Final Fantasy VI (Multi) e a genialidade da cena da Ópera

O sexto título da popular franquia da Square traz inúmeros momentos inesquecíveis. Relembre conosco essa passagem memorável do game.

em 31/03/2015
Se Final Fantasy VII é o mais popular dos jogos da série, na maioria das listas e discussões é Final Fantasy VI que é frequentemente considerado a obra-prima. Além de ser o apogeu da franquia no Super Nintendo, o jogo contou uma história séria, cheia de personagens memoráveis e momentos impressionantes. Tudo isso aliado a um design pensado para as especificidades do grupo e do enredo. Uma das mais belas cenas do jogo é, também, uma das mais inteligentes da franquia. Hoje, convidamos vocês a entrar na Ópera.


Tudo começa quando o grupo precisa de um veículo aéreo para chegar à cidade de Vector. Normalmente, os jogos do gênero faziam (e fazem) você passar por mais uma dungeon até conseguir por as mãos em uma airship. Final Fantasy VI propoz uma outra coisa completamente diferente.

Celes ou Maria?

O infame sujeito chamado Setzer é um maníaco que quer sequestar a cantora e atriz Maria, que está escalada para representar uma personagem, também chamada Maria, na Ópera pertencente ao Impresario (é, esse é o nome do empresário da música). Os heróis descobrem que o tal Setzer além de possuir uma airship pretende raptar Maria na noite da exibição, e, claro, resolvem ir até lá.
A chegada do grupo na casa de Óperas.
Impresario fica tenso com a notícia de que Maria será raptada. Locke tem então uma ideia brilhante: já que Celes, muito convenientemente diga-se de passagem, é idêntica à cantora, o plano será deixar Setzer raptá-la, fazendo assim o grupo se infiltrar na nave. Celes, no entanto, precisará cantar e atuar na Ópera.
O plano "genial" de Locke.
Nesse momento a trama se subdivide em quatro narrativas distintas, ainda que integradas: A história de Celes, que precisará virar Maria e atuar na Ópera; O romance de Locke e Celes, que começa a se desenvolver; O duelo entre Ultros e Impresario, enquanto o dono da casa de shows se descabela com a possibilidade da peça dar errado, Ultros — o polvo roxo — quer mesmo é acabar com o espetáculo; e o desenvolvimento da Ópera de Maria e Draco em si.

Abrem-se as cortinas

Acaba a primeira alegre cena em que os atores e suas intenções nos são apresentadas. A comédia dá então lugar ao pesado e inebriante interlúdio da Opera.

Enquanto o narrador nos dá o contexto do primeiro ato — os reinos do leste e do oeste estão em guerra, o soldado Draco se vê longe de sua amada Maria —, é impossível não perceber a absurda e rica melodia que conseguiram enfiar de alguma forma naquele cartucho de 16 bits. É então que Draco começa a cantar, e a magia cresce exponencialmente. Como dar a impressão de que uma Ópera esta acontecendo em um console de 1994? Assim:

Depois da cena de Draco, Locke resolve ir conversar com Maria, digo, Celes. O ladino já perdeu alguém que não conseguiu salvar em sua vida, e a moça só conheceu a guerra e o ódio. O relacionamento entre eles começa a se delinear a partir daqui. Mas à parte de qualquer flerte, a jovem guerreira precisa se preparar para não errar suas falas.
Em 1994 o jeito de mostrar o interesse de Locke era deixando o rosto dele vermelho.
Voltamos então para a Opera, nela Maria, personagem de Celes, agora noiva do vencedor da guerra, um homem que ela não ama, pensa em seu amado Draco. Para não deixar o jogador assistindo o tempo todo, o jogo dá a possibilidade de escolhermos a fala de Maria. Não tem problema errar, mas é legal tentar lembrar quais as linhas da personagem.


