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Análise: O céu não é o limite em BioShock Infinite (PC)

Quando foi lançado em meados de 2007, BioShock tornou-se um sucesso estrondoso por seu estilo inovador e uma história envolvente que rev... (por Unknown em 12/04/2013, via GameBlast)


Quando foi lançado em meados de 2007, BioShock tornou-se um sucesso estrondoso por seu estilo inovador e uma história envolvente que revolucionou o gênero FPS para sempre. Seis anos depois, mais uma produção do genial escritor Ken Levine chega para estender o universo dos Big Daddies e Little Sisters transformando o cenário do mundo eletrônico, mudando paradigmas e levando o jogador até os céus (literalmente) em uma aventura de tirar o fôlego. Descubra o que faz de BioShock Infinite um dos melhores jogos dos últimos tempos.

Bem-vindo a Columbia!

Columbia: o lugar mais próximo do Paraíso. Será?

A visão da belíssima, mas decadente, cidade de Rapture no fundo do mar em BioShock certamente surpreendeu muitos jogadores. O visual incrível, o cenário rico em detalhes e aquele ar art déco... era difícil imaginar um outro local que causasse tanto impacto quanto essa cidade submarina. Porém quando vislumbramos Columbia pela primeira vez entre as nuvens, o sentimento é simplesmente arrebatador. A gigantesca cidade voadora que é palco e também um dos personagens principais de Bioshock Infinite é uma visão do paraíso sustentada nos céus pela tecnologia da física quântica. O cenário é deslumbrante e repleto de detalhes, sem falar que o visual remetendo a Belle Époque do começo do século XX traz uma sensação reconfortante enquanto atravessamos as ruas e vemos os personagens desse novo mundo.

Nem tudo é perfeito
No entanto, logo no começo do jogo, o contraste entre esse cenário idílico e o verdadeiro inferno que viria a acontecer é impactante. Em um momento, Columbia parece um paraíso sem dor, sem tristeza, sem pobreza e nem preocupações. Porém, como diz o ditado, nunca é bom julgar um livro pela capa e o jogador acaba descobrindo da pior maneira possível como essa cidade tão bela está podre por dentro. Da mesma forma que em BioShock, os criadores da série nos mostram como é fácil criar um utopia, mas difícil ou quase impossível de mantê-la sem que a loucura, o egoísmo e o terror dominem a situação.

Que tal um pouco de história?
A história que cerca a cidade flutuante é tão complexa, cheia de detalhes e nuances, que vale a pena reservar um tempo para investigar cada canto da metrópole voadora. Voxophones (pequenos aparelhos de gravação) e Kinestoscopes (antigos cinemas em miniatura) proporcionam diversas visões sobre a história do surgimento, auge e futura e próxima queda de Columbia. Além disso, as diversas linhas de tempo introduzidas ao longo da trama do jogo garantem momentos de reflexão sobre os estranhos rumos que uma sociedade tão nacionalista, xenófoba e extremista religiosa pode tomar (tanto para melhor na visão de alguns, quanto para pior na visão de muitos). A visita por Columbia poderia ter se tornado muito mais imersiva, mas em certos momentos do jogo, temos a sensação de que apenas precisamos caminhar em linha reta para atingir nosso objetivo, já que não existem muitas lojas ou casas para se visitar ou pessoas para interagir.

Uma paisagem bela por fora, mas podre por dentro
Columbia pode ser comparada, sem sombras de dúvidas, a uma caricatura da sociedade americana do começo do século XX. Um desenho belo e grotesco, de como um país consegue pôr seus próprios princípios inescrupulosos em nome da ganância, do lucro e até da salvação divina acima de questões éticas e morais universais. Personagens como o grande profeta Zachary Comstock, o capitalista produtor Jerimiah Fink e até a revolucionária Daisy Fitzroy representam os arquétipos típicos de uma sociedade que tenta desesperadamente se manter de pé enquanto as suas fundações estão ruindo de podres.

Columbia apenas para os verdadeiros americanos!

