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Análise: Blade Strangers (Multi) leva ao pé da letra o nome de “estranho”

Crossover é uma experiência agradável para novatos, mas perde fôlego à longo prazo.

Quando foi anunciado, Blade Strangers (Multi) não atraiu muitos olhares, mas chamou certa atenção pelo que prometeu: jogabilidade simples, próxima ao mega sucesso e consolidado Super Smash Bros. Junte isso ao clássico e charmoso visual 2D, característico de muitos jogos de luta, e o resultado seria um game divertido e cativante, com personagens marcantes. Pelo menos é isso que se esperava, mas o título deixou para ser simples demais em todos os aspectos.

Festa estranha com gente esquisita

Crossovers são famosos por juntar muitos universos em um jogo só, criando um ponto em comum entre os personagens. Blade Strangers traz protagonistas de seis universos distintos, que são:

Code of Princess: Mistura de hack’n slash com RPG, esse jogo de ação foi lançado primeiramente para o portátil Nintendo 3DS, e depois para o Switch, com gráficos melhorados e modo multiplayer. Nele, a aventura gira em torno da princesa Solange, filha da família real que foi acusada de forjar um ataque ao próprio reino. Cabe a ela, junto com companheiros que foram se aliando pela viagem, limpar o nome de seus pais e derrotar os verdadeiros culpados. Personagens no jogo: Solange, Ali, Master T Drakken e Liongate.

Cave Story: Considerado um dos mais importantes jogos indies já criados, esse plataformer, feito no melhor estilo metroidvania, gira em torno do robô Quote. Ele acorda em uma caverna, sem memória, em meio ao vilarejo de seres chamados mimiga. Essas criaturas estão sendo ameaçadas pelo doutor (The Doctor), que quer usar as flores vermelhas para transformá-las em um exército. Personagens: Quote e Curly Brace.

Umihara Kawase: Essa série de jogos traz as aventuras da jovem cozinheira Kawaze, que precisa passar por diversos níveis coletando peixes e frutos do mar para suas receitas, utilizando apenas sua vara de pescar. A saga foi lançada exclusivamente para o Japão, em diversas plataformas como Super Famicon, PSP, PSVita e Nintendo DS. Personagens: Kawase, Emiko e Noko.

Azure Striker Gunvolt: Jogo plataforma de ação side-scrolling no estilo de Mega Man, lançado para o 3DS, e para o Switch alguns anos depois. Gunvolt, o protagonista, tem a habilidade de marcar seus inimigos com seus projéteis, para acertá-los com seus poderes elétricos e assim maximizar o dano. Personagem: Gunvolt.

The Binding of Isaac: Outro clássico indie, onde o jogador controla o menino Isaac, que está fugindo da própria mãe para não ser sacrificado. O jogo gera os estágios da masmorra aleatoriamente (estilo conhecido por roguelike) e possui treze finais distintos, um para cada chefe encontrado por último. Personagem: Isaac.

Shovel Knight: Mais um queridinho indie e um dos maiores sucessos conhecidos de jogos por crowdfunding (arrecadação coletiva por doações). Sua captação de fundos foi tão significativa que o game foi lançado para todas as plataformas possíveis, incluindo portáteis. Nessa aventura toda trabalhada no estilo 8-bit, o jogador controla o herói na busca pela sua companheira Shield Knight, que foi aprisionada pela Encantadora. Cabe a ele derrotar a vilã, assim como a Ordem Sem Piedade, para resgatar sua amada. Personagem: Shovel Knight.

Toda essa turma, junto com as personagens originais do jogo, Helen e a vilã Lina, compõe o elenco de lutadores.

Você não era diferente?

Como se trata de um jogo de luta clássico com visão em 2D, alguns personagens tiveram seu estilo totalmente remodelados em vista do seu visual original, caso de Shovel Knight, Quote, Curly Brace, Kawase e Emiko. Isso pode causar certa estranheza à primeira vista, principalmente para quem jogou as franquias de cada um deles. Os outros mantiveram-se bastante fiéis à sua aparência de costume.

As diferenças mais notáveis realmente ficaram com o cavaleiro e a criança loira. Enquanto ele ficou colossal (praticamente o maior personagem do jogo), Emiko teve uma adaptação inusitada. Enquanto sua parceira Kawase ganhou corpo de adulta, ela foi mantida criança e luta montada em um gato gigante (porque isso faz tanto sentido quanto todo o resto).

Ainda sobre o aspecto visual do jogo, apesar dos lutadores serem feitos em 2D, os estágios são totalmente tridimensionais, com pequenas animações de fundo. Por mais que eles não sejam complexos, a composição estética fica muito bonita, sem encher a tela de informações alheias ao duelo. Cada combatente tem o seu cenário, com referências às suas séries.


Quanto ao áudio, a trilha sonora desempenha um bom papel, acompanhando o cenário. Já em relação às vozes, a coisa complica. Não existe diálogo de fato, apenas as frases ditas antes de cada batalha, que por acaso são as mesmas ouvidas durante as cenas do modo história. Todas elas estão em japonês e não acompanham em nada do que é “dito” nos balões. Pelo menos uma dublagem em inglês o game merecia, para se tornar mais amistoso.

Tá estranho mesmo!

