Fatal Frame II: Crimson Butterfly — Um dos grandes diamantes do terror japonês

O segundo título da série é um clássico que permanece assustador, comovente e inesquecível.

em 28/11/2025
Lançado originalmente para PlayStation 2 em 2003, Fatal Frame II: Crimson Butterfly é o segundo título da série de terror produzida pela Koei Tecmo (na época, apenas Tecmo), também conhecida no Japão como Zero e na Europa como Project Zero. Além de apresentar melhorias significativas na jogabilidade, o jogo trouxe uma atmosfera ainda mais sufocante e uma narrativa emocionalmente devastadora, elevando a franquia a um novo patamar e consolidando-se como um dos representantes mais sólidos do terror nipônico.

A Vila Minakami e a tragédia do Sacrifício Carmesim

A história acompanha as irmãs gêmeas Mio e Mayu Amakura, que visitam uma floresta onde costumavam brincar na infância e que, em breve, desaparecerá devido à iminente construção de uma represa. Contudo, a presença quase hipnótica de uma borboleta carmesim leva Mayu a persegui-la e adentrar cada vez mais fundo na mata, forçando Mio a acompanhá-la até que, sem perceber, ambas cruzam a fronteira para uma vila misteriosa.

Assim que chegam ao vilarejo, as jovens percebem que algo está profundamente errado, pois as casas vazias parecem conservar ecos de vidas interrompidas, e seus antigos moradores começam a se manifestar como espíritos atormentados. Ao explorar a região, elas descobrem que a vila — conhecida como Minakami — foi palco do Ritual do Sacrifício Carmesim, uma cerimônia destinada a conter uma grande calamidade e que, curiosamente, envolvia gêmeos. O estado atual do local seria consequência de uma falha nesse rito ancestral.

Como se a situação já não fosse ruim o suficiente, Mayu passa a agir de forma cada vez mais estranha — como se estivesse, de algum modo, conectada aos eventos que ali ocorreram. Nesse contexto, Mio precisa enfrentar não apenas os fantasmas que vagam pelo vilarejo, mas também impedir que sua irmã seja arrastada pela escuridão que domina o local, ao mesmo tempo em que desvenda mais detalhes sobre o passado da Vila Minakami e de seu enigmático ritual.

Seguindo os moldes de seu antecessor, Fatal Frame II oferece um cuidado excepcional ao contextualizar cada espírito presente no vilarejo. Os fantasmas possuem aparências e, por vezes, comportamentos que refletem a posição que ocupavam na vila, o papel que desempenhavam em vida ou a maneira trágica como morreram. Nesta continuação, houve um evidente salto gráfico, já que tanto os personagens vivos quanto as aparições receberam modelagens mais detalhadas, permitindo que seus rostos exibam expressões mais nítidas de sentimentos como preocupação, medo ou dor.

É importante destacar que, assim como outros jogos da série, Crimson Butterfly pode ser apreciado de forma totalmente isolada, sem exigir qualquer familiaridade prévia com a franquia. Ainda assim, o título contribui para expandir o universo ao apresentar elementos relevantes de sua mitologia. A narrativa aqui ocorre antes dos acontecimentos do primeiro Fatal Frame e inclui referências diretas aos antepassados de Miku e Mafuyu Hinasaki, protagonistas do jogo original.


Estrutura clássica, execução refinada

Fatal Frame II mantém a estrutura clássica de um survival horror 3D em terceira pessoa, apresentando uma campanha dividida em capítulos. Como não poderia ser diferente, a progressão é fortemente baseada na exploração minuciosa dos ambientes e na resolução de enigmas, muitos deles exigindo atenção a detalhes do cenário ou à leitura de documentos espalhados pelo vilarejo.

Portas trancadas por chaves específicas, passagens bloqueadas por espíritos que precisam ser fotografados e objetos que devem ser coletados e posicionados em locais ou padrões determinados são apenas alguns exemplos dos puzzles que impedem o nosso avanço. Naturalmente, essa estrutura exige revisitar áreas já exploradas para acessar novos locais ou elementos, mas esse backtracking soa ainda mais natural e orgânico do que no primeiro jogo — que, por sua vez, já executava bem esse aspecto.

Se no primeiro Fatal Frame já era interessante desvendar a história dos habitantes da Mansão Himuro, aqui o escopo cresce consideravelmente. Em vez de uma única residência amaldiçoada, o jogador tem diante de si uma vila inteira, com múltiplas famílias afetadas pela tragédia. Embora existam cutscenes que impulsionam a narrativa, a compreensão plena daquele universo é reservada a quem se dedica a explorar minuciosamente cada canto do vilarejo amaldiçoado.

Esses elementos envolvendo os espíritos, a vila e seus rituais contribuem para enriquecer a ambientação de Crimson Butterfly, que é um de seus maiores triunfos. O cenário de Minakami é sufocante por natureza, formado por espaços estreitos, mergulhado em uma noite que nunca se dissipa e acompanhado por uma trilha sonora minimalista, cujo silêncio opressor é quebrado apenas por sons ambientais, como passos distantes, portas rangendo e madeira cedendo. Assim, todos os elementos, tanto narrativos quanto geográficos, trabalham em conjunto para criar a sensação inquietante de que algo está sempre nos observando.

