Entrevista

BGS 2017: Colocando as cartas na mesa a respeito do PES 2018 (Multi)

Gerente responsável pelo Pro Evolution Soccer nas Américas concede entrevista a respeito das qualidades e alguns defeitos da mais nova versão do jogo da Konami.



Você já leu a nossa análise do novo Pro Evolution Soccer e as opiniões do redator a respeito do jogo, não é? Pois então, nós pegamos todos os nossos questionamentos principais a respeito do jogo e aproveitamos a BGS para levá-los até André Bronzoni, gerente responsável pelo PES 2018 (multi) nas Américas. Numa conversa descontraída, ele nos conta as principais vantagens da mais recente versão em relação à sua anterior, esclarece dúvidas a respeito dos times brasileiros e comenta um pouco sobre a rivalidade nutrida entre o título esportivo da Konami e a franquia FIFA, da EA. Confira abaixo:


GameBlast - Para começar, qual é a diferença do PES 2017 para o 2018?

André Bronzoni - eu consideraria o físico dos jogadores. Seguinte: a gente começou a fazer o 3D de vários jogadores. Então todos os jogadores com quem a gente tem parceria, a gente faz o 3D. Além disso, a gente quis entender realmente o físico dos jogadores. Não é uma coisa quadrada. Tem uma forma cilíndrica ali, mas cada jogador tem um jeito.

GameBlast - Cheguei a notar.

Bronzoni - Então, isso é a parte principal. Cada jogador tem a sua característica de correr, de pegar na bola, de dominar a bola. A gente sabe disso, que cada jogador domina a bola de uma forma. O Neymar domina muitas vezes de barriga.

GameBlast - E bem mais fácil do que o [Ángel] Romero.

Bronzoni - Sacanagem [risos]. Então, eles dominam de muitas formas diferentes. Isso a gente entendeu e recriou da melhor forma possível. Você vai jogar com o Jô, por exemplo. O Jô é um cara alto, você vê que ele sobe de uma forma específica.
Bronzoni (à esquerda) nos recebeu numa conversa bem solta para falar de PES 2018 e não fugiu de nenhuma pergunta que lhe foi feita. 
GameBlast - O Jô? Toda bola levantada na área é gol! 

Bronzoni - Então, quando ele sobe ou para fazer o pivô, por exemplo. São essas coisas que a gente mudou bastante. Se você quiser, em uma palavra, do que foi que mudou da versão 2017 para a 2018, é o físico dos jogadores.

GameBlast - Eu percebi que o jogador individual está valendo muito mais do que só o Overall, no caso. 

Bronzoni - Exatamente. 

GameBlast - Eu, pessoalmente, não consigo jogar com um jogador lento, ou melhor, consigo com um deles só no meio, como o Renato Augusto, mas, no geral, tem que ter dois correndo pelos lados. Se eu, por exemplo, botar um cara que não tem uma característica similar à do RA, eu acabo me perdendo. Nesse aspecto, eu cheguei a notar essa diferença e nesse jogo está mais intenso.

Bronzoni - E não é só isso, você que gosta de jogar com dois jogadores mais rápidos pelas pontas. Hoje, independentemente se o cara é mais rápido ou não, você consegue jogar com jogadores mais lentos e é possível alcançá-los. No 2017, por exemplo, você pegava o Tévez ou outros jogadores que têm a velocidade como característica, não dava para chegar no cara. Nesse, você consegue chegar. Então é uma coisa interessante de se falar e que não tinha no 2017. A gente ajustou isso.



GameBlast - Você convive muito com uma equipe estrangeira, eu acredito.

Bronzoni - Moro lá nos Estados Unidos. 

GameBlast - Durante o desenvolvimento e tal, eles têm noção de que no Brasil, assim como Corinthians e Palmeiras se odeiam, o jogador do FIFA e do PES também têm essa disputa?

Bronzoni - Cara, eu não sei. Eu não sei se existe isso. 

GameBlast - É que no Brasil você observa que as comunidades de jogadores ficam brigando entre si. As pessoas ficam defendendo o seu lado com unhas e dentes.

Bronzoni - Ah, as comunidades. Nisso é bem parecido como Mortal Kombat e Street Fighter ou Apple e Samsung. Todo esporte tem isso. Kelly Slater e Andy Irons há um tempo atrás. No Tênis também. Isso já existe há muito tempo, então não é só PES e FIFA que têm essa de amor e ódio. Acho interessante, é sadio. Acho interessante sendo sadio. Já partir para ignorância, aí já não acho legal. É algo para o divertimento, para entreter, e não para brigar.
Comparativo do Luis Suárez em ambos os jogos (Imagem: Onnethox/Youtube).
GameBlast - Agora você vai chegar para o Jogador do FIFA, com três argumentos, convença-o a trocar de jogo.

Bronzoni - Seu time está no concorrente?

GameBlast - Legal, e os outros dois?

Bronzoni - Esse é o primeiro. O segundo é: os gráficos vêm de empresa japonesa. O público conhece mangá, etc., a forma como eles são detalhistas. Se botar um gráfico do lado do outro, você vai ver a diferença. É algo que vai simplesmente notar a diferença. A outra coisa é a jogabilidade. A gente sempre focou na jogabilidade do PES, porque a diversão é ali. A diversão você sente jogando, então a gente foca na jogabilidade. Eu não falo muito, eu deixo a pessoa jogar. Joga primeiro e depois a gente conversa, é basicamente isso, porque tem muita coisa envolvida. Por exemplo, você falou que joga por causa do Corinthians. 

