Jogamos

Análise: Thea: The Awakening (PC) é estratégia em turnos inspirado na mitologia eslava

Game mistura cartas, RPG e elementos folclóricos para criar uma experiência única e divertida.

Há produtores que utilizam games de sucesso como ponto de partida e acabam enfiando os pés pelas mãos. Misturam elementos de vários títulos e pensam que isso vai resultar na fórmula mágica da aceitação. Thea: The Awakening, contudo, é uma bem-vinda surpresa. O jogo indie se apropria de mecânicas consagradas, adiciona uma história única e cria um mundo sombrio e instigante.


É difícil classificá-lo em apenas um único gênero. Ele possui estrutura similar à de games de estratégia, com visão superior e controle via mouse. No entanto, a movimentação dos personagens segue a linha de Civilization — casas hexagonais e deslocamentos limitados por turnos. Há elementos de games de sobrevivência, sendo obrigatórios a coleta de madeira para construções, alimentos para manter de pé seus guerreiros e trabalhadores e matérias-primas para fabricação de armas, roupas, armaduras e aprimoramentos na base. Simultaneamente, o sistema de batalhas é inspirado no bom e velho Gwent, de The Witcher 3.

Déjà vu? Parece, mas não é...

O enredo é inspirado na mitologia eslava, ou seja, de países do centro-leste europeu, e é explicado logo no início. Como muitas histórias daquela região, esta é cheia de criaturas mágicas, monstros terríveis e guerras implacáveis. O mundo vive uma época de trevas que já dura um século. A missão do jogador é despertar um deus de uma era antiga para proteger uma das poucas cidades que ainda se mantém de pé no velho continente de Thea. Somente a força vital destes devotos fará com que o deus retome seus poderes e consiga restaurar a luz.
O jogo começa com a seleção do protagonista em um pequeno panteão de criaturas divinas, das quais apenas duas estão disponíveis logo de início. Cada uma representa um reino diferente e, portanto, têm diferentes forças e fraquezas, além de poderes exclusivos. Essas habilidades especiais somente são liberadas conforme se acumula experiência proveniente de batalhas, objetivos e tarefas.

Apesar da vasta gama de opções, a mecânica de movimentação é bem simples. Funciona como em um jogo de tabuleiro: é possível andar até cinco “casas” por rodada com cada expedição. É possível acampar para recuperar vida e coletar itens ou simplesmente partir para cima dos inimigos.

Um vasto mundo sombrio para desbravar

O mapa é gerado progressivamente, o que significa que ele jamais será igual, sendo criado conforme o avanço do jogador. A neblina cobre boa parte do cenário e restringe a visão do controlador sobre os perigos à frente. Podem ser monstros errantes ou eventos aleatórios capazes de causar ferimentos ou envenenar seus aliados. Esses eventos são histórias paralelas que podem ter diversos desfechos: itens obtidos, experiência para fortalecer seu deus, novos aliados, batalhas sangrentas ou lutas táticas. 



Os aldeões podem morrer de fome se você não tiver quantidade suficiente de alimentos para todos. Os moradores também necessitam de combustível para mantê-los aquecidos e para serem capazes de trabalhar de forma eficiente em suas tarefas. Por isso, é preciso colocá-los para coletar recursos nas proximidades. Trabalhando a todo vapor, eles conseguirão elaborar itens úteis ou construir edifícios para melhorar a produção e coleta de itens na aldeia.

As expedições são organizadas pelo jogador ao destacar habitantes da aldeia para desbravar o mundo. É importante selecionar os melhores guerreiros para saírem na caçada, adicionar equipamentos e levar muitos suprimentos extras. É possível carregar consigo alguns bons coletores também para garantir madeira e comida. Estes, no entanto, mais fracos, devem ser preservados nas batalhas para se evitar baixas. As expedições, também, são uma forma valiosa de se obter itens raros e utilizados na criação de armas e armaduras poderosas que concedem bônus nas estatísticas de movimento, saúde e cura, entre outras.

Quando tem início uma luta, entra em cena a mecânica dos cards de batalha. Seus aldeões assumem a forma de cartas que possuem ataque, defesa e armadura. Alguns guerreiros têm habilidades como atacar primeiro ou deixar inimigos atordoados. Outros podem reforçar a defesa de um aliado ou conceder mais ataque. É um sistema ligeiramente complexo, mas que pode ser aprendido com algumas batalhas. Depois de algumas rodadas — e derrotas — pega-se o jeito, e o jogador logo se verá desenhando estratégias e montando táticas para derrotar adversários mais “casca-grossa”. Quanto mais difícil a luta, melhor será a recompensa.
 É fácil entender por que o sistema de batalha é parecido com Gwent: um dos produtores trabalhou na CD Projekt Red.

Parte técnica simples e competente

O motor gráfico é um dos pontos de menor destaque em Thea: The Awakening. Desenvolvido em Unity, linguagem utilizada em muitos games para smartphones, os terrenos são pouco definidos e não há muita variedade entre os cenários de Thea. Personagens têm animações simples, nada que salte aos olhos. Os eventos utilizam belas imagens desenhadas a mão, auxiliando na imersão das histórias. 

A maior parte do enredo se desenvolve em diálogos escritos na tela, mas existe também uma competente dublagem dos personagens principais. Eventos importantes, como o tutorial, são narrados em inglês de uma forma bem agradável, como se estivéssemos ouvindo um conto.


O tutorial, no entanto, deixa bastante a desejar e pouco orienta o novato em relação à jogabilidade. A melhor forma de aprender é na base do erro e do acerto, o que leva tempo e pode frustrar jogadores mais impacientes. A morte de um ou mais guerreiros, por exemplo, pode ter um impacto devastador no seu game e acabar literalmente com ele. Aí o jeito é recomeçar tudo do zero.

O despertar de Thea

Thea: The Awakening inova por reunir com eficácia mecânicas tão diversas em um game divertido e desafiador. Apesar de complicado no início, o sistema de combate por cartas se mostra uma sacada inovadora e que encaixa perfeitamente na proposta da MuHa Games.


O game está disponível apenas para PC via Steam. Embora não possua o acabamento de um título AAA, é certamente um jogo único e que garante muitas horas de diversão, seja para desbravar o mundo, desafiar-se na dificuldade mais elevada ou desbloquear todos os deuses e despertar Thea da escuridão perpétua.

Prós

  • História única, curiosa e bem desenvolvida;
  • Mecânicas diversificadas e bem encaixadas;
  • Viciante e desafiador;
  • Sistema de combate criativo;

Contras

  • Pouco acabamento visual;
  • Tutorial pouco explicativo;
  • Pode ser frustrante ter que recomeçar após horas de jogo.

Thea: The Awakening — PC — Nota: 9,0

Revisão: Henrique Minatogawa
Revisão: Esdras Ferreira

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google