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Análise: Sonic Forces (Multi) – Uma guerra que divide o público

O jogo não é um mar de rosas, mas também está longe de ser um grande fiasco.

Depois de se deliciarem aos montes com o saudoso e muito bem aclamado Sonic Mania (Multi), eis que os fãs, do ouriço mais rápido dos videogames, aguardaram ansiosamente pelo próximo título do azulão, que ainda sairia ao final deste mesmo ano, sendo agora em uma nova aventura 3D e dando procedimento a série dos jogos principais (chega de spin-offs e crossovers!). Foi com grande hype que muitos (inclusive eu) esperavam por Sonic Forces, na certeza de que este título seria um “Sonic Generations com um enredo a la Dragon Ball Z”. E agora? Será que o hype foi correspondido ou foi um tremendo fracasso? Que lado venceu essa guerra? É o que veremos agora!

De volta as histórias maduras


Se tem algo em que a Sonic Team conseguiu acertar muito bem nesse título foi em sua história, algo que não era tão bem trabalhado nos jogos do ouriço desde Sonic Unleashed (PS2/PS3/X360). O jogo apresenta um enredo centrado em um mundo distópico e sombrio, onde o arqui-inimigo de Sonic, Dr. Eggman Robotnik, conseguiu finalmente dominar o mundo graças a um estranho e poderoso ser chamado Infinite. Sonic até tenta confrontá-lo, mas é completamente esmagado pela criatura, que está acompanhada dos vilões Chaos, Metal Sonic, Shadow e Zavok. Após isso, diversos acontecimentos catastróficos começam a ocorrer em todo o planeta e para livrar seu mundo dessa tirania, os amigos de Sonic resolvem criar uma resistência e recrutar membros para a mesma no intuito de deter Eggman e seus exércitos.
Teria Sonic finalmente encontrado um inimigo a sua altura?

Por mais que esteja dando continuidade a história, da série onde Sonic Lost World (Multi) parou, Forces apresenta um vínculo com Sonic Mania, trazendo em seu desfecho a presença do Phantom Ruby, objeto central para a trama do Mania. Ao que é mostrado pelo enredo, a joia está ligada ao novo vilão que pode distorcer o conceito de realidade, criando ilusões que afetam diretamente os personagens, sem falar na participação do Sonic Clássico no título que está ligada justamente ao misterioso artefato. Isso por si, foi uma sacada bem interessante dando um desculpa coerente para a presença do ouriço baixinho e gordinho na trama.

Além disso, o enredo possui uma semelhança grandiosa com a série Star Wars, tanto pela temática de guerra com rebeldes se juntando para confrontar um império quanto pela presença de dois novos personagens, onde um foi literalmente dominado pelo Lado Sombrio e busca se tornar cada vez mais temido e poderoso, enquanto que o outro é praticamente um “Zé Ninguém” buscando provar o seu valor e heroísmo. Há que tenha adorado essas semelhanças e há quem tenha odiado, para quem não gostou, alguns momentos que remetem justamente a saga podem ser um problema. Em comparação as últimas histórias que Sonic recebeu em seus jogos de alguns anos pra cá, Forces se saiu bem (tanto que a Sega até produziu uma minissérie em quadrinhos sobre acontecimentos anteriores ao jogo. Vale a pena conferir!) além de mostrar o caminho certo que a série deve tomar daqui por diante com os enredos do ouriço.
Rebeldes prontos para a guerra

Parece Sonic Generations, mas não é!


Muitos vibraram de felicidade quando viram que Forces seria produzido pela mesma equipe de Sonic Colors (Wii) e Sonic Generations (Multi), e mais ainda quando souberam que o jogo teria uma nova engine melhor que a anterior, a Hedgehog Engine 2.0, porém as coisas não saíram muito bem. De fato, a nova engine é muito melhor que a primeira e isso pode ser notado nos próprios gráficos do jogo (que se diga de passagem estão lindíssimos), e na fluidez das movimentações, tanto dos personagens quanto em detalhes nos cenários, isso sem falar das cutscenes muito bem renderizadas. Tudo parece um grande filme full HD, só que para por ai.
Visualmente, a parte gráfica é impressionante!

Em Generations tínhamos uma gostosa sensação nos controles que apresentavam uma boa física além de uma fluidez incrível na realização de ataques e habilidades. Em contrapartida, Forces apresenta alguns problemas em seus controles, os quais parecem por vezes não responder muito bem, além da física que apresenta estar meio quebrada. Um bom exemplo disto pode ser visto quando estamos descendo uma ladeira a toda velocidade com o Sonic Clássico e chegando a uma pequena rampa parece que toda a aceleração simplesmente foi bruscamente reduzida, pra não dizer que desapareceu do nada. No entanto, o seu gameplay é o melhor se comparado aos demais.
De volta a jogatina com o Sonic Clássico

Já com o Sonic Moderno ainda temos as boas transições entre momentos 3D, mais centrada em correria, e 2D, mais voltada para o estilo plataforma, porém algumas trilhas podem ser frustrantes, onde o personagem é literalmente arremessado para fora da pista caso esteja usando boost e deslize um pouco da parte central da estrada. Por vezes o pulo duplo aparenta “escolher” quando quer funcionar e os toques de direcionamento estão bastante sensíveis, fazendo um inicio de caminhada para que então possamos começar a correr seja altamente veloz, o que pode prejudicar em alguns trechos de plataforma minuciosos, resultando em mortes indesejadas.

