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Análise: For Honor (Multi): vivendo e morrendo pela espada

A mistura de samurais, vikings e cavaleiros funciona bem em jogo que traz ótimo sistema de combate.

Faz pouco menos de dois anos, na saudosa E3 de 2015, que a Ubisoft anunciou um novo jogo que, só pela premissa que trazia, já era digno de atenção. Juntando cavaleiros medievais, vikings e samurais em um mesmo campo de batalha, aquele título seria a materialização de inúmeras discussões que já houve mundo afora, para decidir quem teriam sido os melhores guerreiros da história, os mais fortes, os mais bravos. Foi assim que uma grande expectativa se criou ao redor de For Honor (Multi), lançado agora em fevereiro para PC, Xbox One e PlayStation 4. Com o jogo em mãos, podemos verificar se essa junção de povos tão diferentes, separados por milhares de anos e quilômetros, rendeu um título à altura da honra que esses guerreiros carregaram em suas épocas.



A essência do Guerreiro

Minha primeira experiência com For Honor foi na BGS 2016, onde pude testar uma prévia do jogo. Fazendo a comparação com o produto final, fico feliz que tudo aquilo de bom que havia antes se manteve, e veio ainda melhor. As lutas não são simplesmente "apertar botões” e a tensão de um confronto entre espadas continua sendo muito bem representada. É preciso estar a todo momento atento ao seu oponente, para tentar ler os movimentos dele e reagir da maneira correta, buscando uma brecha para atacar ou para escolher a melhor opção de defesa.

O sistema funciona da seguinte forma: você possui três instâncias de combate, que mudam a forma como seu personagem segura a arma (direita, esquerda e alta). Você altera as posições com o mouse ou o analógico esquerdo. Somado aos dois tipos de golpe, forte e fraco, existem seis opções de ataque básico. Para se defender de um golpe, você deve empunhar sua arma na mesma direção que está vindo o ataque. Essa indicação aparece na interface do jogo, mas é preciso ser ágil para aparar o golpe na hora certa. Você também pode se esquivar, o que é uma opção que sempre deve ser considerada.

Os controles de For Honor são um tanto quanto fora do padrão de jogos em terceira pessoa, o que vai exigir que você treine um pouco, tal como seria treinar uma arte marcial. A mudança de guarda e a execução dos golpes e defesas exigem uma resposta precisa, e dominar os comandos faz a diferença para que sua cabeça não seja decepada pelo oponente. Pra mim, o jogo fluiu muito melhor no controle (uso um DualShock 3 no PC) do que no teclado/mouse.

Cada personagem tem uma sequência de golpes próprios que, se bem utilizada, é mortal.
Isso que eu expliquei acima é o básico do básico, o jogo traz muito mais nuances em suas mecânicas, muito devido à diversidade de personagens, que adicionam várias camadas de complexidade no campo de batalha. Guerreiros mais robustos não sofrem tanto com o impacto de golpes fracos embora tenham movimentos mais lentos. Já aqueles focados em agilidade não podem descuidar da defesa, pois suas posturas de ataque duram apenas um intervalo de tempo. As variações de armas e dos próprios estilos de luta são suficientes para uma grande gama de opções. Mesmo guerreiros similares de facções diferentes têm habilidades e atributos próprios. Isso faz com que tenhamos experiências diferentes ao lutar com um Guardião, um Invasor ou um Kensei, que são personagens considerados equilibrados em seus atributos.

Ainda sobre personagens, vale ressaltar o belo trabalho na inclusão de personagens masculinos e femininos. Dos quatro personagens que representam cada facção, em dois deles, o jogador pode escolher o gênero do guerreiro. Já os outros dois personagens tem gênero fixo, mas sempre são um homem e uma mulher. Mas tão importante quanto a isso é o design das armaduras, que, além de belíssimo, respeita o que é esperado para alguém que está no meio de uma matança no campo de batalha. Não foi criada uma necessidade de se fazer uma armadura “feminina”. Uma armadura é uma armadura e pronto.


Os campos de batalha

Toda a arte de luta que as boas mecânicas de combate nos proporcionam é colocada a prova nos modos multiplayer, que são divididos em Mata-Mata, Duelo 1x1 ou 2x2, e Domínio. Esse último é considerado por muitos como o modo “principal” do multiplayer, sendo o de maior destaque. Sendo uma variação do clássico “domine o ponto”, cada time, de até quatro jogadores, deve somar mais pontos dominando bases específicas e eliminando os adversários. Ao somar 1000 pontos, os adversários não conseguem mais voltar à partida após mortos. Uma vez que todos os inimigos são executados, a partida se encerra.

É nesse modo de dominação que temos pontos que são disputados por tropas comuns, trazendo momentos onde podemos retaliar vários "soldadinhos" sem muita dificuldade, o que é bem divertido. Mas não os subestimem: mesmo que esses soldados rasos não tenham força para te matar, eles podem, no meio da batalha, te acertar um golpe que abra sua defesa e que um jogador rival pode usar para ceifar sua vida. Ser descuidado nunca é um bom negócio, principalmente no meio da guerra.

Além dos modos tradicionais, existe uma espécie de meta-jogo (em minha opinião, um tanto quanto confuso). Ainda nos menus do jogo, você pode escolher representar cavaleiros, vikings ou samurais. No mapa do mundo do jogo, que é dividido em vários pequenos territórios, você pode escolher defender um espaço da sua facção ou atacar um rival. E aí, conforme as vitórias e derrotas no servidor vão sendo registradas, a cada rodada os vencedores podem ganhar alguns itens, como equipamentos ou dinheiro in-game. Feliz ou infelizmente, você pode simplesmente ignorar tudo isso se não se importar com essas mecânicas.

