Dragon Quest VII: Fragments of the Forgotten Past e o retorno da franquia ao Ocidente

O sétimo capítulo de DQ marcou a franquia de diversas maneiras.

em 05/12/2025
Em agosto de 2000, a tradicional franquia de RPGs concebida por Yuji Horii alcançava seu sétimo capítulo com Dragon Quest VII: Fragments of the Forgotten Past, lançado para o PlayStation original. No Ocidente, o jogo chegaria em outubro do ano seguinte, sob o nome Dragon Warrior VII.

O título teve grande importância por marcar o retorno da série principal ao Ocidente após um longo hiato, além de iniciar a transição da franquia para gráficos em 3D. Foi também o último produto a adotar o nome Warrior, já que, em 2003 — ano da fusão da Square com a Enix — a marca Dragon Quest foi finalmente registrada pela empresa nos Estados Unidos.

Ilhas separadas pelo espaço e pelo tempo

A história acompanha um jovem filho de pescador da vila de Pilchard Bay, localizada na Ilha Estard, que parece ser a única massa de terra existente no mundo. Ao lado do príncipe Kiefer e de Maribel, filha do prefeito, o protagonista descobre um fragmento de mapa que, quando colocado em um pedestal de uma ruína local, os transporta para um novo e misterioso local.

A partir dessa descoberta, o grupo passa a investigar o poder da antiga construção e dos estilhaços, que permitem o acesso a inúmeras regiões e diferentes períodos de tempo. Aos poucos, eles percebem que o mundo já foi composto por diversos continentes, e que sua missão é restaurá-los.

Nesse contexto, o trio, acompanhado por novos aliados que se juntam ao longo da jornada, viaja entre diferentes épocas e ilhas para descobrir mais detalhes sobre o passado e encontrar uma forma de reconstruir o planeta. No caminho, acabam esbarrando nos planos de um demônio, cuja presença parece estar diretamente ligada aos problemas que afligem a era atual.

A estrutura de Dragon Quest VII lembra, em alguns aspectos, o que vimos em Dragon Quest VI, pois também é organizada em pequenos arcos espalhados por diferentes regiões. No entanto, em DQVII, a ligação entre os eventos principais é mais clara, especialmente quando a identidade e a influência do antagonista central sobre os acontecimentos se tornam evidentes.

Por outro lado, essa estrutura faz com que o jogo seja extremamente longo e que a narrativa tenha um ritmo mais contido, já que é necessário visitar inúmeras áreas antes que as conexões entre os eventos comecem a se revelar. Esse aspecto é reforçado pelo fato de que certos recursos, como o sistema de classes, demoram bastante para serem introduzidos.

Apesar dessas ressalvas, como nos melhores títulos da série, os personagens são carismáticos e desempenham papéis ativos na narrativa, tornando cada interação significativa e ajudando a construir um mundo vivo e envolvente. Para reforçar essa característica, o game introduziu pela primeira vez o Party Chat, um recurso no qual os heróis comentam sobre o local, a situação e até mesmo os combates.


Em busca de fragmentos

Como é tradicional na franquia, Fragments of the Forgotten Past apresenta um grande mapa-múndi, repleto de áreas internas, como cidades, castelos, cavernas e florestas. No entanto, esse mundo é expandido gradualmente à medida que o jogador participa de sua reconstrução, e, durante grande parte da aventura, o acesso às diferentes regiões ocorre apenas por meio das ruínas.

Todos os elementos que incentivam a exploração — como NPCs com diálogos interessantes, Mini Medals e equipamentos escondidos — continuam presentes. Em DQVII, porém, a busca detalhada ganha ainda mais importância, já que muitos fragmentos que liberam novos locais e são essenciais para o progresso da história estão espalhados por inúmeras regiões.

Outro recurso que estimula a investigação é a mecânica de The Haven, uma cidade que pode ser preenchida com NPCs específicos. Dependendo da quantidade de moradores e de seus tipos — como fazendeiros, comerciantes ou religiosos — o lugar muda de forma e passa a oferecer itens e recompensas diferentes.

