De acordo com algumas histórias e lendas, um pacto com o Diabo sempre é feito em momentos de desespero e o preço a ser pago é alto demais, por mais que a outra parte assuma o risco. Skate Story é a história de um demônio que vendeu a alma apenas para poder andar de skate no submundo, mas ganhou uma série de tarefas com várias segundas intenções.
Fome lunática
O demônio em questão fechou um contrato simples com o Diabo: pela sua alma, ele poderá andar de skate livremente pelo submundo e matar sua vontade de comer a lua, mas em troca seu corpo será feito inteiramente de vidro, o tornando frágil.
Claro que o documento infernal está cheio de entrelinhas e o skatista cristalino agora deve comer mais sete luas, além de ter que lidar com mais algumas missões secundárias com personagens aprisionados pelas camadas do submundo.
Para quem já experimentou algum título da série Tony Hawk’s Pro Skater, pode até ficar confuso com a execução de manobras, mas essa sensação passa rápido após alguns minutos de jogatina. Temos um botão para o ollie e um para usar os pés para dar impulso. As manobras são executadas combinando o ollie com os botões superiores de cada controle — L1/L2/R1/R2, LB/LT/RB/RT, e por aí vai. Também podemos descer do skate, mas nossa movimentação se restringe apenas a caminhar e interagir com objetos.
A cada capítulo, temos um padrão que se replica: conhecemos a lua que temos que devorar, atravessamos uma série de portais para aprender uma nova manobra, exploramos uma área aberta para realizar algumas missões e encontrar colecionáveis até adquirirmos informações o suficiente, passamos por mais uma série de corredores e portais para enfim chegarmos ao derradeiro combate com a lua. Derrotá-la é necessário para que ela reduza seu tamanho e possa ser consumida.
Claro que eu resumi a experiência de maneira bem curta, mas isso não quer dizer que seja algo extremamente repetitivo. Começando pelos corredores — nem sempre eles são uma linha reta. Alguns portais só se abrem após passarmos por pontos específicos, sinalizados com olhos brancos. Para cruzá-los, temos que utilizar nosso repertório de manobras e até combinações.
Nesse momento, a fluidez dos movimentos do protagonista mostra-se bastante exata, sem saltos exagerados nos quais podemos realizar milhares de manobras ao mesmo tempo antes de chegar no chão. Cada salto dá espaço para uma ou duas manobras no máximo, sem exageros. Isso torna a experiência mais crível e próxima do real.
Outro ponto a ser levado em consideração é que o skatista é feito de vidro, logo ele tem uma barra de vida. Se caímos muito ou esbarramos em espinhos, ele acaba quebrando. Se isso acontece em algum trecho de velocidade, retornamos ao início; se estamos em uma área aberta, reaparecemos imediatamente.
Minhas únicas observações sobre a jogabilidade estão nos grinds e viradas mais bruscas com o skate. Para acertar uma quina ou corrimão, temos que pular exatamente sobre eles. Assim, conseguimos deslizar com a prancha; só que esse salto tem que ser muito preciso e, em algumas tarefas, principalmente nos trechos de mundo aberto, nem sempre temos os melhores ângulos para realizar os grinds. Logo, é inevitável cair milhares de vezes.
Já as viradas, utilizadas para curvas fechadas e mudanças de direção, nos levam a perder quasetotalmente a velocidade e até um pouco do controle sobre o skate. Isso causa uma certa quebra de ritmo ao progredirmos.
Quanto à progressão na história, eu sinto que faltam alguns indicativos visuais para procurar as missões secundárias. Temos que caçar os NPCs pelo espaço e ir dialogando com eles, para depois encontrar algum objeto e depois levar de volta. Seria bom se houvesse algum marcador de direção, pelo menos após aceitar a missão ou encontrar o que procuramos.
Uma visão bastante particular das camadas do Submundo
Pensar em skate sempre vai trazer à mente uma vibe mais enérgica, forte, com cores vibrantes em todos os cantos. Skate Story vai na contramão disso e acaba acertando com uma combinação de tons mais escuros, trazendo quase uma vibe que transita do intergaláctico ao psicodélico no Inferno.
Outra coisa que me impressionou positivamente foi a narrativa, que traz diversas questões filosóficas e reflexões bastante pontuais, relevantes tanto para a jornada do protagonista quanto para criar algum tipo de empatia pelos NPCs, que estão vagando pelo espaço.
A cada missão, sempre nos deparamos com frases que parecem soltas, mas acabam ressoando no entendimento do protagonista, e do jogador, no enredo. Destaco principalmente o início do jogo como a parte que mais me entreteve, com as cabeças de estátuas gregas e filósofos divagando sobre temas como amor, dor, luto e a vida.
Toda a jornada é muito bem acompanhada pela trilha sonora composta pelo grupo Blood Cultures e por John Fio. Temos ótimas misturas de lo-fi, lounge, synthwave, entre outros ritmos que funcionam como uma expansão muito bem encaixada dos ambientes, que já são dominados pela paleta de cores predominante de cada lua.
Skate Story conta com legendas localizadas em português, mas em alguns momentos aparecem textos em inglês. É um tipo de problema pontual, mas que um patch de correção resolve rapidinho.
Um belo cristal de charme único
Diferente do skatista de vidro, Skate Story está longe de ser algo frágil. A junção de narrativa, visual e trilha sonora criam um ótimo título para quem gosta de experiências profundas e reflexivas.
Prós
- A narrativa é mais complexa do que aparenta;
- A física realista das manobras torna a jogabilidade mais real;
- Os visuais trazem composições de cores e elementos que criam ambientes surrealmente criativos;
- A trilha sonora combina muito bem com o jogo, adicionando uma ótima camada de imersão.
Contras
- Fazem falta alguns indicativos visuais durante as missões secundárias;
- Acertar o grind e as viradas mais bruscas quebram um pouco o ritmo veloz do jogo;
- Algumas legendas aparecem em inglês mesmo jogando em português.
Skate Story — PC/PS5/Switch 2 — Nota: 8.0Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Ives Boitano
Análise feita com cópia digital cedida pela Devolver Digital













