pelos mapas. Ela permite que Luffy use árvores e algumas quinas de objetos para voar pelos céus temporariamente. Enquanto está no ar é possível utilizá-la novamente, se mantendo no ar por mais tempo e se deslocando ainda mais pelas áreas. Apesar de também ser possível utilizar o mapa para selecionar localidades e realizar viagens rápidas, isso não elimina a utilidade do Rocket, que é um bom complemento, funcionando especialmente bem em viagens mais curtas entre lugares onde não é possível teleportar.

Há também a questão dos itens que podem ser obtidos pelo cenário. O minimapa sempre indica quando há algum próximo e há uma boa abundância deles, e o jogador pode torná-los ainda mais comuns com habilidades. Mesmo com uma exploração básica das áreas, é bem fácil conseguir os itens que são pedidos. Por outro lado, uma das coisas mais incômodas do jogo, para mim, são os tesouros. Em primeiro lugar, porque abrir um baú demanda muito tempo (mesmo com a habilidade de redução desse tempo). Entendo que tenha sido uma forma de impedir que o jogador ignore os inimigos e vá direto aos tesouros, mas é uma solução tosca e desagradável, sem servir como verdadeira fonte de tensão. Em segundo, por conta da necessidade de estar em uma posição específica para abrí-lo, algo desnecessariamente complicado em alguns locais com pouco espaço.

No entanto, mesmo com as sidequests, o mundo parece um tanto vazio de forma geral. Poucos são os personagens com quem é possível conversar e o fato de que não é possível entrar em nenhuma das casas deixa a impressão de que aqueles ambientes são artificiais. Além disso, mesmo fazendo todas as missões, é possível completar o jogo em menos de 30 horas, o que é relativamente pouco para o gênero.

Uma boa aventura com escolhas ruins

De forma geral, One Piece: World Seeker é um jogo bastante divertido. Como fã da série, achei fantástico explorar as áreas com Luffy e interagir com os personagens. No entanto, há muitas escolhas ruins que fazem com que a aventura deixe a desejar. Em especial, teria sido interessante que o jogo tivesse mais NPCs relevantes, que o funcionamento do Luffy em combate fosse mais fluído (com transições rápidas) e que a abertura dos tesouros fosse rápida.

Apesar desses detalhes, World Seeker vale a pena para fãs da série que buscam um jogo focado em exploração e é maravilhoso ver que a tradução, em português, foi muito bem feita. Raríssimas foram as vezes em que notei problemas com a tradução como termos estranhos ou expressões incomuns. Já para outros jogadores que não tem tanto contato com a série, é provável que os aspectos negativos tenham um peso maior na experiência.

Prós

  • História, de forma geral, bem executada;
  • Habilidades do Luffy adicionam boas possibilidades para exploração e combate; 
  • O texto tem uma boa tradução em português com raríssimas escolhas estranhas.

Contras

  • Mundo pouco populoso e com um tom, um pouco, artificial;
  • Uso forçado e desnecessário de personagens importantes da série;
  • Transição entre ataque e movimentos defensivos não é fluída;
  • Abrir tesouros é desnecessariamente complicado.
One Piece: World Seeker - PC/PS4/XBO - Nota:  8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Diogo Mendes
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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