Precisão e técnica que reúnem o melhor de dois mundos
Antes de tudo, chega a ser inevitável a comparação entre a aparição da moça no
último jogo da Capcom e como ela foi adaptada para um novo ecossistema de
jogabilidade. Dito isso, dá para dizer que foi feito um trabalho bastante
sólido nessa tradução e sua inclusão parece natural, sem trazer a impressão de
que se trata de um elemento alheio no jogo, seja a nível mecânico, seja
temático — essa parece ser uma cota cumprida pelo DJ e pelo jogador de
futebol.
Nota-se que, enquanto só tivemos acesso ao modo de treino e ao de duelo para
testar a personagem, isso foi suficiente para realizar uma série de testes a
fim de ver como ela se sai na prática. Daí, é importante ressaltar que, logo
de cara, fica claro que a moça foi baseada em sua última aparição em Street
Fighter 6, especialmente no estilo de jogo, embora algumas adaptações tenham
sido necessárias para fazer com que ela se sentisse mais à vontade — e a
conversão de alguns de seus golpes para o sistema de quatro botões.
Enquanto os botões de ataque fraco e médio foram naturalmente atribuídos aos
botões de soco fraco e médio do Fatal Fury, os ataques mais simples referentes
aos botões fortes se tornaram inputs combinados de mais de um botão, uma
metodologia já presente de quando eles adaptaram primeiro a presença do Ken ao
jogo. Dessa forma, a abordagem foi similar aqui, mantendo inclusive algumas
das tecnicalidades exigidas por Chun-Li em Street Fighter 6.
Enquanto no passado ela se tratava de uma lutadora de qualidades bastante
defensivas, com considerável controle de área, Chun-li agora funciona como uma
lutadora mais equilibrada e versátil. Ainda assim, ela é uma personagem muito
técnica, que precisa de uma série de movimentos, combos e inputs para
ocasionar uma quantidade considerável de dano.
Em Fatal Fury: City of the Wolves, o manejo dela não é tão complicado quanto o
de SF6, mas ainda requer um bocado de trabalho e técnica para se acostumar.
Isso provavelmente se deve ao fato de que os jogos da SNK, por padrão, são
normalmente mais ágeis e requerem maior dinamicidade durante os combates.
Ainda assim, a similaridade entre os dois jogos se faz valer com a presença do
sistema REV, que simula as principais características do Drive System que se
tornou o principal diferencial dessa geração de lutadores da Capcom. A
principal ausência no comparativo, na verdade, diz respeito ao Serenity Stream
que a chinesa recebeu nessa última iteração da série. Embora sua versão de
Fatal Fury consiga unir o melhor de dois mundos (e o sistema REV compense com
algumas opções de ataque), essa lacuna acaba sendo sentida no arsenal.
Em contrapartida, algo que deu para perceber em um primeiro vislumbre é que,
enquanto a Chun-Li atual encontrou um terreno fértil para se desenvolver em
combate em solo como uma footsie (um arquétipo de jogo voltado para esse tipo
de tática), a sua versão de Fatal Fury apresenta, pelo menos em uma análise
superficial, um catálogo considerável de técnicas e manobras aéreas.
Além disso, a lutadora também pode se aproveitar dos ataques em charge que
passaram a figurar seu moveset nos últimos tempos, como o Spinning Bird Kick.
É mais um atestado de que o tratamento que a SNK deu a ela é bastante alinhado
com o direcionamento que a própria capcom anda assumindo em relação à sua
usabilidade.
É interessante também estabelecer uma comparação com o Ken, que já está
disponível há algum tempo e conta com uma ideia clara de como a comunidade do
próprio Fatal Fury o vê no título. Enquanto ambos foram aproriadamente
traduzidos para o novo ecossistema, nota-se que ela se dá bem melhor no REV
System, o Drive System, uma vez que é uma mecânica que só existe durante
momentos específicos da batalha.
Enquanto a usabilidade do Ken de Street Fighter 6 tem um estilo que bebe
demais do Drive Rush e acaba sendo prejudicado pela efemeridade do REV, a
independência da Chun-Li em relação a essa mecânica a torna mais útil de
outras maneiras por conseguir se sustentar melhor em combos mais longos e
elaborados, caso o jogador consiga desenvolvê-los.
Agora, de forma complementar, o visual da lutadora ficou acima da média para o
jogo, que conta com alguns modelos claramente aquém em relação aos outros, o
que é justificável dado o peso da visita — o jogador de futebol tecnicamente é
visita também, mas aquela que aparece de surpresa enquanto você está ocupado
com outros afazeres.
Também é bacana a interação especial que a Chun-Li recebeu com a Mai e que
recria uma arte clássica dos crossovers antigos da série, aquela famigerada em
que as duas se encaram com uma proximidade que basicamente se torna
intimidade. Essa homenagem só não é melhor porque, enquanto a primeira pode
utilizar a sua roupa tradicional durante as partidas como uma alternativa, a
ninja do clã Shiranui está restrita ao seu visual de motoqueira moderninha.
Uma dupla que se complementa
Em Fatal Fury: City of the Wolves, Chun-Li faz um conjunto de lutadores muito
interessante ao lado de Ken, uma vez que cada um da dupla parece ter uma
finalidade clara, porém distinta, em sua execução prática. Enquanto o loirão
consegue se estabelecer como um elo perdido entre os dois jogos de uma forma
simples de manejo e aprendizado, Chun-Li apresenta uma necessidade técnica
maior para ser plenamente dominada e, então, apresentar alguma eficácia
durante os combates. No geral, é um conjunto muito bem-vindo para o título e
que permite que os fãs sonhem com cada vez mais colaborações cada vez mais
robustas entre as duas empresas.
Revisão: Beatriz Castro
Texto de impressões produzido com versão de teste para PC cedida pela SNK








