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Análise: Puyo Puyo Tetris (Switch/PS4) — entre o familiar e o desconhecido

Você provavelmente já conhece Tetris, mas o que é Puyo Puyo?


Não sou extremamente habilidoso em Tetris, mas conheço o jogo há vários anos e me sinto muito confortável com as famosas pecinhas coloridas. Entre Tetris (GB), Tetris DS (NDS), Tetris Party Deluxe (Wii), Tetris Axis (3DS) e até Tetris Friends no navegador, estou mais do que familiarizado com o que posso fazer com os Tetriminos enquanto ouço música popular russa (você sabia que a famosa versão de Korobeiniki no Game Boy foi arranjada por Hip Tanaka, compositor de Metroid (NES)?), mesmo que eu nem sempre tenha a habilidade ou agilidade para montar os combos do jeito que eu gostaria.

Por outro lado, até poucos dias atrás, eu nunca havia jogado Puyo Puyo (também conhecido como Puyo Pop). De fato, se não fosse pelo iminente lançamento de Puyo Puyo Tetris (Switch/PS4) e a demo disponível na eShop do Switch, eu provavelmente continuaria sem conhecer o jogo. É nessa dualidade que o título da Sega se encaixa: às vezes, estou executando técnicas avançadas e conquistando uma enchente de pontos; em outros momentos, estou frustrado com as mecânicas simples mas razoavelmente profundas de Puyo Puyo enquanto tento lidar com alguns conceitos básicos. Esse pode não ser seu caso, é claro. Tenho pelo menos dois amigos que já conheciam Puyo Puyo desde as épocas do GBA ou do DS (como, eu não sei). Qualquer que seja seu caso, a junção dos jogos russo e japonês em uma diversidade de modos com certeza levantará algumas sobrancelhas.



Existem três formas principais de se jogar Puyo Puyo Tetris: Versus, Swap e Fusion. No primeiro cada jogador escolhe um dos dois jogos, no segundo o jogo alterna ocasionalmente entre Tetris e Puyo Puyo e, no último, ambos tipos de blocos ocupam a mesma tela. Todos eles podem ser jogados solitariamente ou contra até três outras pessoas online ou localmente. Eu sempre curti Tetris como um party game e isso se torna excepcionalmente verdadeiro no Switch, pois basta separar os Joy-Cons para ter um kit de jogo imediato. Não é ideal controlar com o analógico, mas quebra o galho para se divertir com amigos.

Em termos de conteúdo, o que mais me surpreendeu foi a inclusão de uma campanha, que inclui uma narrativa acompanhando as desventuras de personagens de Puyo Puyo (como Ringo e Amitie — veteranas de outros jogos) quando seu universo colide com o mundo de Tetris. Os personagens daquele mundo são novos, cada um baseado em uma peça de Tetris (Tee, Ess, Zed, e assim por diante). Seguindo uma convenção de anime que remete a Pokémon, Yu-Gi-Oh ou Bey Blade, todos os problemas desses personagens são resolvidos por duelos de Puyo Puyo. Ou de Tetris. Ou, gerando muitas confusões (raramente engraçadas), de ambos simultaneamente. A narrativa é meio genérica, envolvendo salvar o mundo usando portais interdimensionais, ou algo assim, e serve apenas para dar algum contexto para as partidas.



Todos os personagens são dublados e, jogando em inglês, eu geralmente não tive problema com as vozes (mas algumas delas são um pouco irritantes). Elas definitivamente são melhores na versão japonesa, que pode ser conferida pela demo online, e teria sido ótimo ter uma opção para mudá-las de idioma em algum menu. Mesmo mudando o idioma do Switch, técnica que funciona em outros jogos, tudo permanece em inglês.

Completar a campanha exemplifica muito bem a diferença entre os dois jogos. Apesar de me frustrar com Puyo Puyo em diferentes graus durante o jogo todo, admito que foi uma experiência interessante aprender a estourar as bolhinhas coloridas. Também aperfeiçoei minhas habilidades de destruir blocos no caminho. Em ambos os casos, devo parte da minha evolução aos tutoriais inclusos no game e a vídeos explicando técnicas no canal do YouTube da Sega.



No entanto, mesmo após uma certa dedicação ao Puyo Puyo e levando em consideração a minha falta de conhecimento nele comparado ao Tetris, nunca deixei de sentir que Puyo Puyo é realmente mais difícil que a alternativa russa. Montar combos que levam a altas pontuações é muito menos intuitivo, pois envolve arranjar as bolhinhas de forma que o desaparecimento de algumas cause a conexão (de 4 ou mais) de outras. Superficialmente, é bem simples, até similar a alguns outros jogos do estilo, mas, na prática, pensar na melhor forma de arranjá-los enquanto mais e mais bolhinhas caem do topo da tela não é nada trivial.

Para piorar, no modo competitivo, combos do oponente fazem cair "junk Puyos" na sua tela, que obriga o jogador a estourar alguns Puyos apenas para se livrar deles. Tetris tem uma mecânica similar, é claro, em que completar múltiplas linhas ou fazer combos faz linhas quase completas aparecerem no fundo da tela do oponente. A principal diferença é justamente a posição: enquanto em Tetris o jogador vítima pode continuar trabalhando na jogada que preparava, em Puyo Puyo qualquer tentativa de combo é parada até suficientes "junk Puyos" serem limpos.



