Speedrun: uma forma diferente e frenética de jogar videogame

Correr contra o tempo e ultrapassar os próprios limites é só um dos atrativos para quem quer realizar, ou apenas assistir, a um speedrun.

em 25/02/2015
Particularmente, gosto de demorar com meus games, e tenho um desconforto muito grande quando sinto que estou deixando coisas para trás na jogatina. Adoro jogos longos, até porque meu gênero favorito (RPG) costuma nos brindar com títulos que tomam muito tempo de nossas vidas. Quando comecei a acompanhar speedruns, no ano passado, o que mais me maravilhou foi a capacidade daqueles jogadores de executar perfeitamente os movimentos, planejar as melhores rotas e passar freneticamente pelo jogo. À primeira vista, pode parecer algo muito diferente do que costumo fazer, mas, basta refletir e pesquisar um pouco para perceber que os runners dedicam muitas horas de treino e estudo para bater um recorde pessoal, ou até mesmo mundial. Eles também acabam demorando com seus games, apenas para depois conseguir fazê-los o mais rápido possível.

Um estilo diferente de jogar

Speedrun é o nome que se dá a uma sessão de um game na qual o objetivo do jogador é finalizar um título (ou até mesmo uma fase, segmento, etc) no período de tempo mais curto possível, sem utilizar truques ou cheats. É diferente de uma jogatina na qual experimentamos o jogo com o intuito de acompanhar a história, explorar e admirar as fases e ambientes, ou, simplesmente, finalizá-lo em um ritmo mais tranquilo.
Shadow of the Colossus pode ser um jogo para se contemplar devagar e silenciosamente. Mas quem disse que ele não rende ótimas corridas?
Tal prática é, possivelmente, tão antiga quanto os videogames. É claro que de lá para cá muitas coisas mudaram. Ferramentas como YouTube e Twitch facilitaram ainda mais o compartilhamento das sessões, e a comunidade cresce a cada dia. O legal é que a grande maioria dos títulos podem ser, e efetivamente são, jogados dessa maneira. As exceções são jogos que não possuem um fim definido, como FIFA (e esportivos em geral), World of Warcraft (e a maioria dos MMOs), The Sims (e outros simuladores), e jogos de ritmo ou graphic novels (que têm um tempo roteirizado), por exemplo.
Super Mario 64, em 22 minutos e com 1 mão?
Não é incomum que os corredores aumentem ainda mais o desafio. O runner PEACHES_, por exemplo, resolveu terminar Super Mario 64 utilizando apenas uma mão. No modo 16 estrelas (tem também o 120 estrelas), que se utiliza de um glitch, o apelão conseguiu terminar o game em 22 minutos e 22 segundos. Impressionante!

Modos, categorias e regras

Existem alguns modos diferentes dentro do speedrun. O principal é chamado de Any%, no qual vale qualquer coisa (dentro das regras) para finalizar a corrida. Já o modo 100% é aquele em que o corredor precisa realizar a maioria das tarefas do jogo (em títulos em que não existe um contador de porcentagem, a comunidade discute e decide o que é importante o suficiente para entrar na contagem). Existe também o modo Low%, mas ele é pouco jogado porque acaba sendo englobado no Any% e, dependendo do jogo, é até mais demorado que este último.

A corrida pode ser em um único segmento. Ou seja, em uma tacada só, sem salvar para tentar melhorar o tempo em cada parte unitariamente, ao contrário do modo segmentado. Existem também as races, na qual dois runners competem simultaneamente (o que é bem legal em eventos).
Half-Life é outro título que rende boas speedruns.
Voltando às regras, é aceito pela comunidade a utilização de glitches, erros do jogo que acabam encurtando o tempo da sessão. O jogador não pode, no entanto, alterar o game de nenhum maneira, nem utilizar controles turbo que não venham com o console utilizado. É comum que o corredor especifique todos os aspectos da corrida: se é utilizando glitch ou não, em que sistema foi jogado, qual versão (NTSC, Pal, americana, japonesa, etc) e se é Any% ou 100%.
Dois pilares da corrida
Duas franquias são essenciais nessa história: Doom e Metroid. A comunidade de speedrunners era grande quanto o assunto eram os dois jogos. Se o FPS foi um dos primeiros títulos a permitir a captura de vídeos, a fantástica saga de Samus é uma das mais queridas pelos corredores. Foi, inclusive, a partir de Metroid que os corredores mais antigos cunharam o termo Any%, visto que o título trazia um contador de porcentagem.