Maria (Celes) vê o fantasma de Draco, e nesse momento seu novo marido chega. A próxima cena os mostra em um baile, e uma bela valsa toca. Voltamos para Locke, que fica maravilhado com a cena vendo por trás do palco. E no caminho de volta ao camarote encontra a carta de Ultros.
A quem ele deve uma? Impresario ou o grupo de heróis?
A banda de Nobuou Uematsu, The Black Mages, também traz a versão das quatro músicas que compõem a Ópera em seu terceiro álbum: Darkness and Starlight. É bem legal ver o arranjo para guitarras e outros instrumentos, enquanto as vozes cantam o texto original em japonês.

As duas batalhas

Temos que contar para o Impresario sobre o plano para acabar com o espetáculo. Mas como Ultros vai destruir a Ópera? Já voltaremos a isso. No exato momento em que Locke conta para Impresario sobre o plano do polvo roxo, a música fica tensa. No palco, os sobreviventes do oeste chegam e uma batalha começa. Entre eles, Draco.

Começa um duelo entre os dois pretendentes de Maria, e a música rápida e impactante acompanha o momento. Enquanto isso, temos a resposta de como Ultros vai atacar:


Os três heróis precisam impedir que o vilão jogue um peso de 4 toneladas em cima de Celes, o que demorará 5 minutos para o polvo conseguir. Assim, o grupo tem que abrir a porta e correr até onde está Ultros, derrotando alguns inimigos pelo caminho. A música da Ópera toma a vez da habitual música de batalha do jogo, e ela embala ao mesmo tempo o duelo por Maria, e a batalha pela integridade de Celes.

O embrolho de Locke e Ultros acaba fazendo com que a turma inteira caia no palco. Será que a peça de Impresario está agora arruinada?


Locke e Ultros rapidamente encarnam personagens novos para a peça. Enquanto a atuação de Locke é pífia (inclusive chamando Celes pelo seu nome, e não como Maria), Ultros consegue se encaixar bem. Isso traz uma nova pista, será que este último tem raiva do Impresario por não ter aprovado-o como um ator por ser um polvo? Independente de qualquer coisa, o grupo precisa enfrentar Ultros no palco. A luta se inicia, assim como a música da Ópera.
Sério, dá uma olhada na cara de maníaco desse polvo.
Tão logo o polvo é derrotado, aproxima-se o fim da conturbada peça. Então Setzer aparece e rapta a pessoa que ele julga ser a bela e talentosa atriz Maria. Celes, de dentro da caravela voadora, abre a portinhola para que os outros entrem, e o time acaba convencendo Setzer a levá-los a Vector, para continuar a jornada contra o Império e o maldoso Kefka. Impresario, por sua vez, promete uma sequência para tão (agora) aclamada peça. E Ultros desaparece, por hora.
A chegada de Setzer!
Esta bela compilação da história da Ópera de Draco e Maria deixa de lado o aúdio simples utilizado no jogo original, e se utiliza da versão apresentada pela Real Orquestra Filarmônica de Estocolmo. Além de ser um jeito diferente de acompanhar a história, a versão das falas dos personagens traz uma tradução diferente daquela que apareceu no título de SNES. Não sei se é mais fiel, mas com certeza torna o texto em inglês muito mais bonito. Todos os créditos do vídeo ao site elder-geek.com.

Uma cena inesquecível

E assim Final Fantasy VI mostra como diversificar uma simples “quest pela airship”, algo comum em JRPGs. Nos mostra, também, como criar uma ambiciosa cena em um console com diversas limitações da época e conseguir surpreender, emocionar e nos apaixonar ainda mais pelo jogo.

A cena da Ópera funciona como um microcosmo de todo o jogo: uma grande tragédia cortada por momentos de comédia. No caso da Ópera, aquilo era só uma encenação, a vida que eles viviam, meus amigos, essa era muito pior. A genialidade da cena está em trazer ricas narrativas, partes da grande história do jogo, aliadas a opções de design e um trabalho técnico incrível. Confluindo a parte visual, narrativa, auditiva e jogável em uma das mais brilhantes "fases" da história dos jogos.
E você, se recorda de outra cena marcante em um jogo da série? Um momento extremamente ímpar e inventivo que te emocionou? Nos conte!


Revisão: Alberto Canen
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