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Análise: Anna's Quest (PC) é uma adorável e desafiante aventura

Inspirado nos contos de fadas, acompanhamos Anna em uma aventura em busca de uma cura para a misteriosa doença de seu avô.


Em outubro de 2012, Anna's Quest surgia no Steam Greenlight, com boa recepção pelo público que acompanha os títulos no Greenlight.

Desenvolvido pela Kramsdesign, uma empresa independente de design e desenvolvimento de jogos, especializada em jogos de aventura e animações 2D. Ela retirou o jogo do Greenlight em março de 2013. Na ocasião, a empresa informou que o jogo não seria descontinuado, mas estava sendo retirado por uma boa razão, que não poderia ser revelada ainda.


Em agosto de 2014 foi feita a revelação: o jogo se tornou um título da Daedalic Entertainment, responsável por títulos como Deponia e Chaos on Deponia, Edna & Harvey, The Whispered World, e que ficou a cargo da publicação de Anna’s Quest, com lançamento previsto para o próximo dia 02 de julho, para PC e MAC.

Anna's Quest é um jogo de aventura point & click bastante interessante. Sua premissa básica, sua inspiração, são os contos de fadas, em uma versão mais sombria, mas com muito bom humor e personagens cativantes.

Um mundo encantadoramente sombrio

No início, após a escolha de idioma e legenda, inicia uma narração, que refere que tudo começou há muito tempo com duas crianças, mas sem dar maiores detalhes.

Após, começa uma animação na qual somos apresentados à Anna e ao seu avó, com quem Anna mora em uma fazenda cercada por uma floresta muito escura. O avô de Anna sempre lhe recomenda que não se aproxime da floresta, pois lá vivem criaturas malignas, sendo até um pouco paranóico quando Anna se afasta um pouco mais da casa para ajudá-lo nas tarefas da fazenda. Na verdade, ele até prefere que ela não ajude para que ela não se aproxime da floresta de modo algum, o que já desperta uma certa curiosidade no jogador quanto à tanta preocupação.

Mas eu só queria ajudar nas tarefas, vovô...
Porém, certo dia o avô de Anna adoece misteriosamente e, apesar dele fazê-la prometer que não irá até a floresta em busca de uma cura para a doença do avô, a menina decide atravessar a floresta de qualquer modo, a fim de ir até o vilarejo mais próximo em busca de uma solução. Infelizmente, por mais cautela que tome, Anna é sequestrada por uma bruxa má, e presa em uma torre.

Já na torre da bruxa, começam realmente as interações com o jogo. No primeiro capítulo do "livro", sim, a história alterna o jogo com trechos em que as imagens são mostradas em tons de bege numa página branca, com uma agradável voz feminina narrando a "história", como se fosse um conto de fadas mesmo, a cada troca de "capítulo" do jogo.

Até que esta torre nem parece tão ruim assim.
Após esta introdução, segue um diálogo de Anna com a bruxa, ainda em tons de bege, nos revelando que a bruxa vem fazendo "experimentos em Anna" a fim de ativar um poder telecinético que a menina supostamente tem, quando ocorre, então, troca pelo cenário colorido, com cores "fortes, porém suaves", tons escuros, sombrios, mas ainda assim suaves, sem grande saturação, onde sempre começa a interação. A partir daí nos é dada a opção de realizar o tutorial.

Dando os primeiros passos…

O tutorial é bem objetivo, e embora alguns comandos básicos pareçam bem simples e intuitivos, tais como aprender a clicar em objetos para ver as opções de interação, há também a apresentação de mais alguns botões e teclas de atalho para habilitar novos tipos de interação com os objetos.

Você já começa a jogar com Anna e a resolver os primeiros puzzles para completar o objetivo do primeiro capítulo. Conhece o ambiente e aprende os comandos essenciais, enquanto vai realizando o tutorial. A cada novo tipo de puzzle que surge, o tutorial vai apresentando um quadro negro explicando as novas interações, e se você quiser rever alguma explicação, há um ícone do quadro negro no canto superior direito.



A maneira como ele se integra na história é interessante, e embora possa parecer um pouco chato a princípio, é divertido ter esse auxílio na descoberta dos comandos, fazendo com que valha a pena habilitar o tutorial. É importante dizer, contudo, que há alguns comandos que o tutorial não explica de forma muito clara: ele te explica que se você clicar com o botão da roda do mouse, você verá círculos sobre todos objetos clicáveis com os quais se pode interagir, e que clicar com o botão esquerdo abre a interação, mas não te conta que vale a pena, sempre, clicar também com o botão direito em tudo, pois há objetos que apresentam novas informações, inclusive sobre a história, dando pequenas pistas ou dicas de o que pode ser combinado para resolver os puzzles.

Finalizado o tutorial, logo você começa o segundo capítulo, com o objetivo de conseguir escapar da torre, onde você segue pelos cenários da torre, resolvendo puzzles e conhecendo os primeiros personagens, fora a bruxa, que vão te ajudar na missão de escapar da torre para seguir na busca da cura para o avô de Anna.

Há um simpático urso de pelúcia falante, chamado Ben, que um dia já foi um menino. Há fantasmas simpáticos e com histórias trágicas, valendo a pena sempre explorar todas opções de diálogo com os personagens, e interagir com eles mais vezes após a resolução de cada puzzle.

Mais e mais curioso

Anna fica curiosa sobre a bruxa, que, como já dito, vinha fazendo experimentos nela a fim de habilitar seu poder de telecinese, poder este que se torna também elemento importante na solução dos desafios propostos pelo jogo, todos bem equilibrados. A bruxa comenta que Anna tem o poder, assim como "ele", sem dizer quem é esse ele.

