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Análise: Painters Guild (PC) apresenta a arte do pintar, bordar, e gerenciar

Indie, simples e extremamente artístico, este jogo brasileiro quer impressionar por suas referências e apelo histórico.

Em meio a lançamentos tão esperados, como Metal Gear Solid V: The Phantom Pain, encontramos Painters Guild, um jogo inteiramente desenvolvido de forma independente pelo brasileiro Lucas Molina. Com foco no gerenciamento de uma guilda de pintores durante o período do Renascimento, o título garante a diversão mesmo daqueles não familiarizados com o gênero e que tenham uma queda por gráficos pixelados.

Carimbando o passaporte

Ao criar um novo jogo você será apresentado a um painel em que poderá escolher qual será a cidade que vai construir sua guilda — faça sua escolha entre Florença, Veneza, e Roma —, mas tenha cuidado e veja mais do que o nome de uma cidade histórica, cada uma tem suas características marcantes e atributos que ajudarão no trajeto dos seus artistas.

Arrume a bagagem, escolha suas roupas, pegue seus pincéis e prepare suas tintas. Está na hora de viajar! O seu destino será incerto, mas uma coisa é certa:

Todo mundo morre no final

No maior estilo Game of Thrones, saiba, todos os artistas morrem, incluindo aquele seu personagem que você teve tanto carinho em escolher suas roupas. Não importa se é jovem ou velho, hetero ou gay, homem ou é mulher. A morte chega para todos.

Mesmo que seja parente de Kratos.


Os mais velhos, com cerca de 50 anos, costumam morrer de maneira natural. Os jovens não escapam, podem ficar doentes por algum fator externo, como examinar um cadáver, o contágio com outro enfermo por estarem em um mesmo espaço, ou a descoberta se sua sexualidade "controversa". Ou seja, não adianta gastar muito tempo customizando o personagem, pois ele morrerá logo — esqueça o seu lado The Sims.

Dependendo da popularidade do pintor, em seu funeral poderá ter somente 100 ou cerca de 1000 pessoas, um pequeno sinal do apocalipse que estará por vir. Perder um artista — temporariamente (por meio de prisões ou excursões) ou para sempre (morte) —, não é fácil, ainda mais quando ele era famoso e fazia bons quadros. Enxugue as lágrimas e procure logo por outro, já!

Recrutar é uma ação paga, vai desde 100 moedas, lhe entregando 3 opções sortidas na hora, até 500, em que são garantidos candidatos de grande talento, mas será necessário mandar um dos seus artistas para buscá-los, e sua ausência durará 50 dias.

Para dar um toque mais histórico, os pintores mais importantes do Renascimento serão disponibilizados pouco a pouco. O preço não é tão acessível, aliás você vai comprar um indivíduo famoso. Cuidado caso resolva escolher o Leonardo Da Vinci, no jogo ele é gay: olha o risco de morte prematura aí...

Porque o prestigio é questão de status

Tornar um cliente fiel requer mais do que uma etiqueta de “volte sempre”, é preciso conquistar com um trabalho bem feito. Painters Guild entendeu bem isso.

Cada cliente chega com um quadro em branco e a dificuldade dele, algo alinhado com sua beleza. A classificação é por estrelas. Se chegar a missão de fazer uma pintura de 4 estrelas, seria loucura por um artista com talento meia estrela para a tarefa, ele poderá não conseguir fazer em tempo, antes ainda na qualidade esperada — isso renderá um pagamento injusto para tamanho esforço.

Os clientes também podem vir com um cânone (estilo de pintura) específico. Desde o cangiante até o chiaroscuro, e contendo já o tenebrismo — estilo nascido no Barroco com elementos do Renascimento. Se o quadro for pintado do jeito que se foi pedido, algumas moedas extras serão pagas, e caso o cânone esteja na moda¸ irá render um retorno maior.



A não entrega das obras irrita os clientes, e fazer eles esperarem o atendimento por muito tempo também os deixa estressados. A satisfação deles pesa na imagem da guilda. A imagem seria o chamado prestigio no jogo, ele que dita o número de clientes, quem são e os níveis de dificuldade dos quadros.

É comum que após a morte de um pintor importante da guilda, fique mais difícil entregar as obras na qualidade e no tempo esperado. O prestigio diminuirá aos poucos, até que tenha outros artistas para suprir o vazio que a morte causou.

É a crise

Em Painters Guild você terá que fazer mais do que somente arrastar bonecos, irá aprender a gerenciar a produção de quadros, tinta e saber aproveitar o tempo, pois ele vale dinheiro, e muito dinheiro. Aprenderá com eventos do cotidiano do jogo.