Como todo jogo crossover que se preze, existe uma história (maluca) que justifica o porquê desses indivíduos tão peculiares estarem envolvidos. O mundo é regido por uma deusa chamada Exiva e seus Motes, uma espécie de central de computadores com servidores que têm consciência própria e são sensitivos. Isso torna todos os universos uma espécie de banco de dados gigantes. Lina é a criatura do mal que quer devorar esses dados, então os Motes convocam “estranhos” dos universos que ela ainda não alcançou e alteram suas memórias para que eles pensem que estão em um torneio. O vencedor será denominado de “Blade Stranger” e caberá a ele derrotar Lina antes que ela consuma tudo.

Por mais genérico que esse plot seja, ele poderia ter sido trabalhado de maneira mais dedicada. Não importa qual personagem seja usado para fechar o jogo, o desfecho é o mesmo (salvo exceção de quando se usa a vilã). Nem mesmo Helen, a outra lutadora “original”, ganhou uma diferenciação, o que a tornou simplesmente um elemento descartável na composição do elenco. Outro ponto frustrante é que tanto o começo quanto o fim tem animações belíssimas, que só foram usadas para isso.

Preparar, Lutar, Ganhei!

Os desenvolvedores do Studio Saizensen prometeram uma jogabilidade próxima aos jogos da série Super Smash Bros. e de certo modo conseguiram. Os comandos são simples e os ataques especiais são executados com apenas um botão. O golpe varia para cada direção, ou seja, apertar o botão de golpe especial com direcional para frente tem um resultado diferente do que quando feito com direcional para baixo. Isso é válido para todos os personagens.

O sistema de combos é bastante simples e universal, com apenas quatro botões para bater (fraco, forte, especial e ataque único). O mesmo comando pode ser usado sem exceção por todos, o que torna o título bastante convidativo para jogadores iniciantes e que não estão familiarizados com estilos de luta mais complexos, como Street Fighter ou Tekken. O tutorial é rápido e simples, o que ajuda ainda mais na hora de aprender os comandos.

Além do modo história, o jogo também tem um modo arcade (que é a mesma coisa que o história, só que sem as cenas de diálogo), um modo sobrevivência e um modo de desafios. O sobrevivência possui três níveis, fácil, médio e difícil, que depois de aprender os combos não fazem muita diferença entre si.


Já os desafios, moda corriqueira nos jogos de luta, também são bem fáceis. São 70 combos diferentes (cinco para cada um dos 14 lutadores) para serem executados. A exceção fica por conta de um ou outro combo aéreo, que possuem inputs meio confusos na hora de serem realizados. Isso pode ser frustrante para quem está lidando com esse tipo de estrutura pela primeira vez e não sabe o motivo do comando não ser efetivo.

Infelizmente o jogo não possui muitos desbloqueáveis. Apenas cores e rostos novos para cada personagem. Já que os produtores se deram ao trabalho de juntar tamanha miscelânia de universos, um modo galeria faz muita falta. Por mais que eles não tenham cada um o seu final, ver artworks conceituais e esboços do que eles poderiam ter sido sempre enche os olhos e agrega um conteúdo que geralmente ninguém reclama.

O multiplayer segue a premissa do resto e se apresenta de maneira simples, com partidas de ranking e casuais. Existem cinco opções de servidores para se conectar: EUA, Ásia, Europa, Hemisfério Sul e Outro. Nos dois primeiros foram encontrados oponentes de maneira rápida. Entretanto, durante as lutas podem haver travamentos, causados pela oscilação na conexão, o que pode deixar a experiência realmente irritante. Já nos demais servidores não foi possível encontrar outro jogador, mesmo com certa insistência. Isso pode ter acontecido devido a então baixa popularidade do game, que ainda está com menos de um mês de vida.

Preço salgado

O preço aplicado no jogo é, de longe sua maior, desvantagem. Ao darmos uma olhada pela PSN (o jogo foi cedido para PS4), encontramos muitos jogos com mais conteúdo pelo mesmo preço ou até menos. Para se ter uma ideia, Blade Strangers custa R$ 143,50. Por esse mesmo valor, procurando apenas por jogos do mesmo gênero, encontra-se opções muito mais satisfatórias e completas, como The King of Fighters XIV, Street Fighter V: Arcade Edition e Guilty Gear Xrd REV 2.

Não querendo desmerecer o trabalho da desenvolvedora, mas por esse valor o consumidor merecia algo muito mais bem trabalhado. Blade Strangers não é ruim, mas peca demais por ter reunido vários elementos ricos de forma preguiçosa, desajeitada e genérica. É preciso bem mais que uma “bacia” de integrantes famosos e comandos simples para se fazer um jogo que deveria ser convidativo.

Prós

  • Boa trilha sonora;
  • Comandos simples de executar;
  • Cenários e visuais bem trabalhados;
  • Golpes característicos para cada lutador;
  • Loadings rápidos, tanto online quanto offline;
  • Personagens carismáticos.

Contras

  • Animações mal aproveitadas;
  • Combos aéreos nem sempre correspondem da maneira que deveriam;
  • Dificuldade com pouca variação;
  • História genérica;
  • Pouco conteúdo;
  • Preço elevado.
Blade Strangers - PS4/Switch/PC - Nota: 6.5 
Versão utilizada para análise: PS4

Análise produzida com cópia digital cedida pela Nicalis
Revisão: Rui Celso


é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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