Os modos de jogo de batalhas só entre heróis são bem interessantes, pois são mais tensos e exigem mais atenção.
Um problema mais sério, pelo menos na versão de PC (a qual estou jogando), é quanto ao estado dos servidores. O jogo usa conexões P2P (ponto a ponto) ao invés de servidores dedicados, o que parece estar sendo um problema, já que, nesse tipo de configuração, todos os players estão conectados entre si. Na minha experiência, usar a opção Partida Rápida sempre foi a escolha mais demorada, e geralmente as opções mais rápidas eram os modos que envolviam menos jogadores na sala (o máximo são 8 jogadores na mesma partida, nos modos 4 x 4).

Dentro de uma partida, não cheguei a ter problemas de conexão, mas não foram poucas vezes que vi vários players caindo nos primeiros segundos de jogo, sendo substituídos por bots . Olhando as análises na página do jogo pelo Steam, é fácil notar que há uma boa quantidade de pessoas com problemas piores que os meus. Acredito que a Ubisoft já esteja trabalhando em soluções para isso e que, eventualmente, essa questão seja minimizada. Ainda assim, é mais um jogo que perde parte de seu brilho no lançamento por problemas em modos on-line.

Encerrando o assunto de modos de jogo, For Honor também nos traz uma campanha single player que é bem mediana. Dividida em três capítulos, o primeiro, dos cavaleiros, é bem monótono. Nos seguintes, dos Vikings e dos Samurais, ela fica mais interessante, mas não espere uma trama muito elaborada. É uma boa forma de experimentar vários personagens diferentes, os mapas são grandes e as batalhas ajudam a treinar. Ele é dividido em quatro dificuldades, onde a última não possui interface de combate, o que é um desafio interessante. Resumindo, o modo história não se justifica como um grande chamariz, como a campanha de Titanfall 2 por exemplo, mas fico feliz que ele exista.

O modo história não é muito criativo, mas pode ser um bom lugar para praticar sua perícia com a espada.
Por fim, vale fazer comentar sobre os gráficos do jogo, que são ótimos. O design das armaduras e das inúmeras opções de capacetes, torsos, ombreiras, lâminas e empunhaduras é muito detalhista e dá um espaço para diversas ideias de customização. Além da mudança estética, parte desses itens podem alterar atributos do personagem, como velocidade de corrida, defesa ou quantidade de recuperação de vida após uma execução. Esses itens podem ser ganhos em loots após a partida ou através de caixas surpresa, compradas por "Pedaços de Aço", moeda interna que é ganha jogando no multiplayer, realizando missões diárias ou adquirido com dinheiro real. As melhoras são bem sutis e não farão você jogar melhor ou pior, sendo mais um ajuste fino para cada personagem. Até porque, com a pretensão da Ubisoft de tornar For Honor um jogo grande nos e-sports, incentivar um modelo "pay-to-win" seria um tiro no próprio pé.

O jogo está todo localizado em português brasileiro, e é fácil perceber diversas vozes conhecidas, de dubladores famosos que já estão no mercado há tempos. Contudo, em alguns momentos, algumas falas me soaram meio fora de tom. Já vi diversas entrevistas onde dubladores comentam que, em dublagem de jogos, é comum receber só os textos, o que dificulta achar a entonação mais adequada. Não sei se foi o caso aqui, mas algumas  passagens realmente me incomodaram. Mas foram situações bem pontuais.

Por outro lado, a versão de PC oferece a opção para que o jogador escolha o áudio entre diversos idiomas: inglês, espanhol, alemão, polonês, etc. E entre essas opções, existe também o japonês, algo bem incomum em jogos ocidentais. E eu recomendo fortemente a vocês, pelo menos no capítulo três da campanha, o dos samurais, a fazerem essa alteração.

É possível alterar várias partes das armas e das armaduras.

O Destino do Guerreiro

For Honor é um grande lançamento que traz muitas novidades para o mercado. Seu sistema de combate é diferente e instigante, e posso dizer que ele flerta muito com jogos de luta, no que diz respeito a encaixar golpes precisos no momento certo, à leitura dos movimentos do adversário e na rápida tomada de decisão que deve ser feita para ganhar um confronto. A diversidade de opções faz cada personagem uma escolha única, ventilando bastante o campo de possibilidades nas partidas on-line. Vale mencionar que a Ubisoft ainda planeja lançar mais seis personagens durante o ano, que fazem parte do Season Pass.

Todo esse esforço na criação de um bom sistema de lutas faz com o que o multiplayer seja bem desafiador, com todas as regras (e a falta delas) que existem em um campo de guerra.Infelizmente os problemas dos modos on-line apagam um pouco do potencial do jogo, mas felizmente isso é algo que pode ser corrigido com o tempo. Esperamos que seja pelo menos. Até porque o jogo é uma ótima opção para quem gosta de jogos competitivos, e quer algo diferente dos FPS ou Mobas que dominam atualmente.

Prós

Sistema de combate;
Design e personalização de armas/armaduras;
Modos multiplayer divertidos;
Diversidade de personagens.

Contras

Servidores on-line apresentam instabilidades constantes;
Demora em achar partidas;
Meta-jogo de facções meio confuso.

For Honor - PC/PS4/XBO - Nota: 8,5
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Arthur Maia

Formado em Game Design, desistente da Matemática Aplicada e atualmente cursando Jornalismo. Ainda aguardo o retorno triufal da Sega, fã de Metal Gear, Dark Souls e várias coisas vindas lá do Japão.
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