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Análise: GRIS (PC/Switch) é um passeio contemplativo por uma mente fraturada

Puzzles e desafios de plataforma te esperam em um mundo surreal e relaxante.


GRIS é uma experiência nada usual. Por meio de características de plataforma e elementos visuais, o jogo nos convida a observar e contemplar cenários impressionantes e belos. Por trás de uma atmosfera de deslumbre e serenidade, há uma garota tentando superar a tristeza e a dor. Um mundo sem perigos e com puzzles simples resulta em uma aventura focada nas sensações.

Uma relaxante aventura de plataforma

No controle da garota chamada Gris, precisamos superar desafios de plataforma. A jornada começa bem simples, com trechos lineares e algumas sessões de saltos, no entanto as coisas se tornam um pouco mais complexas quando a protagonista recebe algumas habilidades que alteram seu vestido. Uma delas faz com que a vestimenta se transforme em um bloco pesado, perfeito para quebrar coisas ou impedir ser empurrado pelo vento. Já com outro poder o tecido assume a forma de asas, o que permite saltar novamente no ar e alcançar locais de difícil acesso.


Muitas dessas habilidades são postas à prova em puzzles variados. Alguns deles são focados em chegar em algum lugar complicado, já outros nos convidam a interagir com elementos dos cenários. Em um local, por exemplo, precisei usar a habilidade de transformar o vestido em bloco para alinhar plataformas e conseguir avançar. Já outra situação exigiu saltar na hora certa por um grupo de plataformas que desaparecem. Um detalhe importante é que os enigmas são bem leves e raramente apresentam grande desafio — um ou outro puzzle exige algum esforço, mas com um pouquinho de insistência a solução logo aparece.

Pode parecer desanimador, contudo ser uma experiência leve e relaxante é a real intenção de GRIS. Não há inimigos para derrotar, a heroína não morre e a frustração é baixíssima, resultando em uma aventura calma e suave. Existem alguns puzzles opcionais para aqueles que procuram maior desafio na forma de colecionáveis de difícil acesso — muitos deles eu não tenho nem a mínima ideia de como alcançar.


A beleza da melancolia

O mundo de GRIS é seu melhor aspecto por causa do belíssimo visual desenhado à mão, praticamente uma aquarela viva. A movimentação graciosa da protagonista Gris é hipnotizante, em especial seu vestido que se transforma de maneiras incríveis. O universo do jogo é repleto de localidades surreais, exóticas e muito belas: uma curiosa floresta com árvores quadradas, um deserto com ruínas metálicas, um templo que parece ser feito de estrelas, e muito mais. Gostei, especialmente, de várias partes em que Gris desliza por ladeiras: esses momentos apresentam localidades estonteantes com a protagonista se movendo com graça e beleza.

A história é comunicada unicamente pela ambientação. A aventura começa quase que completamente monocromática, porém, aos poucos, a cor retorna ao mundo — fiquei com a sensação que Gris vai superando seus medos no decorrer da jornada. Nada é claro e a trama fica em aberto, mas vários elementos visuais dão dicas do que pode de fato estar acontecendo. Um exemplo é um estranho pássaro negro, que é o maior desafio encontrado por Gris e é sempre perturbador quando ele aparece. É necessário ficar atento aos detalhes e com isso inferir o que está acontecendo de fato.


No fim, o jogo se concentra em sensações. Há um ar de melancolia na maior parte do tempo ao explorar locais belos, porém desolados, embalados por uma trilha sonora suave com composições com piano e violino que reforçam essa sensação. Esses detalhes se justificam pela premissa de uma garota presa em seu próprio mundo em face de algum fato traumático, com a palavra “gris”, cinzento em Espanhol, sendo um indicativo da atmosfera. No entanto, senti também deslumbre ao ver tanta beleza exótica e me emocionei com o desenvolvimento da protagonista. Não há uma linha de texto durante a aventura, todos esses detalhes e sensações são transmitidos pelos aspectos audiovisuais.

Mesmo assim, GRIS tem alguns momentos cansativos. Pela jornada, há situações em que a personagem somente anda pelos cenários por bastante tempo, sem nada de interessante acontecendo. O problema é que muitos desses trechos não são visualmente impactantes, resultando em partes tediosas e enfadonhas. Eu até entendo que parte da intenção é justamente contemplar e absorver a atmosfera, porém não deixa de incomodar.


Aventura delicada e memorável

Explorar GRIS é uma experiência suave e com tons contemplativos. É interessante acompanhar a mudança dos cenários conforme a protagonista supera sua tristeza — pouco a pouco a cor retorna e os ambientes ficam mais vibrantes. Boa parte do encanto do jogo vem de suas belas e surreais localidades, que são acompanhadas de puzzles e trechos de plataforma simples. Algumas partes podem ser entediantes por causa da ausência de atividades, no entanto isso vai ao encontro da proposta do jogo. Intimista e leve, GRIS oferece uma viagem delicada por inúmeros sentimentos e sensações.

Prós

  • Apresentação excepcional com visual desenhado que lembra uma aquarela em movimento;
  • Ritmo leve e descompromissado, mesmo tendo a tristeza como temática;
  • Ótimo trabalho de áudio, com trilha sonora suave e sons bem empregados.

Contras

  • Alguns momentos vazios podem se tornar enfadonhos.
GRIS — PC/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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