Crônica

Há cerca de dez anos que Ragnarok Online (PC) me rendeu boas amizades

Dias atrás, conversando no TeamSpeak com um companheiro de equipe no League of Legends, esse rapaz me perguntou sobre como e onde eu havia... (por Unknown em 06/02/2014, via GameBlast)

Dias atrás, conversando no TeamSpeak com um companheiro de equipe no League of Legends, esse rapaz me perguntou sobre como e onde eu havia conhecido outro membro de nossa equipe. Tomado por um sentimento nostálgico, eu contei como havia conhecido ela no amado MMORPG Ragnarok Online. Foi aí que me dei conta há quantos anos eu conhecia aquela minha amiga e alguns dos outros membros do tal grupo em League of Legends. E foram essas lembranças que me fizeram vir deixar uma mensagem com vocês hoje.

Aventuras em grupo

Final Fantasy IV foi responsável pelos meus primeiros passos no idioma estrangeiro. Depois de jogá-lo, ainda em minha infância, tornou-se mais comum dar preferência para RPGs, seguindo minha aventura por Chrono Trigger e outros similares. A ideia de ter um grupo equilibrado entre guerreiros, magos e clérigos em um cenário medieval foi uma situação frequente naqueles jogos. Se lembro bem, foi no final dos anos 90 que ouvi falar de Ultima Online e Tibia. A ideia parecia a mesma dos jogos que eu tanto gostava, mas os parceiros de grupo seriam pessoas reais em diversos cantos do mundo. Infelizmente, eu não tive oportunidade de desfrutar tanto desses jogos, pois a conexão discada daquela época não era a melhor opção para jogar qualquer jogo.

Foi por meio de um amigo que conheci em torneios de Pokémon, que eu soube da existência do tal Ragnarok Online. Assim como nos outros títulos que citei, nesse jogo eu poderia personalizar meu personagem, escolher uma profissão e jogar com diversas pessoas enquanto montava minha própria história. Falando disso hoje, pode parecer exagero como eu enalteço algo tão simples, mas para aquela época isso não era algo simples. Apesar da conexão banda larga estar mais popular no Brasil, não era comum um jogo online suportar até mesmo 32 jogadores sem dificuldades, e nesse caso eram milhares! Não demorou muito para que eu estivesse fazendo corujões em Lan Houses com amigos para virar a noite matando os chefes, estudando mecânicas do jogo e escrevendo tutoriais em fóruns, e claro, conhecendo pessoas incríveis.

Sua própria história

Após jogar cerca de cinco meses no servidor internacional, eu e meus amigos migramos para o servidor nacional em seus primeiros dias. Em menos de um mês de servidor, parte do grupo foi para o servidor Chaos (eu incluso!), enquanto outros continuaram no servidor Loki. Esse amigos que vieram para o Chaos comigo, chegaram a criar uma guild, mas sem perceber, eu fui seguindo uma "carreira solo". Por ter escolhido uma build um tanto incomum para trabalho em equipe (Sacerdote, Exorcista), tornou-se difícil passar mais tempo com meus amigos, apesar deles terem me ajudado (e muito) em minha jornada para tentar ser o primeiro personagem daquela classe em nível máximo. Infelizmente eu falhei nesse desafio e quis investir meu tempo em outros personagens (e já não olhar para o antigo sacerdote exorcista, mesmo que estivesse no nível máximo). Nesse meio tempo eu acabei entrando em uma guild que seria muito famosa em curto prazo, mas não foi ali que comecei a conhecer as melhores pessoas.

Recordo-me de um dia no qual eu estava caçando o chefe de um certo mapa. Hatii, o nome dele? Não lembro bem, era um tigre de gelo que ficava na rota ao sul de Lutie, a cidade natalina. E foi ali que vi um "cadáver" (!) caído na neve, uma jogadora de nível bem inferior, uma arqueira, morta. Como ela estava ali, perguntei se ela havia visto o tal chefe e ela informou que sim, e inclusive, havia morrido para ele. Então, soube que ela estava ali esperando alguém reviver ela, pois ela havia salvo seu ponto de retorno muito longe (em Payon!) e seria muito demorado para voltar até ali. Ressuscitei ela, matei o chefe, e fomos para a cidade natalina que ela queria visitar. Aquela minha "boa ação" rendeu uma nova amizade, alguém que me fazia relaxar daquele stress de matar chefões e conquistar castelos na guerra, alguém que tinha preocupações mais simples, como colecionar chapéus ou tentar chegar na distante cidade de Glast Heim. Não demorou muito para que aquele alguém fosse a primeira garota por quem realmente me apaixonei em minha vida. E talvez, uma das pessoas mais incríveis que conheci até os dias atuais.

