Assim como Tetris, Pong e Pac-Man, o jogo de pinball é reconhecido por todas as idades e precede os videogames eletrônicos. Sua simplicidade mecânica permite inúmeras variações, tanto em máquinas físicas quanto digitais, sempre oferecendo uma diversão rápida e fácil de aprender, embora difícil de dominar.
XENOTILT, no entanto, eleva essa fórmula a outro nível. Em vez de tentar simular uma mesa física do clássico, o título usa suas características como base para criar uma experiência hipnótica e explosiva que mistura pinball e bullet hell em um espetáculo de luzes e caos, que supera seu predecessor, DEMON'S TILT, em todos os quesitos.
A mesa do futuro
A grande estrela de XENOTILT é a mesa na qual toda a ação acontece. Composta por três andares, ela funciona como um campo de batalha caótico, estratégico e imprevisível. A luta constante é permanecer nos níveis superiores, evitando o perigo de deixar a bola cair para os andares inferiores e colocar tudo a perder.
Cada andar possui chefes próprios que são substituídos após serem derrotados, além de missões específicas que aumentam a pontuação conforme a dificuldade cresce. Algo está acontecendo a todo momento, e o jogador tem poder para intervir diretamente, seja eliminando inimigos com a bola ou utilizando as torres de tiro. Sim, o jogo permite atirar ao segurar a bola com um dos flippers.
Há tanto acontecendo na tela (lasers, explosões, efeitos) que, em certos momentos, é difícil enxergar o que está sob seu controle. Contudo, ao se familiarizar com o caos o jogador começa a entrar na mesma voltagem do jogo, fazendo a identificação de cenários e o que deve ser feito de forma rápida.
Modos de jogo
XENOTILT oferece quatro modos distintos:
- Normal: a experiência base, ideal para iniciantes, com regras tradicionais e ritmo mais controlado;
- Emergencial: uma corrida contra o tempo, na qual o objetivo é sobreviver por 20 minutos em meio ao caos crescente;
- Hardcore: apenas uma bola, flippers encurtados e buracos mais amplos — um teste real de reflexo e paciência;
- Modo EX: a forma definitiva de jogar XENOTILT.
O modo EX é o coração do jogo. Nele, o jogador tem três bolas para completar missões e resgatar “sobreviventes” que desbloqueiam habilidades únicas – como a de Y. Cibelle, que reduz o declínio do multiplicador de combo. Além disso, o modo traz mesas bônus, que são liberadas ao cumprir certos objetivos. Cada uma introduz variações divertidas, como a simulação de uma partida de sinuca que é um dos momentos mais criativos da experiência.
A variedade entre os modos, com exceção do desafio extremo do Hardcore, não oferece motivos para o jogador abandonar o Modo EX, que se estabelece rapidamente como a experiência definitiva mais rica.
Regras antigas, ideias novas
Os controles mantêm a simplicidade clássica, utilizando dois botões para os flippers e o objetivo de sempre: não deixar a bola cair. No entanto, o jogo adiciona sutilezas que aprofundam consideravelmente sua jogabilidade.
Com o analógico, o jogador pode aplicar leves empurrões na bola, simulando o movimento físico de uma mesa real, porém o uso deles é limitado já que abusar pode fazer a bola cair da mesa, encerrando a rodada. A mecânica adiciona estratégia, mas parece um recurso mais teórico do que prático, com usos em lugares muito específicos que podem realmente fazer a diferença.
O sistema de gancho de armazenamento, que permite guardar até nove bolas e ativar habilidades, é interessante mas pouco explicado. A mecânica de completar palavras para ativar missões sofre do mesmo problema. É necessário entender cada andar por tentativa e erro. A curva de aprendizado é, apesar disso, recompensadora quando se domina o ritmo da mesa.
O uso de armas enquanto a bola está presa em um dos flippers também é um diferencial marcante. Elas ajudam a eliminar inimigos rapidamente e limpar obstáculos do cenário, o que facilita a locomoção até os lugares desejados.
Por fim, o jogo conta com momentos nos quais múltiplas bolas entram em cena, o que cria instantes caóticos e divertidos. No entanto, esses eventos são raros e as condições para que ocorram permanecem pouco claras, limitando seu impacto como recurso estratégico.
