Tormented Souls nasceu da vontade de homenagear os clássicos do survival horror do passado, uma empreitada indie vinda do Chile que capturou a atenção dos fãs nostálgicos por câmeras fixas e salas de salvamento. A ambição era clara e o pequeno time de desenvolvimento conseguiu, apesar das limitações, criar uma jornada que valia a pena ser vivida, além de apresentar uma protagonista com o carisma e o visual necessários para marcar presença no gênero.
Agora, quatro anos depois, a sequência chega para tentar posicionar a série não mais como uma homenagem, mas como uma experiência que se sustente sozinha, e os esforços sombrios de Tormented Souls 2 valem a pena, apesar de alguns tropeços técnicos.
Almas Torturadas
Tormented Souls 2 é uma sequência direta dos eventos do primeiro jogo. Encontramos Caroline Walker e sua irmã Anna em busca de paz e reconciliação após os horrores vividos anteriormente. Ao chegarem à Villa Hess, cidade onde esperam encontrar ajuda, Caroline se vê separada da irmã e presa em um novo pesadelo.
A premissa é simples e já foi utilizada em outros clássicos. Acordar em uma cidade desconhecida em busca de uma pessoa amada, enfrentando criaturas demoníacas e desvendando a verdade por meio de arquivos e pistas. A história se apoia nas mesmas características do antecessor, sem muitas inovações temáticas, mas mantém um bom equilíbrio entre mistério e tensão. As viagens temporais e para realidades paralelas retornam, entrelaçadas com a narrativa de forma satisfatória.
Mesmo que algumas surpresas soem familiares demais com o primeiro jogo, o enredo mantém o jogador engajado, estimulando a exploração e recompensando a atenção aos detalhes. Caroline, agora com um visual marcante e definitivo (utilizando um tapa-olho), ganha novas oportunidades de demonstrar sua personalidade e firmeza diante do transtorno.
No controle de Caroline
A sequência continua profundamente enraizada nas influências de Resident Evil e Silent Hill, tanto na narrativa quanto nas mecânicas, mas oferece algumas mudanças. A principal melhoria é o abandono do controle em estilo “tank” em favor de uma movimentação mais natural, embora o modo clássico ainda esteja disponível para os puristas.
Essa mudança torna o jogo mais ágil e acessível, especialmente para novos jogadores. A velocidade padrão agora equivale à de corrida, deixando o ritmo geral mais fluido. Ainda assim, há momentos em que a movimentação entra em conflito com a câmera e a transição entre ângulos em espaços apertados pode causar alguma frustração.
As câmeras fixas continuam sendo um dos grandes charmes da série. Elas não apenas preservam o apelo nostálgico, mas também são usadas de forma inteligente para criar enquadramentos cinematográficos e sensação de vulnerabilidade. Tormented Souls 2 entende o poder artístico desse recurso é, quando o quebra de forma pontual, surpreende com criatividade, algo que poderia ter sido explorado ainda mais.
O combate é direto, mas funcional. Os atalhos de armas ajudam a manter o ritmo e as batalhas contra chefes, embora simples, exigem estratégia e não se tornam esponjas de dano ou com excesso de pontos pulsantes de vulnerabilidade.
Os puzzles, outro pilar do gênero, oscilam em qualidade. Alguns utilizam bem as mecânicas de viagem temporal e alternância de realidades, enquanto outros parecem arbitrários e confusos. Em certos momentos, as pistas dos arquivos não são claras e a progressão acaba dependendo mais da tentativa e erro do que da lógica.
Sobrevivência clássica
O jogo oferece três níveis de dificuldade. O modo fácil adiciona salvamento automático, ausente nos modos Normal e Tormented (este último desbloqueado após a primeira conclusão). Além de dois finais distintos.
O sistema de salvamento manual com fitas retorna, e há sempre duas disponíveis por sala de save, um bom equilíbrio entre tensão e acessibilidade. Os itens, visíveis no cenário, exigem exploração minuciosa; é fácil passar por algo despercebido, mas o jogo compensa com generosidade em recursos e munição.
Atmosfera tortuosa (no bom sentido)
A ambientação funciona como um cenário opressor e interconectado, evocando a sensação de exploração constante e a vulnerabilidade típica dos grandes survival horrors.
A narrativa serve como desculpa eficaz para colocar o jogador em ambientes variados. A cada porta aberta, há o medo do desconhecido e essa sensação de “estar presente” nos momentos de horror é o que diferencia os jogos das experiências passivas do cinema, e Tormented Souls 2 entende bem essa dinâmica.
Ainda assim, o design visual e o uso da escuridão como mecânica (agora uma marca da série) mantêm a tensão constante e dão ao jogo uma identidade própria dentro da familiaridade. Nos capítulos finais, o cenário reinterpreta um ambiente tradicional do gênero sob uma nova estética, oferecendo um bom fechamento à jornada.
No geral, Villa Hess é coesa, mas contida, caminha por trilhas já muito exploradas antes de se permitir inovar.
A um passo…
Tormented Souls 2 entrega o refinamento que o primeiro precisava, definindo um novo padrão de qualidade para seus criadores. A sequência é mais bonita, fluida e acessível, e corrige a maioria dos problemas de jogabilidade do antecessor. A narrativa é sólida, embora familiar; Villa Hess funciona como cenário, mas raramente surpreende.
Mesmo com esses tropeços, o título representa um passo firme e essencial para a franquia, tornando Tormented Souls 2 uma experiência essencial para os fãs do gênero, resgatando com sucesso a essência do survival horror dos anos 90 e 2000.
Prós
- Evolução técnica; experiência mais fluida e mais acessível que o antecessor;
- Câmeras fixas criam enquadramentos cinematográficos;
- Mantém a essência clássica do survival horror;
- Protagonista Caroline Walker com visual marcante e personalidade firme.
Contras
- Puzzles inconsistentes;
- Familiaridade temática e de cenários;
- Conflitos técnicos na transição de câmera e precisão do atalho de itens;
- Perde parte do impacto ao seguir surpresas muito próximas do original.
Tormented Souls 2 - PS5/XSX/PC - Nota: 7.5Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Beatriz Castro
Análise feita com cópia digital cedida pela PQube