Fugindo do objetivo

Atualmente os jogos de "mundo aberto" criam uma ilusão de que você não tem um objetivo no jogo. Ragnarok Online, mesmo que tentasse passar a ideia de que você não tinha um objetivo, ele ainda tinha um foco: conquistar castelos durante a guerra semanal. E essa era uma tarefa para um clã. A convite de um amigo, acabei por entrar em outra guild depois que a minha antiga chegou ao fim. Alguns dos benefícios que eu tinha por participar do clã era, por exemplo, ter acesso a um lugar especial com monstros mais fortes do que em outros mapas do jogo. Ou até mesmo receber alguns dos preciosos e exclusivos tesouros que o castelo entregava. Sem perceber, eu comecei a desenvolver uma "segunda vida" no jogo online: participar das guerras pela guild era como um "trabalho". Passar o tempo com minha namorada era como uma "vida familiar". Considerando que minha única ocupação naquela época era o colégio, eu chegava a passar até 12 horas diárias jogando e poderia chegar em 15 ou 20 horas na época de férias.

Não lembro detalhes sobre como conheci uma certa guild na cidade de Al de Baran, perto de Lutie. A guild intitulada ~*Dreams*~ era totalmente oposta do que as guilds que eu estava acostumado. Poucos dos membros se quer eram nível 70. Eles não tinham bons equipamentos. Eles não conseguiam matar chefes. Mas eles eram felizes, e muito. E, sem perceber, eu já estava compartilhando das conversas deles e passando horas e mais horas apenas sentado nos gramados de Al de Baran… conversando? Aquela atividade improdutiva tornou-se um hábito e se eu ficasse um dia inteiro elevando o nível de algum personagem sem visitar aquele local, não demorava para alguns amigos começarem a enviar mensagens privadas chamando para lá.

O foco de Ragnarok era matar chefões ou conquistar castelos. Sem perceber, meu foco tornou-se passar tempo conversando e rindo com meus novos amigos.

Internet, ego, pessoas

Não demorou muito para que eu conhecesse aqueles amigos pessoalmente. Alguns mais altos do que eu esperava, outros mais magros, outros com tom de voz bem diferente do que eu esperava, dentre tantas outras surpresas. Mas haviam também as pessoas que não eram tão agradáveis. Essas pessoas não costumam ser tão valentes pessoalmente, mas em fóruns ou no jogo, eram aqueles que zombavam de todos, ofendiam, entre outras ações similares. Felizmente, eu nunca estive diretamente ligado nessas situações (até onde me lembro), mas não é diferente do que vemos hoje. É bem comum, na internet, as pessoas se aproveitarem da máscara do anonimato, da imunidade física e moral para, digamos, "passarem dos limites". Naquela época, as situações corriam entre soltar uma informação pessoal de alguém em um fórum até publicar fotos daquela garota nua que mostrou o corpo na webcam. Pensando por esse lado, todo o "ódio aleatório" que vejo atualmente, ainda é bem juvenil e leve, se comparado com situações que assisti naquela época. O "flame" de hoje é tentar montar um meme com uma foto pessoal de alguém, mas não deve ir muito além disso. O "ódio" da internet é mais visto em discussões de fóruns sobre "quem é melhor". E as ofensas geralmente são como "você é um lixo" pela outra pessoa não concordar com o que foi dito pelo agressor.

E nessa internet regida por ódio e disputa de egos, eu lembro daqueles amigos que fiz no meu amado Ragnarok há cerca de dez anos, aquela garota que foi meu primeiro amor, aquele cara que me ajudou tanto, antes mesmo de ter me conhecido pessoalmente, e as tantas horas que apenas deixei tudo de lado apenas para bater aquele papo sem compromisso com alguns amigos e rir sobre uma coisa ou outra, mas sem ofender ninguém ou tirar sarro. Atualmente jogando o tal League of Legends, vejo claramente essa "selvageria" online. Em alguns casos, jogadores chegam a parecer mais agressivos que animais em meio a sua importante disputa para escolher em qual lane poderá ir. Ou até mesmo quando um membro do time morre e todo o time começa a xingar a família do jogador em questão. E não estou falando apenas sobre LoL, claro, mas sobre tantos outros jogos online. Não estou falando que Ragnarok era livre de jogadores assim, mas no ambiente no qual joguei, não era tão comum encontrar jogadores no nível de sempre escrever em letra maiúscula e spamando ofensas.
Ragnarok Online foi o primeiro jogo da Level Up! Games no Brasil, e o MMORPG responsável pela febre do gênero após 2004. Apesar do foco na guerra, o jogo permite que você crie sua própria história e deguste de suas próprias aventuras. Se você não conhece, recomendo. Ou até mesmo World of Warcraft, caso não goste do estilo visual de Ragnarok. O importante é ter a experiência de viver diversas aventuras com amigos, e essa experiência pode ser proporcionada por esse gênero de jogo.
Revisão: Luigi Santana
Capa: Leonardo Correia

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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