Uma cliente coincidentemente parecida com a rainha Elizabeth II chega pedindo um quadro difícil de se pintar e você não acha que seus homens serão capazes de fazê-lo? Recuse e evite que ela saia da guilda irritada e diminuindo o prestigio da mesma de maneira considerável. Só será gasto tinta, energia dos pintores e tempo que poderia ser aproveitado na construção de outras obras. Sem a organização necessária, o dinheiro não vai chegar, o que é comovente e desastroso.

Como todo jogo com opção de compra, há os objetos básicos e os de luxo, aqui eles são extremamente caros. Com 500 moedas se paga uma expansão da casa, abrindo assim espaço para um outro pintor. Então por que gastar 800 para um móvel de dormir?



Em um momento você se sente rico, mesmo tendo pouco, satisfeito só por estar conseguindo poupar e ganhar o dinheiro com a entrega consecutiva de bons quadros. Então, para acabar com sua alegria, vêm os impostos, que são nada mais do que suas despesas. No começo é um certo preço, se não pagar logo, com o tempo a dívida vai aumentando de moeda em moeda. Rapidamente, do dinheiro que estava sendo reservado para procurar um novo artista, a metade que tinha sumiu em um clique.

Trocando o forninho de lugar

Mais uma vez o jogador terá seu lado The Sims invocado ao ver as opções de decoração disponíveis. Experimente trocar o assoalho, o teto, as paredes, para sentir já uma diferença.

Alguns objetos também chamam atenção. Que tal uma escrivaninha sob uma caveira em um quarto escuro de paredes de pedras, e bem ao lado um cadáver para o estudo da anatomia humana? The Sims... The Sims…



Mais do que estética, os objetos não são somente de decoração, dependendo, eles podem atribuir mais prestígio à guilda, oferecer a troca do estilo de pintar, troca de roupa, recarregar as energias mais rápido, entre outras utilidades que devem ser aproveitadas para tornar a jornada mais agradável.

A História continua

Enquanto você se mantém ocupado com sua guilda, o mundo lá fora continua a se desenvolver. Então um mensageiro virá de tempos em tempos para lhe noticiar sobre os eventos importantes que ocorrem. As aulas de História voltam à cabeça, mas não se engane, não é revisão pro Enem.

Como o tempo continua fluindo, o Renascimento vem, o Renascimento vai. De 1400 a 1620, o movimento artístico será predominante e eventos históricos estarão acontecendo, e artistas famosos vão sendo disponibilizados. Após esse período o Barroco passa a ser o “protagonista”.


Últimas camadas

Painters Guid é um jogo bastante singular. Sua jogabilidade é extremamente fácil, mas não é permitido enganar-se com os bonecos carismáticos, o visual pixelado e simples, porque os jogos indies estão aí para demonstrar que mesmo com simplicidade e controles fáceis, pode ser muito desafiante jogar.

Os acertos se concentram nos personagens que são variados, graças à personalização, que também merece elogios, pois é muito diversa. A trilha sonora nos leva realmente para os tempos medievais, juntamente com os eventos históricos — impossível não se lembrar do professor de História — que nos deixa ainda mais penetrados na Idade Média.

Algumas falhas são percebidas pelos mais experientes no gênero de estratégia em tempo real. Por que não posso controlar o tempo a partir das teclas? Apertar em “espaço” e perceber que nada aconteceu é se sentir enganado por um vício herdado em outros jogos.

Há uma coisa que nos deixa surpresos. Apesar de ter sido desenvolvido por um brasileiro, não há o nosso idioma no jogo, está todo em inglês. Compreensível, caso tenha sido necessário poupar tempo de desenvolvimento, mas seria positivo uma tradução em uma atualização futura.

Painters Guild acaba por ser aqui ironicamente comparado a um quadro, é bonito, é divertido em seu tempo, interessante, mas em uma outra perspectiva ele é cansativo e limitado; entretanto como toda obra de arte, é necessária uma restauração, quem sabe uns pequenos retoques não lhe dariam uma melhor aparência?

Prós

  • Muitas opções de customização de ambiente e personagens;
  • Referências históricas;
  • Trilha sonora erudita;
  • Sistema engenhoso de prestígio;
  • Eventos inesperados.

Contras

  • Upgrades caros;
  • Totalmente em inglês;
  • Repetição deixa a campanha limitada.
Painters Guild — PC — Nota: 8
Revisão: Alberto Canen
Capa: Nívia Costa 

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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