Análise: She’s Leaving é um survival horror autêntico marcado por altos e baixos

Jogo de estreia do Blue Hat Studio acerta no tom, mas deixa a desejar no ritmo da experiência.

em 13/12/2025
She’s Leaving marca a estreia do Blue Hat Studio na indústria de games. Neste survival horror, assumimos o papel de um policial forense que arrisca a vida e a carreira para desvendar mortes suspeitas e sua possível ligação com um serial-killer. A seguir, analisamos em mais detalhes o que esperar dessa investigação.

O mistério de Haywood

Charles Dalton é um policial forense que decide investigar por conta própria um caso que nem mesmo os detetives mais experientes conseguiram solucionar. Ele segue para a Casa Haywood, um local tão imponente quanto enigmático, marcado por mortes misteriosas ainda sem explicação. Armado apenas com um taser, um rádio, astúcia e coragem, Dalton inicia sua busca por respostas e logo percebe estar envolvido em algo maior do que imaginava — e que suas suspeitas podem estar mais próximas da verdade do que gostaria.


She’s Leaving é um título de terror e sobrevivência em primeira pessoa no qual assumimos o papel de Charles Dalton em sua arriscada investigação sobre os assassinatos em Haywood. O jogo aposta em uma atmosfera tensa e intimista, onde cada passo rumo à solução do mistério pode ser decisivo.

A história se desenrola dentro da Casa Haywood, uma espécie de hotel-museu que, além de receber turistas, abriga áreas dedicadas à história da região e de seus fundadores. Dalton chega em meio a uma nevasca e acaba sendo forçado a permanecer no local por mais tempo do que o previsto.


A investigação inicial exige a coleta de amostras de sangue que podem ajudar a compreender a dinâmica dos crimes. No entanto, ele logo descobre, da pior forma, que não está sozinho. Um homem mascarado — um psicopata que provavelmente é o responsável pelas mortes — também está no hotel, disposto a garantir que os segredos do lugar permaneçam enterrados.

CSI simulator?

She’s Leaving dispensa a violência gráfica para apostar em uma atmosfera de tensão constante enquanto vasculhamos a Casa Haywood em busca de pistas. Em um primeiro momento, nosso objetivo é localizar vestígios de sangue para começar a montar o caso. Cada amostra encontrada ajuda a entender a dinâmica dos assassinatos e a revelar mais sobre a história.

As andanças de Dalton pelos corredores escuros e labirínticos podem ser interrompidas a qualquer momento pelos murmúrios do stalker, o maníaco que ainda ronda o local. Ao menor sinal de sua presença, o ideal é se esconder e preparar o taser para uma possível investida caso ele encontre o protagonista. Quando o perigo passa, a investigação pode prosseguir.


Entretanto, as cargas do dispositivo são limitadas. Cada disparo exige a preparação de uma nova carga para que o taser esteja pronto para um outro confronto. Caso o stalker capture o jogador, a tela escurece sob gritos de horror, encerrando a tentativa e retornando ao último ponto de salvamento.

A dinâmica gira em torno de reunir pistas para montar o caso conforme ganhamos acesso a mais áreas de Haywood. Isso gera diversas idas e vindas pela Casa em busca de chaves que abrem as portas de novas áreas e permitem avançar na investigação.


Em muitos momentos, a escuridão dos corredores dificulta a busca por itens, exigindo atenção constante ao caminhar e procurar por pistas, chaves ou documentos que expandem a narrativa e oferecem dicas para resolver puzzles, como abrir cofres ou acessar setores antes trancados.

Uma ambientação competente para uma dinâmica pouco eficiente

A experiência no PlayStation 5, plataforma onde joguei para produzir esta análise, é favorecida por recursos únicos do console, especialmente o controle DualSense. O design de som é um dos pontos que mais merece destaque. Jogar com fones é altamente recomendável para ampliar a imersão, tornar a experiência mais autêntica e reforçar o constante clima de tensão da trama.

O DualSense funciona como um suporte adicional ao indicar se o taser está carregado: o LED acende em azul quando o disparo está pronto e em vermelho quando não há carga disponível. A vibração e os gatilhos também reproduzem com precisão a tensão ao empunhar a arma, sobretudo em momentos de possível captura pelo opressor.


Visualmente, os cenários e a ambientação criam um desconforto genuíno, ideal para fortalecer o clima de suspense. A atuação de voz dos personagens, especialmente de Dalton e das pessoas com quem ele se comunica pelo rádio, também entrega um bom resultado e contribui para a imersão.

Apesar do mérito da Blue Hat Studio na construção do mundo, a dinâmica de gameplay ainda deixa a desejar, tornando a experiência menos engajante e até cansativa em alguns trechos. Já no primeiro capítulo é comum se perder sem saber exatamente o que fazer ou para onde ir. Não há um sistema de dicas — seja direto ou dinâmico — que auxilie o jogador a retomar o rumo. O máximo disponível é a informação do objetivo atual no menu de inventário.

Como a narrativa é construída de forma a descobrirmos os acontecimentos ao lado do personagem, é frequente chegar a determinados pontos com a sensação de “o que faço agora?”. Em alguns momentos, precisei refazer meus passos para lembrar o que era necessário para avançar na campanha. Em uma ou outra ocasião acabei encontrando o que buscava meio que sem querer.


Um sistema de dicas dinâmicas seria bem-vindo e não prejudicaria a imersão. Interações pelo rádio, como “Você já passou por tal área?” ou “Não esqueça de verificar tal sala”, ajudariam a recuperar o direcionamento sem transformar a progressão em um jogo de tentativa e erro enquanto se foge de um maníaco pelos corredores do hotel.

Ainda assim, She’s Leaving cumpre sua proposta, mesmo com a execução do gameplay pouco eficiente. Por outro lado, surpreende com uma ambientação que faz jus ao gênero de horror de sobrevivência sem recorrer à violência explícita ou elementos sobrenaturais. Um thriller autêntico que, como jogo, ainda tem espaço para melhorias a fim de se tornar mais envolvente.

Caso encerrado

She’s Leaving entrega uma experiência de horror psicológico centrada na atmosfera, na tensão constante e na sensação de vulnerabilidade. O Blue Hat Studio acerta ao construir um ambiente inquietante e um design de som envolvente, que reforçam o desconforto e o mistério por trás da Casa Haywood.

Embora a ambientação e a narrativa consigam prender a atenção, a execução do gameplay ainda carece de refinamento, especialmente no que diz respeito ao ritmo e à orientação do jogador. Mesmo assim, o jogo demonstra potencial e mostra que o estúdio tem boas ideias para o gênero. Com alguns ajustes, She’s Leaving pode se destacar como um thriller de sobrevivência mais coeso e envolvente.

Prós

  • Atmosfera bastante imersiva, reforçada por um design de áudio de alta qualidade;
  • Ambientação visual competente, capaz de gerar desconforto sem recorrer à violência explícita;
  • Boa atuação de voz, especialmente nas interações por rádio;
  • Uso criativo dos recursos do DualSense no PlayStation 5;
  • Narrativa envolvente e intrigante, com bom potencial de desenvolvimento.

Contras

  • Falta de um sistema de dicas ou orientação clara, prejudicando o ritmo da jogabilidade;
  • A exploração pode se tornar repetitiva devido às idas e vindas constantes;
  • Mecânicas limitadas, o que pode deixar a experiência pouco dinâmica;
  • Momentos de frustração por não saber exatamente o próximo passo a seguir.
She’s Leaving — PC/PS5/XSX — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida por Blue Hat Studio
OpenCritic
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Alexandre Galvão
Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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