De clássicos a desafiadores

É muito difícil encontrar algum título que não tenha um speedrun, e, consequentemente, recordes a serem desafiados. Desde clássicos como Super Mario Bros. 3, The Legend of Zelda: Ocarina of Time e Sonic the Hedgehog 2, até games desafiadores, como Battletoads e Super Ghouls and Ghosts,  a comunidade de runners topa qualquer desafio.

Mega Man X, um dos games mais queridos, por corredores ou não, exemplifica muito bem o speedrun. Muitos jogadores preferem a versão japonesa, por conta dos caracteres tornarem o tempo dos diálogos mais rápidos em relação a versão americana. Além disso, a forma como a ordem dos estágios é organizada permite que o corredor organize a rota, às vezes, indo e voltando em uma determinada fase.
Que difícil que nada
Outra franquia que rende boas corridas é também uma das minhas preferidas: Souls. Ainda que o jogo tenha fama de difícil, para o jogador Tyler, Dark Souls é apenas um passatempo de 51 minutos. O recorde é fruto de muito planejamento e execução quase perfeita. É bonito de ver a frieza e habilidade do rapaz.

A longos e demorados

Engana-se, porém, quem acha que apenas platformers, shooters, e outros gêneros possivelmente mais curtos são os escolhidos para um speedrun. Longuíssimos RPGs como The Elder Scrolls V: Skyrim e Dragon Age: Inquisition podem ser completados em menos de 2 e 4 horas, respectivamente.

Títulos fortemente centrados na narrativa também não escapam. The Last of Us e Metal Gear Solid, por exemplo. O primeiro já foi finalizado em menos de 4 horas (e no modo Survival), e o segundo, em menos de 1 hora e 10 minutos.

Ultrapassando limites e almejando a perfeição

Como eu comentei no começo do texto, conseguir bater recordes é algo que exige muito tempo e dedicação do corredor. São inúmeras incursões pelo jogo escolhido, estudo, análise de corridas bem sucedidas e, sobretudo, um minucioso planejamento da rota que será feita. Não é nada fácil.

Nesse sentido, o speedrun é parecido com os esportes. O runner almeja se aperfeiçoar cada vez mais, bater recordes pessoais, e até mesmo mundiais. É uma espécie de competição com os outros membros da comunidade, mas sobretudo consigo mesmo.
Correndo por uma boa causa
Um evento muito interessante é o Awesome Games Done Quick (Jogos Incríveis Feitos Rapidamente, em uma tradução livre), ou simplesmente AGDQ. Além de exibir várias corridas maravilhosas, o evento angaria dinheiro para um instituto de prevenção ao cancer. Atualmente, ele acontece duas vezes ao ano e pode ser acompanhado pelo Twitch. O primeiro de 2015 aconteceu em Janeiro, e o próximo será no verão americano (nosso inverno). Vale muito à pena conferir!

Só o início da corrida

Para quem quiser se aventurar no speedrun, ou até mesmo conhecer e acompanhar os feras, eu indico os sites SpeedDemos Archive e The Sunday Sequence. Neles, você pode conhecer muito mais desse mundo que foi apresentado aqui de maneira breve. E, claro, buscar no YouTube a corrida perfeita daquele jogo que você tanto gosta é sempre uma ótima opção.

Não sou um runner. Infelizmente não tenho tempo o suficiente para me dedicar a um único jogo (prefiro gastar o tempo livre em vários), mas admiro bastante, no entanto, o esporte. Essa matéria traz apenas um pouquinho dessa comunidade veloz, frenética e competitiva.
E você, leitor, possui interesse pelo tema? É ou tem vontade de ser um corredor? Conte-nos!
Revisão: Jaime Ninice
Capa: Diego Migueis
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