Tiros, poderes, mistérios e ela... Elizabeth!

Para se aventurar por Columbia, o protagonista Booker DeWitt conta com diversos itens para auxiliá-lo em sua jornada. Primeiro, temos o Skyhook, uma espécie de gancho com lâminas giratórias que, acoplado ao braço, pode ser usado como uma arma de combate para dilacerar inimigos ou também para se agarrar nas Zip Lines de Columbia. Esses trilhos cercam toda a metrópole e são o meio de transporte mais rápido entre os níveis, além de possibilitarem o ataque aéreo, despachando o inimigo para longe ao cair no chão. Como o Skyhook é magnetizado, se agarrar em um trilho é simples e a viagem por eles é incrível pela sensação quase realista de estar realmente no interior de Columbia, deslizando por entre os prédios.

Inimigos por todos os cantos!
Além disso, o herói conta com um arsenal extenso de armas de época, como pistolas, metralhadoras simples e até lança-granadas mais modernos. O problema que muitos jogadores veteranos e fãs da série deverão estranhar em Infinite é Booker só conseguir carregar duas armas de fogo por vez, forçando o jogador a planejar as estratégias de combates, já que, nos outros jogos da franquia, o personagem podia portar quantos equipamentos e armas quisesse. Ainda bem que, para cobrir esse desfalque, o jogador conta com poderes especiais que Booker vai adquirindo ao longo do jogo através dos Vigors (os Plasmids de BioShock versão 1912).

Com Bucking Bronco, seus inimigos flutuam no ar
Ao contrário dos famosos Plasmids de BioShock que eram injetados na veia, alterando diretamente o código genético do indivíduo, os Vigors são como elixires que, ao serem bebidos, provocam reações violentamente adversas antes de proporcionarem poderes incríveis. Entre as tantas habilidades, Booker é capaz de, apenas com as mãos, criar infernos com bolas de chamas com o Devil’s Kiss ou lançar uma revoada de corvos esfomeados em seus inimigos com o Murder of Crows. Existem muitos outros poderes interessantes que, dependendo do momento no combate, podem trazer vantagens ou só complicar a situação. Vale lembrar que ao usá-los, Booker gasta energia e, para recarregar suas forças, ele precisa beber porções de Salts, recargas energéticas para seus poderes guardadas em vidros pequenos espalhados por toda Columbia.

Elizabeth: o "cordeiro" de Columbia
Apesar de todas essas armas poderosas, habilidades fantásticas e cenários de fazer cair o queixo, existe um detalhe muito importante que torna Bioshock Infinite um jogo tão incrível. Estamos falando de uma das personagens virtuais mais carismáticas e simpáticas já criadas no universo eletrônico: Elizabeth. Desde o momento em que o agente turrão encontra a jovem emprisionada e a liberta, ela se torna sua companheira inseparável e fiel ajudante.Já no primeiro combate ao lado da moça, recebemos uma gentil mensagem do jogo: “Você não precisa cuidar de Elizabeth. Ela sabe se virar sozinha”. Tal aviso é uma verdadeira dádiva para aqueles que odeiam ter que ficar cuidando de um personagem secundário ao longo de uma trama e uma lição aos futuros jogos de como uma missão de resgate e segurança deve ser feita. A inteligência artificial por trás de Elizabeth é tão bem feita que, enquanto ela interage com os cenários, os personagens e Booker, ganhando nossa simpatia, nunca atrapalha o progresso do jogador. Pelo contrário, durante os combates, ela fica em um canto escondida ou vasculhando os arredores em busca de itens como munição, kits médicos ou salts. Além disso, ela ainda é capaz de quebrar o segredo de qualquer fechadura e de garantir segurança e trazer aliados ao abrir brechas temporais trazendo coberturas, itens e máquinas de guerra através do tempo. Ela é ou não é especial?

Tem como não simpatizar por ela?

