Como The Walking Dead: Season 1 (Multi) reavivou o meu amor pelo gênero aventura!

em 19/01/2014

Quando tinha uns dez anos tinha o costume de ir à casa de meus primos em quase todos os finais de semana. Naquela época, em que eu estava... (por Unknown em 19/01/2014, via GameBlast)


Quando tinha uns dez anos tinha o costume de ir à casa de meus primos em quase todos os finais de semana. Naquela época, em que eu estava conhecendo jogos como The Legend of Zelda: Ocarina of Time (N64) e a internet ainda era algo muito raro em residências, tínhamos o costume de jogar adventures point and click a tarde inteira em um novíssimo computador da IBM que eles possuíam. Apesar de inesquecíveis, aquelas deliciosas tardes de domingo ficaram para trás, assim como meu costume de jogar títulos pertencentes ao gênero. Hoje, quinze anos depois, muita coisa aconteceu: testemunhei a queda e o triunfo da Nintendo na indústria dos consoles, vi empresas fecharem e outras surgirem e internet passou a ser um recurso tão importante quanto uma geladeira dentro de uma casa.


Dia desses estava querendo jogar algo novo e decidi finalmente dar uma chance a The Walking Dead: The Game, jogo da Telltale Games baseado na HQ homônima que consiste em um autêntico jogo de aventura. Alardeado desde 2012, ano em que o título se consagrou como jogo do ano em grande parte das publicações de todo o mundo, The Walking Dead nunca me despertou muito interesse, talvez por eu nem lembrar o quanto gostava do gênero e nunca imaginar como esse seria um dos jogos que marcaria minha vida gamer para sempre.

Igual mas diferente

Quando comecei a jogar, ainda um pouco resistente percebi que o jogo possuía algo que há muito tempo eu não notava em um jogo de videogame, mas não conseguia descobrir o que. Conforme ia avançando e conhecendo mais o criminoso Lee, me sentia mais envolvido com o que estava jogando. Ao encontrar Clementine, ainda no começo jogo, notei que estava completamente imerso no mundo em caos apresentado no título, e finalmente comecei a perceber o que estava acontecendo. Sempre muito famosos por suas narrativas envolventes e intrigantes, o gênero, apesar da jogabilidade simples, tende a instigar os jogadores, que não conseguem parar de jogar até os créditos rolarem na tela, e com The Walking Dead, percebi que estava sentindo exatamente isso.

A história de Lee e Clementine é capaz de emocionar a qualquer jogador
Como há muito tempo não acontecia me senti provocado pelo enredo extremamente bem escrito e os personagens construídos artesanalmente em todas as suas nuances. Cada novo cenário e descoberta faziam com que eu sentisse ainda mais vontade de jogar e notei que estava desenterrando um gosto que nem lembrava mais que tinha. Sentia um misto de nostalgia e satisfação com as novidades que a aventura estava me oferecendo, mas nem imaginava que a obra da Telltale Games me levaria além!

O jogador no comando

Apesar de sempre encarnarmos heróis e protagonistas em jogos de videogame, é raro que nos sintamos em sua pele. Geralmente lineares e com roteiro completamente estabelecido em sua concepção, os desenvolvedores criam os jogos já definindo o tipo de experiência que o jogador viverá. Apesar de Walking Dead possuir um roteiro já definido, que em muitos momentos obriga o jogador a passar por algumas experiências sem que possa interferir diretamente na trama, o título conta com momentos fortíssimos em que o jogador deve tomar duras decisões que podem afetar todo o desenrolar da aventura.

Além de dificeis decisões, The Walking Dead conta com muitos momentos de ação
Durante boa parte dos excelentes diálogos da trama, o jogador deve selecionar, sob a pressão do tempo, respostas adequadas (ou não) aos questionamentos feitos a Lee. A forma de agir, as decisões estratégicas e até mesmo a constatação de simples detalhes dos cenários podem alterar até mesmo o elenco de personagens que lhe acompanham durante o jogo. Por possuir um medidor de tempo, o jogador é forçado, muitas vezes, a agir por instinto, o que torna tudo mais envolvente e dramático. Logo no segundo episódio da aventura, me deparei com uma má decisão que, por desespero, cometi. A decisão, que custou a vida de um personagem, fez com que eu me sentisse mal como nunca me senti em um jogo de videogame. Ele estava morto graças à minha irresponsabilidade.

Alguns momentos do jogo são bastante chocantes
Mas não pensem que tive tempo de me sentir mal: o implacável roteiro do jogo me colocou, menos de dez minutos depois, em outra situação tensa que me fez ter que seguir em frente sem olhar para trás. E esse turbilhão de emoções permeou minha aventura ao longo de suas inesquecíveis doze horas.

Um gênero esquecido

Quando terminei o jogo, a poeira baixou e decidi buscar mais jogos do gênero que eu nem lembrava mais que amava. Para minha decepção, a variedade de títulos do gênero lançados nos dias de hoje não chega a um centésimo da quantidade de shooters genéricos anuais que assolam a indústria atualmente, o que é uma pena, pois é de jogos assim que precisamos para sair do marasmo cinza e marrom dos jogos atuais.


Mesmo assim, a experiência me serviu para notar que o gênero aventura, tão famoso outrora, não conseguiu se adequar aos anseios dos jogadores atuais e por isso acabou se perdendo no tempo. Contudo, The Walking Dead marca uma nova era em que tais jogos podem retornar com força total. Completamente reformulado e modernizado, as desenvolvedoras estão finalmente conseguindo encontrar o caminho para trazer esses jogos de volta à indústria, o que renova minhas esperanças de que a indústria, tão volátil, pode mudar a qualquer momento. A obra da Telltale foi além de todas as expectativas, e assim como me fez relembrar um gosto muito antigo, pode estar trilhando um caminho para possibilitar o retorno de uma tendência deixada de lado há mais de uma década. E é exatamente disso que a indústria precisa para sair do marasmo: lembrar-se que jogos podem ser muito mais que explosões e cenários destruídos por soldados genéricos.

Revisão: José Carlos Alves
Capa: Leonardo Correia
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