Produzido e publicado pela Pepita Digital, Master Lemon: The Quest for Iceland é um jogo indie brasileiro em que acompanhamos Limão, um jovem com o poder de dissipar a escuridão que assola o mundo de Bashir e está fazendo seus habitantes perderem a memória.
Baseado em uma história real, o título é uma homenagem criada por Julio Santi ao seu amigo André Lima, um poliglota que, infelizmente, perdeu a vida em um acidente de carro. Utilizando uma das maiores paixões do amigo, somos convidados a resolver puzzles para impedir o avanço da escuridão, enquanto refletimos sobre a vida, a amizade e o luto.
O poder das palavras
O jovem Limão era um garoto que, desde pequeno, descobriu seu amor pelas palavras, paixão que o levaria a se tornar um poliglota no futuro. Um de seus maiores sonhos era se mudar para a Islândia e aprender o idioma do país nórdico. Para celebrar suas conquistas, ele decidiu viajar pela Europa, porém, infelizmente, perdeu a vida em um acidente de carro.
Após a introdução, Limão acorda em uma ilha congelada e descobre que está no mundo dos Bashires, um local mágico dominado por uma escuridão que consome a Grande Árvore. Sem ela, tanto a terra dos Bashires quanto o mundo real correm risco de destruição. Dotado do poder das palavras, Limão se torna o portador da luz capaz de dissipar a névoa e salvar a todos.
Durante a campanha, que dura cerca de quatro horas, exploramos as quatro ilhas dos Bashires e as memórias de Limão, revisitando desde sua vida escolar até sua mudança para a Europa. A narrativa alterna gameplay com cutscenes belíssimas em pixel art, totalmente dubladas, aumentando a imersão e o impacto emocional da jornada.
Um dos grandes destaques do jogo é sua ambientação cuidadosamente construída. Cada local visitado é único e repleto de referências a diferentes culturas, com especial destaque para a brasileira presente tanto nos cenários quanto na maior parte dos 124 colecionáveis espalhados pelo mapa.
Mecânicas interessantes, mas subestimadas
Master Lemon é fruto de uma homenagem do desenvolvedor Julio Santi ao seu amigo poliglota André Lima. Assim, utilizar as palavras como mecânica central da aventura faz todo sentido, dando profundidade ao que o protagonista mais valorizava. A principal ação de Limão consiste em dissipar a névoa com as mãos, por meio da habilidade Ratljóst.
À medida que a névoa se dissipa, Limão aprende novas palavras de diversas línguas, como japonês, alemão e islandês. Cada termo desbloqueia a possibilidade de resolver pequenos conflitos e puzzles em cada ilha visitada. Dessa forma, a progressão está diretamente ligada ao quanto conseguimos limpar o mapa, criando um ritmo próprio de exploração.
Uma das mecânicas mais interessantes é a Gambiarra, que permite unir itens de maneiras criativas para solucionar puzzles, como juntar um garfo e um guarda-chuva para criar uma ferramenta capaz de destrancar fechaduras. Em contrapartida, existe a habilidade de Desmantelar, que separa os objetos combinados.
Apesar do potencial, essas mecânicas acabam sendo usadas de forma aquém do esperado. Em vários momentos, a Gambiarra se torna um exercício de tentativa e erro, já que algumas combinações não são intuitivas. Além disso, o Desmantelar aparece rapidamente no início da campanha e deixa de ser utilizado logo depois. Com mais elaboração, essas ideias poderiam elevar significativamente a experiência.
Ainda assim, esses pontos não comprometem o conjunto. As mecânicas, mesmo subutilizadas, se encaixam bem no ritmo da exploração e no tom emocional da história. É muito fácil se deixar envolver pelo mundo dos Bashires, pela atmosfera e pela jornada sensível de Limão.
Um tributo que funciona
Apesar de sua simplicidade mecânica, Master Lemon: The Quest for Iceland funciona muito bem como uma experiência emocional antes de ser um jogo de puzzles. A forma como as memórias de Limão moldam a narrativa faz com que cada trecho da aventura pareça íntimo. É perceptível que o foco da obra é, antes de tudo, transmitir o sentimento de Julio por André.
Ao mesmo tempo, fica evidente que algumas ideias poderiam ter brilhado mais. A Gambiarra, por exemplo, é criativa, contudo, nem sempre entrega situações tão interessantes quanto poderia. Em alguns momentos, a mecânica parece limitada demais para acompanhar o peso da obra. Isso não chega a comprometer a experiência, porém reforça a sensação de que, com mais polimento, o jogo poderia ir além.
Mesmo assim, o impacto emocional compensa essas lacunas. Poucos jogos conseguem transmitir de forma tão direta o afeto por alguém. Master Lemon não apenas homenageia uma vida, como também faz o jogador refletir sobre a própria e é justamente por isso que a obra se destaca. Ele sabe exatamente o que quer comunicar e faz de maneira impecável. No final, o que permanece não são suas limitações, mas a sua mensagem e a certeza de que a memória é uma das formas mais bonitas de manter alguém vivo.
Com a palavra, o Mestre Limão
Master Lemon: The Quest for Iceland é uma experiência curta, mas emocionante e poderosa, que usa as palavras para além de sua mecânica: é a base de sua narrativa. A homenagem a André ganha vida por meio de uma aventura criativa, sensível e visualmente encantadora, equilibrando momentos de leveza e reflexão. Apesar de algumas mecânicas subutilizadas, o jogo brilha por sua ambientação, dublagem e pela forma com que celebra a amizade, a memória e o poder das palavras.
Prós
- A narrativa é emocionante, com forte impacto pela homenagem;
- As cutscenes são belíssimas e totalmente dubladas;
- A ambientação é rica, com referências culturais variadas e forte presença brasileira;
- Uso criativo das palavras como mecânica de progresso.
Contras
- As mecânicas de Gambiarra e Desmantelar poderiam ter sido melhor exploradas.
Master Lemon: The Quest for Iceland — PS5/XSX/Switch/PC — Nota: 9.0Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Thomaz Farias
Análise feita com cópia digital cedida pela Pepita Digital