Pinball nunca foi tão bonito... e caótico
O aspecto técnico de XENOTILT merece destaque absoluto. Sua estética mistura o brilho metálico das mesas clássicas com uma atmosfera de ficção científica e horror biotecnológico. A iluminação pulsante, os efeitos de partículas e a fluidez das animações transformam cada partida em um show de cores e movimentos, sem comprometer o desempenho.
A trilha sonora complementa perfeitamente a experiência. Ela impulsiona o ritmo frenético de cada rodada, sincronizando-se com o caos do campo de batalha. O design de som, por sua vez, reforça a sensação de impacto. Cada ricochete e explosão é acompanhado de efeitos sonoros que mantêm o jogador imerso e energizado.
Visual, som e performance se unem para criar uma experiência audiovisual intensa, digna dos melhores arcades modernos. XENOTILT é uma celebração da estética do pinball, só que elevada ao limite.
Novas e velhas frustrações e emoções
O pinball carrega frustrações inerentes ao gênero – como aquela bola que escapa pelo vão sem que o jogador possa fazer nada –, e XENOTILT mantém essa tradição. Em alguns momentos a sensação de impotência é inevitável, mas o design de três andares ameniza parte dessa frustração, ao mesmo tempo em que amplifica a tensão no nível inferior, onde cada erro pode, de fato, significar o fim da partida.
As batalhas para manter a bola nas áreas superiores são intensas, e quando o jogador finalmente consegue subi-las o alívio é imediato, mas passageiro. Logo surgem novas missões, chefes e desafios, mantendo o ritmo constante e recompensador. Cada tentativa é uma história própria, e a curva de aprendizado é perceptível: o domínio da mesa e de suas mecânicas cresce a cada rodada, tornando cada recorde mais satisfatório que o anterior.
No entanto, a progressão de longo prazo do jogo esbarra em um obstáculo de clareza: o códex que registra o progresso do jogador. A ideia de ter objetivos adicionais à pontuação é ótima, mas a execução carece de intuitividade. Muitos objetivos são completados sem que o jogador entenda exatamente como. Por exemplo, o desafio “Derrote Hera, a IA pirata” não traz indicação visual de quem é a chefe ou onde ela aparece. Em meio ao caos da partida, é fácil perder o contexto do que foi feito e o peso dessa conquista.
O códex é o ponto que mais necessita de atenção no design de interface. Uma solução simples seria o sistema exibir notificações imediatas logo após o término das partidas ou apresentar imagens ilustrativas dos desafios. Isso tornaria o sistema mais intuitivo e daria o peso merecido a cada objetivo conquistado. Um códex e tutorização mais competentes evitariam que as mecânicas que tornam o titulo diferente não se percam para novos jogadores.
Pelo menos o leaderboard funciona perfeitamente, atualizando-se imediatamente após cada rodada e mostrando claramente a evolução do jogador. Esse é um incentivo constante para continuar jogando "só mais uma vez".
A última rodada
A diferença entre as primeiras partidas e as sessões após algumas horas é notável: o domínio das mesas, dos andares e das mecânicas se torna palpável a cada novo recorde. É um jogo que recompensa o aprendizado e a persistência, sempre oferecendo algo novo a ser descoberto em meio ao caos controlado de luzes, sons e destruição.
Apesar da ausência de um códex mais detalhado e de modos extras mais aprofundados, XENOTILT é uma experiência essencial para os fãs de pinball e uma surpresa vibrante para aqueles que buscam ação rápida e viciante. O jogo incorpora perfeitamente a sensação de "só mais uma rodada", mantendo os jogadores imersos no ciclo gratificante de desafio e no satisfatório sentimento de aprimoramento.
Prós
- Trilha sonora e visuais de alto nível;
- Curva de aprendizado recompensadora;
- Mesa oferece um ‘campo de batalha’ inovador e cheio de possibilidades;
- Experiência viciante.
Contra
- Códex carece de informações;
- Falta de clareza nas mecânicas;
- 2 dos 4 modos não agregam significativamente à experiência.
XENOTILT - PS5/SWITCH/PC - Nota: 8.0Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise feita com cópia digital cedida pela Flarb LLC














