Quem é fã da franquia Danganronpa deve conhecer pelo menos um “Fangan”, apelido dado pela comunidade a jogos feitos por fãs que colocam um elenco original na mesma situação de Makoto Naegi e companhia: um grupo de 15 a 16 adolescentes (ou, às vezes, adultos) é obrigado por um mascote sádico a cometer assassinatos entre si.
Alguns exemplos, como Danganronpa Another, usam o mesmo universo da série, com o urso Monokuma e tudo; já outros preferem criar algo mais original (sem deixar de serem derivativos, mas não no mau sentido), a exemplo de Project: Eden’s Garden. Neste meio, Kumitantei: Old-School Slaughter nasceu como Fangan, inclusive copiando o estilo gráfico do artista Rui Komatsuzaki, antes do time Mango Factory decidir por um caminho diferente.
As marcas estão todas no roteiro: os “Ultimates” viraram “Absolutes”, “desespero” virou “apatia”, as balas usadas como provas do crime viraram cartas de baralho, e por aí vai. O game, contudo, lança mão de vários artifícios que têm o potencial de separá-lo de sua maior inspiração. Jogamos o prólogo e uma demo de batalha, disponíveis gratuitamente no Steam, e contamos tudo!
Roteiro parecido, roupagem diferente
Nossa protagonista é Himari Sanada, uma moça de temperamento ameno aceita no Instituto Janus como a Absolute Barista. No primeiro dia de aula, Himari e seus novos colegas, uma turma diversa de vários outros talentos, descobrem que são, na verdade, cobaias de um experimento científico, cujo objetivo é descobrir os “limites da apatia”. O método? Fazer com que a turma mate uns aos outros até só uma pessoa sobrar, alguém que supostamente ficará desprovido(a) de emoções.
Até aí, nada de muito diferente da mãe original do projeto. O que eleva Kumitantei ao status de jogo próprio é o pano de fundo: a história se passa em 1989, e o suposto prédio do Instituto Janus, onde todos acordam, é ainda mais antigo, não tendo sido atualizado ou sequer tocado desde a década de 1950. Como resultado, uma estética retrô permeia o estilo gráfico; segundo os desenvolvedores, a maior inspiração é o mangá Urusei Yatsura (Turma do Barulho), de Rumiko Takahashi.Há também uma forte corrente política que já pode ser percebida no enredo. Kumitantei apresenta uma realidade alternativa na qual o Japão nunca entrou na Segunda Guerra Mundial e seguiu sendo um império, e o Instituto Janus é, abertamente, um braço do governo para o cultivo de “talentos excepcionais”, os Absolutes. Não é uma ideia distante do Danganronpa original, que já flertava com críticas à mentalidade de excepcionalismo e meritocracia desde o início — aqui, por outro lado, a tese fica muito mais explícita.
Além disso, grande parte do elenco é PCD: temos um rapaz que sofre de esquizofrenia, um jovem de 18 anos que ainda tem a aparência e mentalidade de uma criança, um músico traumatizado com problemas para expressar emoções, entre outros — além de uma cirurgiã plástica obcecada com o conceito de “beleza”, de forma a remeter à eugenia. As diversas discussões prometidas pelo game até agora o tornam um objeto de interesse; é esperar para ver se o enredo cumprirá com as expectativas.
Debates pra baralho
Assim como “Danganronpa” significa “refutação com balas” em japonês, “Kumitantei” quer dizer “detetive do carteado”, um nome que representa a outra grande mudança: gameplay. Por aqui, quando alguém morre, devemos debater quem é o culpado do crime por meio de batalhas com cartas. Fazer Himari virar “chegada” do elenco dá aos jogadores algumas cartas especiais, cada qual com sua habilidade.Como ninguém teve a chance de ser assassinado no prólogo, o Mango Factory também forneceu uma demo deste modo. Cada lado tem um turno para atacar, seguindo uma lógica de “pedra, papel e tesoura” ao escolher as cartas das cores que mais causarão dano, além de ter de considerar uma série de outras mecânicas, como o valor de cada uma e as habilidades especiais mencionadas acima.
Conforme vamos avançando no debate, recebemos algumas cartas permanentes, que não podem ser usadas ou removidas da mão. Estas são utilizadas para responder uma pergunta feita pelo adversário.
A base é sólida — o problema é como funciona na prática. A parte mais difícil de internalizar é que não há limite de tempo. Até que eu me inteirasse disso, foram várias rodadas fazendo decisões impetuosas e pateticamente erradas. Seria também interessante se o tutorial da versão final fosse mais direto; ninguém quer ter de ler um documento de 12 páginas, como é o caso atualmente, para poder entender a brincadeira direito.
As cartas foram dadas
À primeira vista Kumitantei: Old-School Slaughter pode parecer só mais um Fangan, mas abordagens diferentes à história e jogabilidade de Danganronpa o tornam um game que vale a pena seguir para quem gosta de mistérios, deckbuilders e narrativas com um gosto maior pela crítica social.
O jogo será lançado em seis episódios ao longo dos anos, e o primeiro estará disponível na primeira metade de 2026. Inicialmente, apenas uma versão de PC está nos planos.
Revisão: Johnnie Brian