Um dos fantasmas conta que conhecia a bruxa há anos, comenta sobre pessoas de um retrato, e assim nos tornamos curiosos sobre a história da bruxa, a qual vai se ligando ao poder de Anna, à história dos personagens individuais que vão surgindo, e à história do avô de Anna.

Joringel, o fantasminha camarada e apaixonado, cuja alma foi aprisionada na torre.
Há um espelho mágico, no melhor estilo espelho da Rainha Má da Branca de Neve para te ajudar, o urso Ben se torna seu companheiro na busca da menina pelo “Mago de Coração Puro”, enquanto Ben deseja voltar a ser um menino, quase como os companheiros de Dorothy na sua saga atrás do Mágico de Oz, ou como Pinóquio querendo deixar de ser brinquedo para se tornar um menino.

O jogo não é curto, rendendo umas boas horas de diversão com desafios na medida certa, sem ser infantil. A história vai sendo costurada aos poucos, conforme pequenos pedaços de informação vão sendo revelados, aumentando cada vez mais a curiosidade do jogador. Há muito mais por trás da história do que o primeiro capítulo apresenta, o que se confirma a partir do terceiro capítulo, a chegada de Anna à Vila de Wunderhorn, que passa a levantar, de forma indireta, diversas questões, principalmente conforme novos personagens vão sendo apresentados (tal como o grupo musical formado por animais, no qual existe um galo chamado Roostwig Van Beethoriki, em alusão a Ludwig Von Beethoven.

Pense fora da caixa

Os puzzles e desafios propostos são inteligentes, embora em sua maioria simples, havendo, claro, alguns de resolução óbvia. Porém, uma grande parte deles, mesmo em sua aparente simplicidade, nos desafiam a pensar fora da caixa, a tentar combinar objetos de forma inusitada, no cenário ou no inventário, que aparentemente não possuem relação nenhuma com o jogo, e quando você os resolve, fica com aquela sensação de "puxa vida, era tão simples, como não percebi antes"? Por isso, novamente, fica a dica: vale tentar combinar objetos que parecem não ter relação nenhuma e clicar com o botão direito em itens dos cenários, em itens do inventário, inclusive depois de completar alguns desafios, a fim de obter mais informações que auxiliem em suas missões.

Esta é Anna, tentando usar sua telecinese para resolver um puzzle. Tarefa árdua.
Embora a maioria dos puzzles sejam bem planejados, há alguns poucos, porém, bem difíceis de resolver mesmo pensando da forma mais criativa possível. Isso pode fazer o jogador ficar cansado de não conseguir evoluir, por nenhuma solução parecer funcionar, mesmo quando já tentou tudo que parecia possível, o que pode desagradar a algumas pessoas. Foram raras as vezes em que isso ocorreu, mas, quando aconteceu, o sentimento de frustração foi grande, fazendo com que desistisse de jogar e só retomasse o jogo algumas horas depois.

Ambientação sonora ideal

A troca entre os capítulos é sempre precedida das cenas em bege numa página branca com a agradável narradora contando-nos mais da história e antecipando um pouco do que nos espera a seguir. A trilha sonora que nos acompanha em todos momentos do jogo, por sua vez, vai do suave ao dramático nos momentos certos, sendo as músicas muito bonitas e agradáveis, algumas lembrando um pouco a conhecida e típica música de filmes de contos de fada, a "música da fadinha", Sugar Plum Fairy.

Chegando a um veredito

No geral, o jogo é uma excelente aventura point & click. Tem a dose certa de desafio, salvo as raras exceções comentadas, os problemas são inteligentes, simples, mas nem sempre óbvios como podem parecer logo de cara. A história é aprofundada, cheia de camadas que vão se revelando ao longo do jogo, em pequenas doses. O visual é colorido sem ser extravagante, conseguindo manter o ar sombrio do mundo que cerca Anna, sendo bastante belo de se ver, e a trilha sonora está na medida exata para enriquecer a experiência e aumentar o ar de contos de fadas da trama.

Os defeitos, mesmo, podem nem ser um defeito para alguns, mas vão desagradar a muitos. Não é um jogo para ser terminado em três ou quatro horas de jogo, já que o desenvolvimento da trama é um tanto lento. Tampouco é um jogo para os impacientes: é necessário ler muitos diálogos, interagir e ler todas informações possíveis dos objetos, repetindo a interação após a resolução de outros puzzles, e há momentos que desafiam a paciência do jogador, causando frustração aos mais apressados ou com dificuldade em prestar atenção aos detalhes.


Ainda assim, para os pacientes, amantes de jogos point & click com muita história, que adoram ser obrigados a pensar de formas muito criativas e com uma queda por histórias intrincadas, com uma dose de mistério e os dois pés no mundo fantástico dos contos de fadas, vale a aquisição.

Vale lembrar, novamente, que o jogo será lançado para PC e MAC em 02 de julho de 2015, e estará disponível na Steam.


Prós

  • Personagens cativantes;
  • Visual bonito e agradável, com tons fortes e sóbrios, mas com saturação moderada;
  • História que mistura humor, mistério e desperta a curiosidade do jogador;
  • Trilha sonora digna de qualquer filme ou animação de contos de fadas;
  • Puzzles em sua maioria bem equilibrados, simples e inteligentes, fugindo do óbvio.

Contras

  • A história é revelada aos poucos, com muitos diálogos e informações, o que pode afastar pessoas mais impacientes, que preferem mais ação e menos textos;
  • Alguns puzzles, embora poucos, podem causar grande frustração, fazendo que o jogador se sinta compelido a parar a jogatina por um tempo.

Anna's Quest — PC/MAC — Nota: 9.0

Capa: Felipe Fabrício
Revisão: Luigi Santana

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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