Além da fórmula tradicional, Sonic Forces trouxe alguns diferenciais para o Sonic Moderno, como o próprio boost e alguns movimentos, que possuem um visual que remete bastante ao estilo de Sonic Lost World, e até quick time events em alguns trechos das fases. Por um lado, tal ousadia é bem interessante, mas a falta de um polimento maior no gameplay acaba comprometendo, mesmo que de forma sorrateira, essas novidades. É necessário ter um pouco de paciência até se ajustar aos novos controles. Já as músicas, como sempre, estão um show a parte, com batidas eletrônicas nas fases do Clássico e o bom e saudoso rock’n roll nos estágios do Sonic Moderno.
Aventurando-se por pistas complexas a toda velocidade com o Sonic Moderno

Juntando-se a Resistência!


Saindo um pouco dos Sonics, uma das grandes surpresas de Forces foi à possibilidade de poder criar o seu próprio personagem no jogo, algo que remete bastante a Dragon Ball Xenoverse(Multi), no qual podemos escolher suas cores e espécie entre lobo, coelho, gato, cachorro, urso, pássaro ou ouriço, o qual, mesmo possuindo um visual bem genérico de início, poderá ser personalizado ao decorrer do jogo, com novas roupas e apetrechos que vão sendo liberados durante as fases. Como em qualquer jogo de Sonic em 3D, as fases de Forces possuem ranks, e quanto maior for o seu rank para terminá-las mais acessórios serão liberados para o seu avatar. Inclusive, chega a ser bem divertido ficar criando novos visuais para o seu personagem.
Crie seu próprio personagem para jogar

Além disso, cada espécie possui uma singularidade, como passar mais tempo no ar ou ficar com uma argola caso sofra dano, entre outras. Porém tais habilidades não chegam a ser bem exploradas e, raramente, proporcionam uma vantagem durante o jogo, visto que o principal foco do nosso avatar, chamado no jogo de “Rookie”, está na possibilidade de usar um gancho para alcançar novas plataformas e uma arma que lhe permite atacar a certa distância. Em especial a arma, conhecida como “wispon”, possui diversos modelos diferentes e funciona a base dos Wisps (Sim! Aqueles pequenos aliens que dão poderes especiais aos seus usuários). Enquanto que com Sonic eles só servem para aumentar a barra de boost, com o avatar eles executam a mesma função que faziam em Sonic Colors, proporcionando novas habilidades a wispon, dependendo do seu modelo, o que já é suficiente para revisitar as fases do avatar experimentando novos tipos de armas.

Em contrapartida, o gameplay do custom character chega a ser um dos mais fracos, já que sua velocidade é bem reduzida e mais centrada em um estilo de jogo que lembra bastante Metal Slug ou Castlevania, no caso dos ataques com o wispon elétrico, ao som de músicas cantadas em estilo K-Pop, o que de certo modo combina com o personagem. Para resolver este problema existem as fases Tag Mode, no qual é possível jogar com Sonic e o Avatar simultaneamente, semelhante à Sonic Heroes (Multi), e para quem curte modo multiplayer, é possível alternar entre avatares de outros jogadores, dando assim mais dinamismo a jogatina.
Destrua inimigos e experimente novos modelos de jogo com os wispons

No entanto, algo bem controverso é o fato do avatar ser praticamente o protagonista do jogo, detalhe este que não agradou a muitos. Entende-se que a Sonic Team quis trazer uma nova abordagem para o título, procurando centrar o próprio jogador como a estrela do jogo, mas isso deixa a imagem de Sonic um pouco desfocada. Estamos falando de um jogo do Sonic, uma série que leva o próprio nome do protagonista, como título e marca, logo se espera uma centralização maior no mesmo.

Ótimas ideias não-tão-bem executadas


Por mais que seu enredo seja ótimo, que seus novos personagens sejam bem carismáticos, e que seus gráficos e trilhas sonoras se mostrem incríveis, Sonic Forces apresenta alguns problemas na execução de seu modo campanha. De início podemos ver a limitação de fases por ambientação, dada à proporção gigantesca que o enredo toma. Para se ter ideia, a Green Hill é praticamente a área mais visitada e explorada do jogo. É bem verdade que há um grande diferencial nas mesmas, como a própria área desértica da Green Hill ou o estado catastrófico da City, porém isso acaba sendo uma fachada de disfarce. Compreendam que Eggman dominou 99% do planeta, mas toda a rebelião ocorre em apenas sete lugares, se contarmos a Death Egg separadamente o número cai para seis, sendo ainda pior para algo de proporção mundial. Esperava-se mais diversidades nos ambientes, mesmo que fossem lugares já conhecidos pelo público, tanto dos jogos clássicos quanto dos modernos.
O jogo carece de novas ambientações

Além disso as fases não proporcionam uma boa duração. Elas possuem um começo, um meio, mas não apresentam uma conclusão, dando a sensação de terem acabado pela metade. Também não possuem uma dificuldade digna para um senhor título comemorativo, já que o jogo apresenta dois níveis de dificuldade, Normal e Hard, no entanto jogá-lo no modo Normal chega a ser estupidamente fácil, enquanto que o modo Hard é o que chega mais perto de oferecer um desafio nível básico da série. Aparentemente, o foco está mais em ver o tempo recorde em que se pode terminar a fase pegando os cinco red rings escondidos do que em explorá-la por caminhos alternativos. De fato, conseguir um Rank S aqui é bem desafiador.

