Slime Rancher 2, sequência de, pasme, Slime Rancher, cuja versão 1.0 saiu em 2017, entra nesse nicho confortavelmente, com um toque de fantasia: os animais são slimes, as gosmas sencientes que se veem em RPGs e afins. Depois de já ter feito seu nome como rancheira de slimes na Borda Muito Distante, a protagonista Beatrix LeBeau parte para domar as novas variedades que vivem na Ilha Arco-Íris e descobrir o grande mistério por trás do lugar.
Eita, bicho arisco!
O loop de gameplay é praticamente a mesma coisa do primeiro Slime Rancher: buscamos slimes por todas as redondezas para que possamos criá-los no rancho, alimentá-los com galinhas e plantas e fazer uma pequena fortuna vendendo seus “plorts” — isto é, excrementos — para comprar mais currais, mais terras, mais equipamentos, mais tudo. Esses recursos voltam para a criação dos slimes, que dá mais dinheiro e por aí vai.
É um processo repetitivo, que não muda muito ao longo do jogo; no máximo, conseguimos algumas atualizações que aceleram o processo, como um jetpack, para chegar a lugares mais ermos, ou uma arminha de água, que transforma a exploração em um mini-FPS e serve, em sua maioria, para neutralizar os Brreus, monstrinhos que se formam quando um slime de dois tipos tenta conseguir um terceiro (ao comer o plort do outro, veja bem).Diferentemente do primeiro título, essas coisas precisam ser criadas com materiais de “ciência slime”, em vez de compradas com Newbucks, o que alivia um pouco a onipotência do dinheiro, a despeito de este ainda ser necessário. Em geral, é mais fácil guardar sua suada grana para expansões de terreno e outros fins. Diagramas de ciência são encontrados na exploração do mundo aberto e também mandados pelo correio por NPCs.
Apesar da falta de grande variedade poder frustrar alguns, na minha experiência, o loop em si é sólido e funciona muito bem. Jogos sem objetivos claros delineados por uma listinha de tarefas estão sempre sujeitos à ameaça de deixar a audiência sem rumo, algo que Slime Rancher 2 (bem como o primeiro jogo) evita devido à extrema clareza de propósito de cada ação que tomamos. Também ajuda o fato do cenário ao redor ser lindo; a Ilha Arco-Íris é ricamente iluminada e cheia de bichos fofinhos, mais um fator que minimiza o estresse.
Outras novidades incluem um sistema de clima — por exemplo, Brreus que aparecerem durante chuvas tomam dano automático, por serem sensíveis à água, o que dá a sensação de que o mundo ao redor não depende só de Beatrix e suas ações — e novas variedades de slime, como o Morcegueta, o Pescador e o Panapanã. Além disso, podemos ajustar vários aspectos da gameplay para que o jogo seja tão difícil quanto quisermos, o que sempre é bem-vindo.
Ah, é, tem uma história também
O título desta seção pode parecer um pouco maldoso, mas é essa a sensação que a proposta de discutir o enredo de Slime Rancher 2 dá. Este faz poucas concessões a novos fãs: é esperado que todos que se interessaram por um game com “2” no final do nome já conheçam e amem Beatrix LeBeau e seus companheiros, como o doce Viktor, a arrogante Mochi e o misterioso Bob.Não há problema nenhum com isso, que fique claro. O verdadeiro imbróglio por aqui é o fato de que a rala história do jogo só… progride sozinha. Quando elogio o sistema de clima por dar a impressão de que o mundo ao redor é vivaz e não precisa, estritamente, da protagonista, não quero dizer que a mesma coisa deveria se aplicar à narrativa. Beatrix é uma mera testemunha das descobertas que outras pessoas fazem sobre a Ilha Arco-Íris; nenhuma parte de seu trabalho como rancheira impacta estas.
A exceção é o final do jogo, durante o qual devemos adentrar uma certa masmorra para descobrir a verdade sobre as migalhas de pano de fundo que coletamos pelo caminho. Apenas um detalhe: devido à abordagem mais liberal do Monomi Park, pode ser que o jogo decida que você já pode ir a essa área secreta sem que você sequer saiba onde ela fica. Talvez valesse “pegar na mãozinha” do jogador um pouquinho que fosse.
Um último ponto: apesar da localização para o português do Brasil ser geralmente boa (por exemplo, uma conquista se chama “Minha Casa, Minha Bia”, o serviço de compras online é VendinhaExpress e os slimes Panapanã têm nome de origem tupi), faltou um trabalho melhor de revisão. Algumas piadas foram traduzidas ao pé da letra e beiram o nonsense (“água você vai fazer com isso?”, de “water you going to do with that?”, não tem qualquer alicerce na realidade), além de abundarem pequenos erros, como “oléo” em vez de “óleo” no nome de um certo item. Distraiu bastante.Pelo que é, tá bom
Slime Rancher 2 não é nenhuma grande revolução — e também não se presta a tanto. O game cumpre bem com a proposta que faz em termos de jogabilidade, porém não seria ruim se ousasse sonhar um pouco mais. É uma boa brincadeira que poderia ter feito um esforço maior para se tornar ótima.Prós
- Gameplay bem construída, que evita certas armadilhas do gênero de fazenda;
- Certas mudanças à fórmula fazem a nova área parecer mais viva;
- Bela direção de arte e gráficos.
Contras
- História esparsa e pouquíssimo envolvida;
- Localização para o português brasileiro tem certas falhas.
Slime Rancher 2 — PC/PS5/XSX — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Thomaz Farias
Análise produzida com cópia digital cedida pelo Monomi Park









