Blast from the Trash

Relembre ET, do Atari 2600, um game fora desse universo de tão ruim

Pode um jogo baseado num filme de sucesso ser considerado o pior da história? Nessa matéria, você descobrirá que sim.


1982. Esse foi um ano mágico para o cinema. Em junho estreava nas telonas um dos filmes de ficção científica mais populares da história (e também um símbolo cult): ET: o Extraterrestre. A história curiosa e comovente sobre um alienígena que era esquecido na terra e com a ajuda de algumas crianças tenta voltar para seu planeta emocionou o mundo. Também era nesse mesmo ano que a Atari estava no auge de seu sucesso. A empresa faturava milhões de dólares com a venda de seus jogos e de seu console famoso, o Atari 2600. Por que então não aproveitar um momento tão bom como esse e tentar misturar esses dois mundos? Quem dera todos soubessem o quão desastroso essa ideia seria…

Sem sentido, sem graça, sem nada

Quando o criador do jogo, Howard Scott Warshaw, produziu sua “obra-prima” digital, sua intenção era desenvolver uma adaptação inovadora do filme. A Atari apoiou a ideia fortemente, pois acreditava que, da mesma forma que o filme fez sucesso nos cinemas e transformou a cultura mundial, o título eletrônico geraria altas vendas. Era uma ideia sem falhas! Mas a empresa se arrependeria amargamente de ter tomado tal decisão.
A Atari contava que o título seria mais um sucesso financeiro. Como eles estavam errados...
A estreia planejada para as festas natalinas fez muitos pais correrem às lojas para comprar o mais novo jogo para seus filhos. O mais curioso é que, inicialmente, o game foi um sucesso de vendas. O título apareceu entre os quatro primeiros mais vendidos da lista Billboard entre dezembro de 1982 e janeiro de 1983. Os problemas começaram a surgir à medida que mais jogadores o experimentaram e acabaram descobrindo o quão ruim ele era.
Prepare-se para conhecer o pior game de todos!
Tudo bem, todo mundo que conhece um pouco da história da indústria dos videogames sabe que ET é considerado um dos piores jogos já produzidos. A questão é que poucos conhecem quais são os principais motivos dessa alcunha infeliz. A principal razão desse desconhecimento talvez se deva porque a própria Atari fez questão que o mundo inteiro esquecesse do título. Mas aqui estamos, para mostrar o que há de podre no cartucho do alienígena.
Quando se inicia o jogo, a primeira pergunta que vem à cabeça é: "Por que o ET é verde?"
O jogo tem diversos problemas. Apesar de que o objetivo dele seja você guiar o ET por vários cenários em busca de peças para construir um telefone espacial e voltar para casa, as coisas parecem não fazer sentido nenhum. Os três pedaços de tecnologia que ele deve encontrar estão espalhados randomicamente em poços no cenário. Mas quando o ET cai neles é quase impossível sair de lá, pois o jogador precisa “levitá-lo” para fora. Simplesmente o personagem não responde aos comandos da forma correta e, quando ele consegue sair (sabe-se lá como) duas coisas podem (e vão acontecer): ou ele vai cair em outro poço, ou ser capturado por um cientista ou agente do FBI e será levado para um observatório ou uma cadeia. Sim! Uma cadeia!
Boa sorte em tentar fazer o ET sair do fundo dos poços.
A bizarrice não pára por aí. Sem saber como, o ET pode sair da cadeia e continuar sua busca pelos pedaços de tecnologia e, se ele não tomar cuidado, certas ações podem diminuir sua barra de energia e se todas as suas três vidas acabarem, somente o garoto Elliot pode revivê-lo. E depois de ser revivido adivinhem o que acontece? Sim! Você cai em outro poço e tem que lutar com o controle e tentar não amaldiçoar a Atari, o criador do jogo e até o Steven Spielberg por terem permitido que tal aberração tecnológica fosse criada. O jogo, quando milagrosamente terminado, se reinicia no mesmo nível de dificuldade, só que com os pedaços espalhados em poços diferentes. Você ainda duvida que o jogo seja ruim? Então confira esse gameplay logo abaixo. (Aviso: Não tente gritar com o personagem no vídeo ou se desesperar, ele é apenas um amontoado de pixels e nós, pobre jogadores).


“Se enterrar, eles não lembrarão”

Infelizmente os problemas da Atari não se detiveram apenas no jogo. A empresa havia investido cerca de 125 milhões de dólares no projeto e produzido uma quantidade acima do necessário para atender a “possível” alta demanda de compradores. Depois de janeiro de 1983, as críticas contra o game continuavam a crescer e vários meios de comunicação não hesitavam em eleger ET como o pior da história. A Atari viu suas ações caírem dastricamente nos meses seguintes e muitos analistas financeiros afirmam que aquele patético alienígena verde pixelado foi um dos principais culpados pelas perdas nos negócios da empresa entre 1983 e 1984 e, consequentemente, da ida da Atari do centro do palco para os bastidores da indústria de games.
Colocar toda a culpa pela crise financeira da Atari nesse péssimo jogo é um exagero. Mas ele foi uma das maiores causas da estagnação da indústria de games em meados dos anos 1980.
Bem, mas o que fazer então com todos aqueles cartuchos que ficaram empacados nas prateleiras das lojas e nos armazéns da empresa? Uma das maiores lendas do mundo dos videogames diz que a Atari enterrou todas as cópias do jogo em uma vala gigantesca na cidade de Alamogordo, Novo México. Tal cova nunca foi encontrada, mas recentemente, a Fuel Industries (que ganhou autorização do governo local para escavar o deserto) se uniu a Microsoft que deseja lançar um documentário exclusivo para o Xbox One sobre a busca desse túmulo eletrônico amaldiçoado. As duas empresas estão vasculhando diversas áreas em busca dos cartuchos. E o mais incrível desse história de um conto gamer? É que, coincidentemente hoje, o túmulo famoso foi descoberto e a lenda se torna verdade! Existem certas coisas que não conseguem ficar enterradas por muito tempo, não é mesmo?
E não era que uma das mais famosas lendas urbanas do mundo gamer era verdade? Olha aí o pessoal da Microsoft com os cartuchos nas mãos!
Revisão: José Carlos Alves
Capa: Stefano Genachi


Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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