Secrets of Blackrock Manor - Escape Room é um jogo direto ao ponto. A ideia já está no subtítulo, que, por ser explícito demais, é ,ao mesmo tempo deslocado da atmosfera e eficiente em descrever a experiência: "escape room" é uma atividade de decifrar e solucionar puzzles em um local até destrancar o objetivo final. Não, não precisamos escapar da mansão do título, apenas desvendar seus segredos.
Casos de família
Mistérios combinam bem com puzzles, dando um tempero a mais para ajudar a entrar no clima. Neste caso, é só isso que temos: um tempero a mais, sem grandes pretensões. A história é simples: um traficante de armas do século XIX escondeu sua fortuna em algum lugar de sua mansão. Paranoico, o homem trancou todos os cômodos por trás de mecanismos e códigos para que ninguém tivesse acesso à sua riqueza.
A esposa e os três filhos morreram em circunstâncias não esclarecidas, de forma que o homem não teve herdeiros diretos e apenas um século depois uma parente distante recebeu a casa de herança, mas não conseguiu encontrar o tesouro.
Para essa tarefa, ela contratou um detetive particular, que é nosso protagonista. Nós o controlamos em primeira pessoa e ouvimos alguns comentários dele ao longo da campanha. Não é nada muito desenvolvido, mas a dublagem em inglês dá um pequeno toque de capricho que é bem-vindo nessa produção simples.
Aos poucos, descobrimos algumas cartas e anotações que servem de pistas para os enigmas e para entender um pouco sobre a família que viveu ali. É bem pouco e não há grandes surpresas, mas a história dá sentido à gameplay e é melhor com ela do que sem ela.
Visualmente, temos apenas o básico, com cores e luzes bastante planas. É o bastante para o que importa, que é cumprir seu propósito ilustrativo e não atrapalhar o nosso trabalho de raciocínio lógico. Já o departamento de som deixou a desejar, com um piano miando algumas notas lentas para fazer tom de suspense. Não demorou muito até que eu decidisse baixar o volume da música até quase não ouvi-la.
Quebrando a cabeça sem dó
Como um jogo de puzzle, Secrets of Blackrock Manor é bem estruturado. Passamos de um cômodo a outro da mansão em uma sequência que funciona como uma divisão em capítulos, pois cada sala contém todos os quebra-cabeças e informações necessários para resolvê-la e abrir a passagem para a seguinte. Portanto, não sobram pontas soltas nem há necessidade de guardar informações anteriores.
Já os enigmas são completamente arbitrários e não se integram ao ambiente. Eles se aproveitam da conveniência narrativa de que a casa foi intencionalmente transformada em um grande edifício de segredos e travas. Dessa forma, precisamos acionar botões na ordem correta, decifrar códigos, ajustar ponteiros, organizar objetos, tocar piano e por aí vai.
Há exceções de puzzles que envolvem os membros da família, seus nomes e preferências reveladas por meio dos textos que já citei. A maioria, porém, é não diegética — isto é, não faz parte da história.
É assim: se vemos um cadeado com chave de cinco números e encontrarmos algo que nos revela cinco números, deduzimos que uma coisa está ligada à outra. Dessa forma, seguimos por associação de cores, quantidades, objetos, formas e símbolos, sem precisar de qualquer vínculo lógico coerente no contexto.
Tal abordagem funciona bem na maior parte do tempo e dá satisfação, mas houve pontos em que precisei usar o sistema de dicas, principalmente nos cômodos finais e dois puzzles que, mesmo após acertar a resposta, não consegui entender qual era o nexo (acertei o elemento que faltava por tentativa e erro).
O sistema de dicas dá apenas uma dica para cada puzzle, mostrando outros elementos na sala que têm a ver com a resposta. Algumas são o bastante para elucidar o problema em questão, enquanto outras me deixaram intrigado por um bom tempo como se a dica fosse parte do próprio quebra-cabeças e não uma ajuda externa, como a da imagem abaixo.
No PS5, basta completar a campanha para alcançar o troféu de platina, o que me rendeu cerca de cinco horas jogando com minha esposa (Secrets of Blackrock Manor é para um jogador, mas em jogos de puzzles duas cabeças pensam melhor do que uma e é divertido raciocinar em dupla).
Ah, antes do fim, um ponto que me desagradou: não há salvamento automático. Perdi a primeira hora inteira por ter desligado o console sem atentar a isso. É preciso salvar manualmente pelo menu, o que é bastante fácil. No entanto, essa é uma escolha estranha para nossos tempos tão acostumados a que o próprio jogo cuide de salvar em momentos-chave. Houve outra vez que, após um intervalo de quase uma semana sem jogá-lo, esqueci desse detalhe, caí no mesmo erro e perdi um cômodo inteiro de progresso.
Segredos por trás de portas fechadas
Os puzzles de Secrets of Blackrock Manor - Escape Room realmente nos fazem colocar os neurônios para funcionar. Eles são arbitrários e se valem muito mais da nossa capacidade de associação de símbolos, cores e números do que do ambiente ou contexto narrativo.
A história está ali para dar um pequeno sabor a mais, mas seu papel é secundário, pois os verdadeiros protagonistas são os enigmas. No fim, é um jogo divertido e despretensioso, que quer apenas nos dar algumas horas do prazer de desvendar a lógica por trás de cada cômodo de uma mansão antiga.
Prós
- Os bons puzzles de raciocínio lógico cumprem o principal propósito do jogo;
- A narrativa de mistério, apesar de simples, deixa a campanha mais interessante;
- Textos em português brasileiro.
Contras
- Produção despretensiosa, com música inexpressiva e sem visuais que chamem a atenção;
- Sistema de dicas limitado a uma por puzzle;
- Os puzzles aproveitam pouco a narrativa e o contexto;
- Não há salvamento automático.
Secrets of Blackrock Manor - Escape Room — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: PS5
Revisão:Johnnie Brian
Análise produzida com cópia digital cedida pela Marcer Games