Uma história dentro de outras histórias

O enredo principal de Infinite é simples: você encarna Booker DeWitt, um ex-soldado e agente do governo americano que, para saldar uma enorme dívida, recebe a missão de ir até a cidade flutuante de Columbia, desaparecida há vários anos, encontrar uma garota, Elizabeth, e trazê-la de volta a salvo para Nova York.  E logo no começo da aventura, a trama pode parecer apenas mais um FPS em que você tem que desbravar um caminho perigoso e vencer diversos inimigos para salvar seu alvo e completar a missão, porém, a medida que se descobre mais sobre os mistérios de Columbia, sobre Elizabeth e até sobre você mesmo, a história vai dando reviravoltas incríveis que culminam em um final tão surpreendente que, além de render diversas discussões metafísicas e científicas, faz o jogador compreender o porquê do jogo se chamar Infinite. Sendo assim, a falta de um enredo onde as decisões tomadas pelo jogador influenciam no desenrolar e no final da história (como nos outros BioShocks) não atrapalham nem um pouco o desenvolvimento da trama. O final de Infinite é tão arrebatador e surpreendente que presenciá-lo é como apreciar uma bela obra de arte: basta se recostar na cadeira, admirar o cenário e absorver cada detalhe da história para se sentir maravilhado.

Acho que o Songbird não está a fim de cantar, não é?
Um item que é destaque através de toda a franquia de BioShock e que se torna ainda mais impactante em Infinite é a trilha sonora. Dizer que a música é um personagem extra na trama é pouco: ela é um componente imprescindível e que muitas vezes rouba a cena nas sequências ao longo do jogo. Temos músicas belíssimas, como um singelo solo de piano que toca enquanto os jogadores e Booker olham abismados para a glória de Columbia pela primeira vez. Não nos esqueçamos da tensa música do primeiro encontro com Songbird ou das melodias rápidas que bruscamente mudam o ritmo quando se está no meio de uma batalha. Mas talvez uma dos detalhes sonoros mais importantes sejam as músicas de época que tocam ao longo do jogo, dando o tom histórico preciso, como “Solace”, a primeira música em tempos que fez muitos jogadores apreciarem a tela de carregamento do jogo.


A jogabilidade e a inteligência artificial por trás dos combates surpreendem por sua eficiência, mas pecam em alguns momentos. Não é raro ocorrerem alguns bugs deixando um inimigo como um simples policial ou um enorme Handyman parados em um lugar fixo, apenas atirando na sua direção uma rajada de balas (ou mesmo objetos, no caso do grandalhão) sem mostrar muito perigo. Para quem achar que o modo normal de Infinite não está proporcionando a carga necessária de desafios, existe o modo “1999” que é desbloqueado ao se completar o jogo pela primeira vez. Nesse módulo, os inimigos são mais resistentes e infligem mais dano, além de não existir mais o sistema de navegação que pode ser chamado pelo jogador em momentos confusos e que mesmo no modo normal às vezes mais confundia do que ajudava.

Uma batalha nas nuvens!
Apesar de alguns deslizes, BioShock Infinite é uma verdadeira obra prima. O jogo é uma revolução tão grande quanto seus antecessores no gênero do FPS e uma aventura imperdível que já deixou sua marca no universo eletrônico. Dado o final da história e as tantas tramas paralelas do enredo, podemos esperar futuros DLC’s que irão explorar mais profundamente o universo da distopia de Columbia: uma sociedade tão bela e distorcida que vale a pena se aventurar e onde, nem mesmo os rugidos do temível Songbird podem assustar os intrépidos jogadores.

Prós

  • Visual e gráficos incríveis;
  • História envolvente e complexa;
  • Jogabilidade simples e variada;
  • A personagem mais interessante em muito tempo.

Contras

  • Inteligência artificial precisa, mas com pequenos bugs;
  • Falta de mais interação com o cenário.
"Traga-nos a garota, e limpe sua dívida", parece fácil, não é?
BioShock Infinite - PC - Nota: 9.5
Veja também nossa análise para PS3.
Revisâo: Alex Sandro de Mattos

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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