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Yume Nikki (PC) apaga o limite entre o sonho e o pesadelo

Criado por um game designer japonês no RPG Maker 2003, Yume Nikki é uma aventura surreal no mundo dos sonhos.


O mundo dos sonhos é um tema obscuro nos videogames, e isso se deve ao fato de pouco sabermos sobre sua verdadeira natureza. A Asmik Entertainment, produtora de jogos no Japão, já havia tentado fazer um título em cima dessa temática com seu LSD: Dream Emulator (PS), e isso rendeu um dos jogos mais bizarros já criados na história.


E, ao que parece, o pessoal do Japão gosta de explorar esse território. Yume Nikki é um jogo feito no RPG Maker, produzido pelo game designer Kikiyama, misturando elementos de Arthouse, sandbox e até terror psicológico. O resultado? É mais um daqueles jogos que se tem mais especulações do que fatos confirmados – e isso o torna extremamente intrigante.

Sonho lúcido

Yume Nikki significa "diário de sonhos" em uma tradução direta, em referência ao fato da protagonista escrever seus sonhos em um caderno (que se torna o save point do game). Os jogadores são postos na pele de Madotsuki, uma jovem que vive sozinha em seu apartamento, com pouco mais para fazer além de passear em sua sacada e jogar videogame (um joguinho chamado NASU, que constitui um minigame opcional do título). A vida parece monótona, mas basta Madotsuki ir dormir que um novo mundo de possibilidades se abre.
O quarto de Madotsuki
É nesse momento que sua verdadeira proposta aparece: um jogo surreal, com muitos eventos e extremamente aberto para interpretações. Ao cair no sono, Madotsuki é transportada para uma sala com várias portas, e cada porta leva a um "mundo" diferente. Dentro desses mundos, ainda é possível descobrir novos mundos secretos. Isso torna Yume Nikki um jogo profundo, com vários cenários. Por outro lado, também significa que o jogador terá que gastar muito tempo se quiser presenciar tudo que o game tem a oferecer.

A única semelhança entre os ambientes é o fato de serem imensos. Todos têm uma temática única, desde o curioso "mundo cubista" ao macabro "mundo infernal". A mistura de elementos torna o jogo por vezes divertido e por vezes assustador, e a transição de um para o outro pode se dar em questão de segundos. 

O título é praticamente um sandbox, visto que a maioria dos locais já é acessível logo ao iniciar a aventura. Apesar de não ter um objetivo definido, o jogador é estimulado a tentar coletar os "Effects", que são pequenos poderes que Madotsuki pode usar em seus sonhos. A maioria apenas muda a aparência da garota para fins cômicos (como por orelhas de gato em sua cabeça ou transformá-la em um simpático boneco de neve), ou serve para deixar o gameplay mais prático (como o efeito que permite que ela voe de vassoura; algo mais rápido e ágil do que ficar apenas andando). Apenas alguns poucos efeitos são necessários para acessar áreas secretas. Curiosamente, o game apresenta um final, obtido ao se coletar todos os 24 "Effects". O final, como tudo no jogo, é ambíguo e pode ser interpretado de diversas maneiras.

Um único mundo com várias facetas

Yume Nikki compartilha muitas semelhanças com LSD: Dream Emulator — visto que os dois abordam o mundo dos sonhos , mas ainda há uma diferença substancial. Enquanto Dream Emulator é sem-noção simplesmente pelo prazer de ser sem-noção, todos os elementos que compõem o jogo de Kikiyama parecem ter um significado especial. 

Isso fez com que os jogadores propusessem suas próprias teorias sobre a vida de Madotsuki, onde ela vive e o porquê de seus sonhos serem tão bizarros. Entre as mais populares, existe a que diz que a garota é transsexual e sofre imenso preconceito por conta disso. Outra bastante discutida diz que a jovem foi sequestrada e está sendo mantida em cativeiro. Ambas as teorias explicam vários aspectos do game (como o fato de Madotsuki recusar-se a sair de casa, fora de seus sonhos), mas nenhuma nunca chegou a ser confirmada.

O estilo surrealista do título inspirou diversas adaptações e fangames. O mais conhecido entre os fãs chama-se .Flow (Dot Flow), e é extremamente fiel às mecânicas do jogo original, apesar de apelar para o lado mais mórbido do que o surreal. 
Dot Flow inspira-se no lado mais sombrio de Yume Nikki

Bons sonhos...?

Yume Nikki é, infelizmente, mais um daqueles jogos que são mais comentados do que jogados de fato. Assim, fica a recomendação para que todos experimentem-o, pelo menos por algum tempo. O game é gratuito e pode ser baixado em seu site oficial.

Isso significa que o jogo é perfeito e que todos vão gostar dele? É claro que não. É verdade que existem longos períodos de exploração cansativa sem nada interessante ocorrer, e também é verdade que a trilha sonora — apesar de inspirada  torna-se monótona após algum tempo. 

Ainda assim, Yume Nikki contém um charme único, algo que não conseguimos encontrar em muitos jogos por aí, talvez pelo fato de muito do que ocorre nele não seja explicado. Quem estiver procurando um bom game de exploração sobre sonhos, com ar surreal, mas que não seja tão "chocante" quanto LSD: Dream Emulator, não precisa procurar mais longe.

Prós:

– Atmosfera intrigante;
– Aberto para interpretações diferentes;
– Cenários grandes e variados entre si;
– Bons gráficos;
– De graça, até injeção;

Contras:

– Exploração torna-se facilmente cansativa;
– Trilha sonora repetitiva;



Yume Nikki – PC – Nota: 8,0


Revisão: Luigi Santana
Capa: Vitor Nascimento 

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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