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Análise: Monster Boy and the Cursed Kingdom (Multi) é uma aventura moderna com jeito antigo

O título da Game Atelier tem toda a essência de um legítimo Wonder Boy e melhora tudo o que conhecemos da franquia.


A franquia Wonder Boy fez muito sucesso principalmente no Master System e no Mega Drive, apesar de muitos brasileiros conhecerem os seus jogos com a skin dos personagens da Turma da Mônica, graças a uma parceria na época entre a Tectoy e a Mauricio de Sousa Produções. Desde então, a franquia ficou esquecida, até receber um remake visual ano passado de Wonder Boy III: The Dragon’s Trap e, agora, um “sucessor espiritual” com Monster Boy and the Cursed Kingdom.

De hamster voador a garoto monstro

Inicialmente, o pessoal da desenvolvedora Game Atelier planejava criar, através de financiamento coletivo no Kickstarter, uma continuação para o seu jogo Flying Hamster, que contava as aventuras de um hamster guerreiro que se transformava em outros animais. Nada contra roedores, mas, felizmente, graças à parceria com a FDG Entertainment e à colaboração de Ryuichi Nishizawa (criador da série Wonder Boy), os planos mudaram. Após quatro anos de desenvolvimento e alguns adiamentos, Monster Boy finalmente está disponível e faz jus ao título de “sucessor espiritual” dessa franquia tão amada.


A história é bem simples e, apesar de bem-humorada, pouco se desenvolve. Jin é um garoto que tenta impedir seu tio Nabu, que aparentemente perdeu o juízo e está transformando todos os habitantes de Monster World em animais. Sem sucesso, acaba sendo transformado em porco (quem jogou Dragon’s Trap vai lembrar do visual) e, para quebrar o feitiço, deverá encontrar orbes mágicos espalhados pelo mundo. A partir daí, Jin se encontra com diversos personagens durante a aventura, que interagem brevemente com o herói e entregam missões a serem realizadas.

Mistura de gêneros, transformações e itens

Com forte inspiração em Dragon’s Trap, Monster Boy utiliza a transformação em diversos animais como base do seu gameplay. Cada um tem as suas características peculiares: o porco consegue farejar objetos escondidos e utilizar itens e mágicas clássicos da série, como bumerangues, bolas de fogo e bombas, mas não usa equipamentos; a cobra pode passar por lugares estreitos, grudar em paredes com grama e lançar veneno; o sapo usa a sua língua como corda para balançar em argolas e agarrar objetos, e nada rapidamente na água, sem precisar de bolhas de ar; o leão tem uma poderosa investida de ombro que serve para quebrar blocos de pedra e correr sobre líquidos; o dragão, por sua vez, voa e cospe fogo.

A forma como essas transformações são utilizadas, ao contrário do que ocorria em Dragon’s Trap, é livre. Basta adquirir um dos animais para poder utilizá-lo a qualquer momento, de forma bastante dinâmica, ao simples toque de um botão (que abre um círculo interativo para selecionar o personagem), sem a necessidade de voltar à cidade como antes. O jogo, inclusive, foi feito de forma que alternar entre as transformações seja necessário para superar os obstáculos e puzzles. Isso ocorre tão naturalmente que fica fácil entender quais os melhores animais para utilizar em cada momento.


Além das transformações, os itens e armaduras, característicos da franquia, ajudam a avançar por determinados desafios. Um certo tipo de bota serve para se movimentar embaixo d’água, outro para andar melhor no gelo; um escudo é mais indicado contra fogo, enquanto outro contra feitiços e por aí vai. Em Monster Boy não há sempre um único tipo de equipamento para utilizar em cada desafio, e o jogador tem mais liberdade de escolher qual conjunto lhe cai melhor e qual pretende aperfeiçoar primeiro com um ferreiro, utilizando gemas específicas.


Apesar de Monster Boy, em essência, ser um jogo de ação e plataforma, ele não se limita a esses gêneros, usando elementos de diversos outros, como RPG, Metroidvania e até momentos de Shoot 'em up. Boa parte do game é dedicada à solução de puzzles e exploração de tesouros, que servem para aumentar os poderes de um personagem ou melhorar um equipamento específico. Na maior parte do tempo, toda essa exploração é feita de forma muito dinâmica, mas, em alguns calabouços mais avançados, esse ritmo acaba sendo perdido e o jogo se torna um pouco cansativo, já que pode levar mais de três horas para explorar completamente uma única área.


Outro complicador da jogatina são os checkpoints. Apesar de estarem relativamente bem localizados, nem todos recuperam a barra de vida e, ao retornar a eles após uma morte, temos apenas alguns corações disponíveis. Também não há itens de cura após reviver e em muitos momentos nos encontramos presos no meio do caminho com pouca vida. Em algumas situações, seria até melhor retornar ao início do desafio, com a possibilidade de carregar a barra por completo.
Este tipo de checkpoint recupera todo o life.

Um time de renome

O pessoal da Game Atelier fez um excelente trabalho no aspecto visual. Monster Boy tem ótimos gráficos desenhados à mão e parece até mesmo que estamos controlando um personagem de um anime, e as cutscenes ajudam a criar essa sensação. As músicas são muito empolgantes e fica fácil entender por que elas são tão agradáveis e variadas ao descobrir que foram feitas por autores renomados, como Michiru Yamane (Castlevania: Symphony Of The Night), Motoi Sakuraba (Golden Sun)  e Yuzo Koshiro (Streets Of Rage).


A mecânica de transformação em monstros foi utilizada com maestria e, apesar de algumas situações adversas, graças a checkpoints que recuperam pouca vida e alguns calabouços longos, a aventura praticamente não tem o seu ritmo comprometido. Os puzzles são bem feitos, sendo necessário alternar devidamente entre os animais para resolvê-los. Finalmente, o visual com gráficos desenhados à mão e as músicas compostas por autores renomados ajudam a criar o clima agradável da aventura. Apesar de não carregar oficialmente o nome da franquia, Monster Boy and the Cursed Kingdom é um legítimo Wonder Boy e certamente o melhor jogo da série.

Prós

  • Lindo visual 2D com gráficos desenhados à mão;
  • Músicas empolgantes criadas por um time renomado de autores;
  • Várias referências aos demais jogos da franquia;
  • Mecânica de transformação funciona muito bem;
  • Puzzles bem pensados e criativos.

Contras

  • Checkpoints que recuperam pouca vida;
  • Alguns calabouços são longos e pouco dinâmicos.
Monster Boy and the Cursed Kingdom — PS4, Xbox One, Switch — Nota: 9.0
Plataforma utilizada para análise: PS4.
Análise produzida com cópia digital cedida pela FDG Entertainment
Revisão: Link Beoulve

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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