Isso não quer dizer que Puyo Puyo seja um jogo pior, ou menos apto, para uma jogabilidade competitiva. Tenho certeza de que jogadores habilidosos podem tirar muito proveito das mecânicas menos óbvias do game. O problema, ao meu ver, é que uma partida de Puyo Puyo contra Tetris não faz muito sentido. Em quase todos os casos, o jogador de Tetris tem uma vantagem inerente, a não ser, talvez, que ambos jogadores sejam de altíssimo nível (contra oponentes virtuais em dificuldade alta, realmente sofri contra as longas cadeias de Puyo). Ainda assim, acredito que a inclusão dos dois jogos em um é muito boa no sentido de dar maior variedade e longevidade a Puyo Puyo Tetris (afinal, se fosse apenas mais um jogo de Tetris, seria bem menos interessante), apesar do aparente desequilíbrio entre os dois modos.

Como dito antes, versões de console de Tetris funcionam muito bem como rápidos jogos multiplayer para curtir com amigos. Puyo Puyo Tetris mantém isso, permitindo até quatro jogadores competirem localmente em qualquer mistura de Tetris ou Puyo Puyo — mas boa sorte convencendo seus amigos a jogarem algo além de Tetris. Nesse sentido, o jogo acaba sofrendo um pouco porque a demonstração gratuita dele é estranhamente completo: já é possível jogar multiplayer local de Tetris, Puyo Puyo ou Swap, faltando apenas o modo Fusion e as outras variações em cima dos jogos-base (inclusive os modos solo). Para quem quer curtir os modos básicos sem muita variedade, a demo já cumpre o objetivo.



Puyo Puyo Tetris também acerta em vários aspectos da apresentação. A estética é limpa e agradável; há vários visuais diferentes para Puyos e Tetriminos; o menu é todo navegável com a tela de toque do Switch; e pontos adquiridos ao jogar podem ser trocados por vozes alternativas ou novos visuais para as peças. A trilha e efeitos sonoros também não deixam a desejar, apesar de sempre soar excepcionalmente japonês.

Por último, é preciso comentar sobre o estranho caso da distribuição e dos preços deste jogo. No Japão, Puyo Puyo Tetris foi lançado para quase todas as plataformas imagináveis: 3DS, Wii U, PS Vita, PS3, PS4, Xbox One e Switch. Deste lado do Pacífico, a Sega está publicando apenas as versões de PlayStation 4 e de Nintendo Switch. No PS4, apenas a versão física pode ser comprada, custando 30 USD nos EUA. Aparentemente, não há versão digital por causa de alguma bizarrice com o licenciamento da marca Tetris, que já foi usado pela Ubisoft em Tetris Ultimate (Multi) em 2014. No Switch, é possível comprá-lo em meio digital e físico, custando 40 USD em ambos os casos (graças à regra da Nintendo exigindo que ambos tenham o mesmo preço). Seguindo a mesma lógica, é provável que esta seja a única versão de Tetris que poderá ser vendida na eShop do Switch. Felizmente para donos de Switch (e infelizmente para donos de PS4), Puyo Puyo Tetris é uma versão muito mais robusta do clássico do que Tetris Ultimate, apesar do preço um pouco salgado.



Apesar de eu continuar mais fã de Tetris do que de Puyo Puyo, não posso negar que curti a variedade de jogabilidade proporcionada pela união dos dois jogos. Este tipo de jogo faz perfeito sentido em uma plataforma como o Switch e tenho certeza que vai ser uma figura recorrente em encontros com amigos. Quem sabe, um dia, eu convença eles de que Puyo Puyo também pode ser legal; mesmo os jogos juntos não sendo tão balanceados, há modos suficientes para tornar partidas divertidas. O preço de lançamento é um tanto alto para a versão digital, mas, excetuando isso, este é um jogo altamente recomendável para novatos e veteranos de Puyo Puyo e de Tetris.

Prós

  • Apresentação visual e sonora agradável;
  • Versão sólida tanto de Puyo Puyo quanto de Tetris;
  • Modos de jogo variados e que combinam ambos tipos de jogo adicionam longevidade ao título;
  • Tutoriais inclusos e vídeos oficiais ajudam a aprimorar habilidades nos diferentes tipos de jogo;
  • Ótimo para jogar com os amigos.

Contras

  • Narrativa da campanha é genérica, apesar dos personagens simpáticos;
  • Dublagens em inglês nem sempre são boas e não há a opção de mudar;
  • Colocar Tetris e Puyo Puyo em um confronto direto causa problemas de equilíbrio;
  • Ausência de versão digital no PS4 e alto preço no Switch torna-o menos acessível do que deveria ser.
Puyo Puyo Tetris — PS4 e Switch — Nota: 8.0
Plataforma usada para análise: Switch
Revisão: Luigi Santana 

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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