Os chefes são muito divertidos de se enfrentar e bem diversificados, havendo os que enfrentamos em uma determinada arena e aqueles com os quais batalhamos em pistas (simplesmente os mais legais), porém há uma centralização muito grande no vilão Infinite, tanto que o enfrentamos três vezes durante o jogo, e dessas três uma é inclusive com o avatar, enquanto que outros personagens que aparecem aliados a Eggman, como Shadow e Chaos, nem mesmo são enfrentados durante o jogo. Isso é uma pena, pois, além de desperdiçar a chance de revivermos lutas clássicas, acaba cooperando para uma queda na credibilidade de Infinite como “o vilão mais poderoso que a série já apresentou”, dando a entender no contexto que outros coadjuvantes poderiam estar a sua altura.
Infinite ofusca bastante os outros vilões clássicos do jogo

Certamente o que mais entristece no título é o tempo de sua campanha. Em aproximadamente quatro ou cinco horas de jogo é possível finalizá-lo, e isso alterando entre os três personagens jogáveis. Sério, não é porque é Sonic que o jogo deve terminar rápido. Pode-se dizer que nesse ponto Forces sofre do mesmo problema que Generations: poucos chefes para enfrentarmos e uma campanha curtíssima. Ao menos depois de seu término podemos adentrar em fases extras que vão sendo liberadas para aproveitar mais da jogatina, sem falar na DLC gratuita do “Episode Shadow”, onde podemos acompanhar a história entre Shadow e Infinite, bem como jogar com o ouriço negro nas fases do Sonic Moderno e em algumas fases inéditas. Para quem estava com saudades de jogar com o ouriço sombrio, eis aí a sua chance de aproveitá-lo.

Uma guerra cheia de altos e baixos


Ok, sendo curto e direto: Sonic Forces nem de longe é um jogo ruim. É claro que ele tem pontos que podem ser considerados falhos, mas também muitos dos pontos que transitam entre bom ou mau trata-se mais de uma questão do gosto do jogador. A verdade é que, diante de toda a propaganda massiva que a Sega fez em torno deste título, era esperado um jogo de proporções épicas, mas no final das contas a impressão que se tem é de um jogo que tinha muito potencial para ser grandioso e que, devido ao hype, acabou não sendo tudo aquilo que muitos imaginavam, dividindo bastante a opinião do público.
Jogadores divididos: Escolha o seu lado!

Alguns detalhes como a disponibilização do Super Sonic por meio de uma DLC ao invés de destravá-lo, como nos demais jogos da série, também foi motivo de estranheza para os fãs, e alguns até chegaram a considerá-lo um dos piores títulos da franquia, porém tal afirmação é um completo exagero, já que Sonic Forces está extremamente distante dos horrores que foram Sonic the Hedgehog (PS3/X360) e Sonic Boom: Rise of Lyric (Wii U), só não possui a grandeza de um Sonic Colors e Sonic Generations. Mas como já foi dito, vai muito do perfil do jogador. Caso você queira algo mais voltado para o estilo tradicional, porém com uma campanha mais extensa, é recomendado que você jogue Sonic Mania, caso contrário pode ir de Sonic Forces sem medo, pois terá um jogo com ótimos momentos de ação, uma boa dose de inovações e que irá te promover divertidos momentos de jogatina e descontração. No fim das contas vence essa guerra quem souber apreciá-lo, apesar dos defeitos.

Prós

  • Ótimos gráficos e cutscenes bem renderizadas;
  • Boa variação no design das fases;
  • Sensação de velocidade bem executada;
  • Trilha sonora excelente;
  • Poder criar e customizar seu próprio personagem;
  • Ótima história.

Contras

  • Fases pequenas e pouco desafiadoras;
  • Modo campanha curtíssimo;
  • Gameplay problemático;
  • Level Design confuso em alguns pontos;
  • Pequenas quedas de frame pode atrapalhar a experiência.

Sonic Forces — PS4 / XBO / Switch / PC — Nota: 7.5

Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Diogo Mendes

Desenhista, quadrinista e colunista, é um verdadeiro apaixonado pelo Universo Geek e Cultura Pop em geral. Fã de carteirinha de Sonic, Star Wars, Homem-Aranha, Zelda e dos gênios Akira Toriyama e Jack Kirby, escreve para a GeekBlast e desenvolve pesquisas na área dos quadrinhos.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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