Outro aspecto muito positivo dessa sequência é a presença constante das gêmeas durante boa parte da campanha. Embora Mio seja a personagem efetivamente controlável, Mayu acompanha a irmã em diversas seções — sempre caminhando de forma lenta e frágil por conta do problema na perna que carrega desde a infância. Isso não só aumenta o desconforto e a tensão, já que precisamos ficar constantemente atentos a ela, como também fortalece o vínculo emocional com a dupla, tornando perceptíveis o carinho e a dependência que uma tem pela outra.

Essa construção é fundamental para que a nossa preocupação se torne genuína. Fatal Frame II parece fazer questão de nos afastar de Mayu aos poucos, seja por meio de puzzles que exigem a separação temporária das irmãs, seja quando ela caminha involuntariamente em direção à escuridão. Cada pequena distância entre as duas transmite um sentimento palpável de vulnerabilidade e, quando a influência da maldição começa a se manifestar em Mayu, o jogador já está emocionalmente envolvido o suficiente para sentir que realmente precisa protegê-la.

Essa força emocional também repercute diretamente na rejogabilidade do título, já que ele oferece múltiplos finais, o que torna natural a vontade de revisitar a aventura em busca de um desfecho que melhor reflita o destino que desejamos para Mio e Mayu. Nesse sentido, é importante destacar que alguns desses desfechos só podem ser obtidos ao concluir o jogo em dificuldades específicas. Além disso, tanto a versão lançada para Xbox quanto o remake de Wii (exclusivo do Japão) expandem ainda mais essas possibilidades, introduzindo novas conclusões.

Tensão pela proximidade

O combate em Fatal Frame II: Crimson Butterfly mantém o conceito que consagrou o primeiro jogo, no qual enfrentamos espíritos hostis utilizando a Câmera Obscura — uma câmera fotográfica capaz de exorcizar entidades ao capturar suas imagens. Ao erguer o objeto, a visão muda para a primeira pessoa e os controles se reorganizam: o analógico esquerdo passa a mover a mira da "arma" e o direito assume a movimentação do personagem.

Uma das melhorias mais notáveis está na fluidez da mira e do enquadramento, agora muito mais responsivos, permitindo que o jogador alinhe seus disparos com maior precisão, mesmo em ambientes apertados. A janela para realizar o Fatal Frame (o disparo perfeito executado no instante em que o fantasma está prestes a atacar) também se tornou mais clara e intuitiva, incentivando o domínio do timing correto para a realização de combos.

No entanto, a mudança mais evidente está na forma como o dano é aplicado. Enquanto no primeiro título era possível derrotar espíritos tirando fotos a uma distância relativamente segura, Fatal Frame II praticamente elimina essa abordagem, já que disparos feitos de longe causam pouco ou nenhum dano. Aqui, o impacto máximo só é alcançado quando o jogador se aproxima bastante da entidade — uma decisão que aumenta significativamente a tensão dos confrontos, pois é preciso se expor ao perigo para obter os melhores resultados.

Além disso, o comportamento dos fantasmas se tornou mais variado, com alguns só podendo ser atingidos em janelas muito específicas, exigindo maior atenção aos padrões de ataque e movimentação de cada aparição. Em contrapartida ao aumento da dificuldade, a quantidade de itens restaurativos espalhados pelo cenário foi consideravelmente ampliada, garantindo que o desafio seja intenso, mas não injusto.

Assim como no primeiro jogo, Crimson Butterfly também permite aprimorar a Câmera Obscura. Para isso, o jogador utiliza pontos obtidos ao derrotar espíritos e orbes espirituais encontrados durante a exploração. Esses recursos podem ser investidos tanto em melhorias passivas — como aumento do poder de ataque, alcance e velocidade de recarga — quanto em habilidades ativas, capazes de reduzir a velocidade dos espíritos, atordoá-los ou até mesmo rastrear suas posições automaticamente. Outro elemento que retorna é o uso de diferentes tipos de filme, cada um com um nível distinto de poder, sendo que os mais raros e limitados causam mais dano.

Graças a todos esses elementos, o título incentiva o jogador a gerenciar cuidadosamente seus recursos, economizando filmes e itens restaurativos para confrontos mais complexos e aplicando melhorias em uma ordem que faça sentido frente ao desafio crescente. Mesmo que os jogos subsequentes sejam mais convidativos por apresentarem sistemas de combate que reduzem um pouco a sensação de repetição, a necessidade de se aproximar ainda mais dos espíritos — e, consequentemente, se expor a riscos maiores — talvez faça com que Crimson Butterfly se encaixe de forma mais precisa na tensão que define a franquia.



Um marco do terror japonês

Fatal Frame II: Crimson Butterfly não apenas aperfeiçoa tudo o que o primeiro Fatal Frame apresentou, como permanece, até hoje, como um dos pontos mais altos do terror japonês nos videogames. Isso não se deve apenas à forma exemplar como explora seus mitos e rituais, mas também a como combina uma atmosfera opressiva com uma narrativa densa, trágica e profundamente afetiva — tudo integrado a mecânicas que funcionam e fazem perfeito sentido dentro do contexto que a obra constrói.

Com uma revitalização da obra já anunciada para março do ano que vem, resta torcer para que Fatal Frame II: Crimson Butterfly Remake consiga modernizar o excelente título original sem abrir mão de suas características mais marcantes e importantes.

Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut

Siga o Blast nas Redes Sociais
Lucas Oliveira
Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 4.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 4.0).