Se você não esteve morando em uma caverna, longe da civilização e sem qualquer contato com notícias sobre videogames, é bem provável que o nome Vampire Survivors não lhe seja estranho. O título do estúdio britânico Poncle ganhou enorme destaque ao ser lançado em 2022 e, após seu sucesso inesperado e arrebatador, muitos desenvolvedores passaram a apostar no gênero, então chamado informalmente de bullet heaven, criando suas próprias experiências.
Entre os inúmeros jogos desse estilo — alguns excelentes, outros criativos e engenhosos e alguns com estrutura bem mediana — surge, diretamente das nossas ávidas terras tupiniquins, Shard Squad: um título que pode ser descrito, por que não, como um “Vampire Survivors de bichinhos”. A seguir, entendemos melhor o porquê.
É um “Bichinhos Survivors”, talvez…
Shard Squad nos leva a um mundo mágico, ameaçado por um evento cataclísmico chamado Desalme. Por causa dele, um valente grupo de criaturas mágicas, conhecidas como Shards, precisa reunir forças para enfrentar o mal que domina a terra, resgatar seus companheiros e tentar superar a ameaça.
A dinâmica de Shard Squad segue, essencialmente, o padrão de outros jogos do gênero. No controle de uma das criaturas, o jogador enfrenta hordas intermináveis de inimigos, por um período de tempo, até chegar ao chefe da região e, ao derrotá-lo, vence a partida.
Ao eliminar adversários e coletar pontos, o Shard sobe de nível e pode escolher melhorias aleatórias para ficar mais forte e resistir por mais tempo às investidas inimigas. Em intervalos específicos, inimigos mais poderosos — os chefes da fase — aparecem para duelos. Quando derrotados, liberam ao jogador a chance de escolher um novo membro para o esquadrão, funcionando como novas armas em jogos similares.
O diferencial de Shard Squad está nas dinâmicas de gameplay ligadas à mitologia das criaturas. Cada Shard possui uma afinidade elemental que define seu poder mágico — fogo, água, eletricidade, natureza ou cristal. Além disso, cada um traz atributos que, quando combinados, ativam habilidades especiais, como adicionar um novo tipo de ataque, invocar um Shard de suporte ou conceder bônus ao jogador, como aumento de vida, defesa ou dano crítico.
Essa combinação entre criaturas torna o gameplay dinâmico e, muitas vezes, imprevisível. Alguns Shards possuem ótimos atributos passivos, mas ataques menos eficientes; outros limpam a tela com facilidade, mas oferecem poucas melhorias ao grupo.
Saber qual Shard escolher — e quando — adiciona uma camada estratégica interessante. Isso também aparece no modo cooperativo local, no qual dois jogadores controlam seus próprios Shards e montam suas builds para formar um esquadrão mais poderoso.
À medida que avançamos na campanha principal, novos Shards são liberados tanto para iniciar uma partida quanto para aparecer durante as investidas. Há também uma grande variedade de relíquias — itens que aprimoram algum aspecto do grupo — para desbloquear, além de melhorias permanentes que podem ser habilitadas usando o dinheiro do jogo.
Não se deixe enganar pelo rostinho bonito
A carinha bonitinha — e é mesmo, convenhamos — de Shard Squad esconde um jogo desafiador, como o gênero costuma ser. Enquanto a primeira fase é facilmente administrável, permitindo que qualquer jogador aprenda suas dinâmicas fundamentais sem grandes dificuldades, da segunda em diante é preciso ficar atento, pois as coisas podem sair do controle com facilidade.
Isso pode ocorrer por causa do Shard escolhido — que talvez não tenha um ataque eficiente no início da partida —, pela falta de melhorias permanentes adequadas ou, simplesmente, porque os inimigos já se apresentam mais fortes desde os primeiros minutos, ou mesmo pela falta de sorte, caso os atributos que você queira melhorar primeiro não apareçam na hora. Mesmo com ajustes de dificuldade, que também influenciam a quantidade de recompensas, é recomendável ter cuidado com o que aguarda o jogador ao longo da aventura.
Nas minhas primeiras tentativas, mesmo tendo boa experiência no gênero, percebi que a curva de dificuldade sobe rapidamente. Isso é positivo para quem busca um desafio — que é a proposta central desse tipo de jogo —, mas pode ser negativo para jogadores menos engajados ou experientes. Felizmente, para atender a esse segundo grupo, é possível ajustar a dificuldade antes de iniciar uma partida, em troca de receber menos recompensas na sessão.
No geral, mesmo sendo mais um representante do estilo popularizado por Vampire Survivors, Shard Squad cativa com sua apresentação competente, sua lore original e bem contada, e o carisma de seus personagens. Desbloquear todos os Shards é mais interessante do que adquirir novas armas ou habilidades, o que reforça a conexão do jogador com o jogo.
Pra jogar sozinho ou juntinho
Shard Squad se destaca como uma experiência envolvente dentro do gênero bullet heaven, especialmente por apresentar um mundo carismático, sistemas bem amarrados e uma proposta que incentiva combinações interessantes entre criaturas e elementos. Embora siga a linha de outros jogos populares do estilo, ele encontra sua própria identidade na forma como constrói seu elenco de Shards, na progressão acessível e na liberdade para experimentar diferentes builds.
A dificuldade pode surpreender em certos momentos, mas os ajustes disponíveis tornam o jogo mais convidativo para quem ainda não domina o gênero. No final, Shard Squad entrega uma aventura divertida, com personalidade e com potencial para manter jogadores dedicados por muitas horas, em busca do esquadrão ideal.
Prós
- Apresentação carismática, com personagens visualmente marcantes;
- Sistema de afinidades e combinações, que torna o gameplay variado e estratégico;
- Boa quantidade de conteúdo para desbloquear, incluindo Shards, relíquias e melhorias permanentes;
- Modo cooperativo local, que aumenta o fator diversão.
Contras
- Curva de dificuldade inicial pode ser alta para jogadores iniciantes;
- Dependência de sorte nas melhorias pode gerar partidas desbalanceadas;
- Alguns Shards possuem habilidades pouco impactantes, reduzindo a variedade prática de escolhas.
Shard Squad — PC — Nota: 8.0
Revisão: Mariana Marçal
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nuntius Games