GameBlast - Eu digo isso porque todo mundo começou com PES e foi para o FIFA. Eu fiz o caminho inverso. Eu, quando moleque, jogava FIFA, só que teve uns problemas aí que não teve o Corinthians e eu fui para o PES. Eu jogava no Nintendo 64 o FIFA, joguei até o FIFA 12, mais ou menos, quando comecei a achar que ficou repetitivo. Depois o primeiro ano sem o Corinthians eu até cheguei a jogar o FIFA, mas depois eu troquei...

Bronzoni - Foi no ano passado.


GameBlast - Foi em 2015.

Bronzoni - Ah, isso é verdade. Aí em 2016 eles voltaram e em 2017 entrou a exclusividade. Além disso, a gente tem exclusividade do Flamengo, do Vasco, Colo-Colo. Eu acho que, por ser brasileiro, eu tenho até certa influência nisso, de prezar pelo conteúdo local de cada país. Eu sei a importância do futebol brasileiro. Eu tenho essa noção, do quão é importante. Você falou que é corinthiano roxo. É legal para caramba você jogar com o seu time. 

GameBlast - É bem mais divertido, você conserta as burradas dos dirigentes.

Bronzoni - [Risos] Então. Sabe, fazer um Master League, jogar com o seu time, é interessante isso. Então a gente tem essa noção. Não sei se você sabe, mas o Sócrates é uma das lendas do futebol que vão entrar no PES. O Romário [também]. Outros jogadores também aí, Maradona, Beckham. 

GameBlast - O [Usain] Bolt também está no jogo.

Bronzoni - Então, é basicamente isso. A gente tenta focar no conteúdo local. A gente sabe o quão é interessante, o quão as pessoas são carentes por conteúdo local. O mercado de videogame, principalmente. Eu jogo videogame tem um tempão. Eu sei como é legal ter uma feira assim, onde vem gente de fora conversar com os jornalistas locais. É super importante. Isso melhora a indústria e em todos os aspectos.

GameBlast - Ainda assim, você não acha que poderia ter um pouco mais de esforço no conteúdo local? Por exemplo, eu acho que o jogador competitivo — não todos, obviamente — mas no Brasil existem jogadores tão competitivos quanto os de fora. O próprio Lucas Lima, ele já é um pouco mais alto, mas acho que poderia ser um pouco mais justamente para combater. O Jádson, por exemplo, está certo que ele não é um jogador jovem, ele está com Overall 74, se não me engano. Poderia estar 76 ou 77, principalmente pela escala dentro do próprio Brasil, em comparação a outros jogadores brasileiros. O Cássio, por sua vez, está voando esse ano e diminuiu de 80 para 79. É algo que eu não entendi. Acredito que tenha a ver a uma possível mudança na conta dos atributos ou mudança de engine, por aí. 

Bronzoni - É que isso é do começo do ano. O Cássio começou o ano como reserva.
O baixinho Romário é uma das lendas confirmadas em PES 2018 (imagem: IGN Brasil)
GameBlast - Ainda assim, poderiam se preocupar com isso mais para frente. Digo isso também porque não sei como é o desenvolvimento do jogo nesse aspecto.

Bronzoni - É super-bem vinda sua crítica e a gente entende isso. É algo complicado satisfazer todo mundo. O que a gente fez: esse ano ainda, a gente teve uma atualização agora que todo mundo que jogar o PES League, o nosso Hub de eSports vai ver todos os jogadores nivelados. Todos os jogadores são nivelados, todos são overall 85. Você vai jogar com o Corinthians e vai enfrentar o Barcelona, então você tem que enfrentar o Barcelona pau a pau. 

GameBlast - Isso nos faz lembrar Pokémon, porque ele joga todos no nível 50 e a vitória vai sempre valer a habilidade de quem estiver competindo. Aliás, acredito que no PES isso vai prevalecer também a favor dos atributos individuais dos jogadores de futebol. 

Bronzoni - Exatamente, é isso o que aconteceu. E o que isso mudou? Obviamente, os jogadores vão manter suas características principais. Por exemplo, o Neymar é muito bom no drible, então a gente baixou ele para o overall 85, mas mantendo a parte do drible dele, suas características principais. Já por exemplo, o Pablo e o Balbuena, a gente vai levantar eles nas características deles. Isso que é interessante: quem é competidor e vai disputar nas ligas do PES, vai poder jogar com o seu time do coração.


GameBlast - Para encerrar: pegou mal essa questão do Neymar trocando de time, né? Como vocês lidaram com isso aí? Digo, você sabe que pode acontecer, mas não acredita que realmente vai acontecer. 

Bronzoni - Eu realmente achava que não ia acontecer. [risos]

GameBlast - Eu também não acreditava que ia, mas imagino lá dentro, a equipe de divulgação deve ter ficado bem preocupada ou coisa assim.

Bronzoni - [risos] A gente já tinha capa pronta, tudo pronto. Quem não atualiza o jogo pega o Neymar no Barcelona, por isso é o que eu falo: tem que atualizar, só pode jogar com o jogo atualizado! Só que é complicado. É complicado, cara, mas foi um aprendizado. Ainda assim, como é que você vai pensar: um jogador que tem quatro anos de contrato e uma multa milionária, não dá para imaginar que isso vai acontecer. Eu suei. Suei frio, ainda. 

E aí, gostou do papo com o representante do PES 2018 para as Américas? Já conferiu esse incrível título da Konami preparado com muito carinho para o Brasil e para o mundo? Deixe seu comentário abaixo com sua opinião.

Revisão: Arthur Maia

É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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