Como mencionado, Dragon Quest VII marcou o início da transição da franquia para o 3D. Neste capítulo, embora os personagens e os confrontos ainda sejam representados por sprites 2D, os cenários são construídos em polígonos e permitem a rotação total da câmera. Esse estilo gráfico acabaria sendo replicado nos remakes de DQIV, DQV e DQVI para Nintendo DS, também desenvolvidos pela HeartBeat.


Ainda mais vocações

O sistema de combate de Fragments of the Forgotten Past mantém o modelo de batalhas em turnos, com visão em primeira pessoa. Como é comum no gênero, efeitos debilitantes, magias, habilidades e diferentes tipos de equipamentos desempenham papéis centrais na elaboração de estratégias, exigindo atenção à composição do grupo e ao uso inteligente de recursos.

Tal qual seu antecessor, Dragon Quest VII conta com um sistema de vocações, no qual os personagens podem adquirir novas classes mais complexas ao dominar completamente as básicas, atingindo seus níveis máximos. No entanto, há um acréscimo de variedade e complexidade devido à inclusão de classes de monstros.

Neste jogo, podemos coletar corações de criaturas para adquirir classes relativas a elas, como Slime, Chimaera ou Golem. Assim como nos jobs padrões dos humanos, essas vocações podem ser aprimoradas e mescladas para gerar alternativas mais complexas. Vale destacar que todas as habilidades de profissões de monstros dominadas permanecem com o personagem mesmo após a troca de vocação.

Com divisões entre níveis iniciante, intermediário e avançado para cerca de 20 classes humanas e outras 30 de monstros, Dragon Quest VII apresenta um sistema de vocações com pouco mais de 50 opções, todas com características próprias capazes de serem combinadas para gerar as estratégias mais malucas que o jogador conseguir conceber.

Influência em títulos posteriores e um remake mais acessível

Conforme foi citado no início deste texto, após um longo hiato sem lançamentos da série principal fora do Japão, Dragon Quest VII marcou o retorno da franquia ao Ocidente. Antes dele, a última obra traduzida havia sido Dragon Quest IV: Chapters of the Chosen, lançado como Dragon Warrior IV para o Nintendinho em 1992 (no Japão, o jogo foi lançado em 1990).

A obra também foi importante por servir de base para os remakes de Dragon Quest IV, V e VI, que, possivelmente, representam a melhor forma de aproveitar a trilogia Zenithia. Além do aspecto visual, que combina elementos em 2D e 3D, ter sido replicado nessas obras, o recurso Party Chat foi incorporado, oferecendo novas camadas de profundidade. 

Isso se mostra especialmente relevante em Dragon Quest VI, cuja versão original explorava pouco a personalidade e as interações entre os heróis. Vale destacar também que o Party Chat continuou relevante nas entradas mais recentes da franquia, estando presente em Dragon Quest XI e surgindo de forma adaptada até mesmo em alguns spin-offs, como Dragon Quest Heroes e Dragon Quest Builders.


Mais tarde, em 2013 no Japão e em 2016 no Ocidente, o jogo recebeu um remake para Nintendo 3DS que trouxe mudanças significativas. Além dos sprites originais terem sido substituídos por modelos 3D, tanto na exploração quanto nos combates, o jogo passou a exibir os monstros se movimentando pelas dungeons antes do início dos confrontos.

Outras mudanças incluem a adição de um radar para facilitar a localização dos fragmentos e de um NPC específico para orientar o jogador sobre suas possíveis posições; a redução do número de batalhas necessárias para evoluir vocações; e um cuidado maior com as animações, que passaram a destacar melhor os diferentes tipos de armas e classes.



Um legado duradouro

Sendo o precursor do retorno da franquia ao Ocidente e inovador para a época por apresentar um mundo completamente fragmentado, Dragon Quest VII: Fragments of the Forgotten Past ocupa um lugar de grande importância dentro da tradicional saga de RPGs.

Embora alguns trechos possam prejudicar levemente o ritmo da narrativa, a obra entrega, ao final, uma aventura digna da série e memorável. Agora, resta torcer para que Dragon Quest VII Reimagined, que será lançado em fevereiro do próximo ano, receba o mesmo cuidado e atenção dedicados aos remakes recentes dos três primeiros capítulos da franquia.

Revisão: Thomaz Farias
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Lucas Oliveira
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