Uma jornada olímpica
Em Digimon Story Time Stranger, assumimos o papel de um agente da ADAMAS, uma organização que investiga eventos estranhos de origem desconhecida. Durante a história, nossas explorações por Shinjuku, em Tóquio, nos levam a encontrar criaturas chamadas digimon e a conseguir nosso próprio parceiro para enfrentá-las.Após os eventos iniciais da história, nosso personagem viaja para oito anos atrás e começa uma jornada acompanhando Inori e Aegiomon em meio a uma série de eventos catastróficos. Conforme a história avança, conhecemos o mundo digital em que as criaturas habitam e descobrimos mais sobre um grande conflito que pode levar a uma calamidade não apenas para os digimon, mas para o mundo dos humanos também.
Sem entrar em grandes spoilers, a trama é um dos pontos fortes da experiência. Conforme a história avança, várias reviravoltas mudam completamente a nossa percepção do que está acontecendo de verdade. A obra explora sob vários ângulos as conexões entre humanos e digimon, a coexistência entre eles e ainda aproveita a oportunidade para apresentar os XII Olímpicos (Olympos XII) e alguns detalhes da estrutura do universo mais amplo da franquia.Nesse sentido, é muito bom o fato de que o jogo conta com tradução para o português do Brasil, sendo fácil aproveitar a trama como um todo usando essa opção de língua. No entanto, vale destacar que o texto traduzido conta com várias inconsistências e erros, além de apresentar alguns momentos em que o texto ultrapassa o limite da tela e dificulta a leitura. Em comparação com o lançamento original de Cyber Sleuth em inglês, ainda diria que a qualidade está muito superior, mas é uma barra baixa e fica a expectativa de que atualizações corrijam os problemas.
Formando um grupo de aliados
Em termos de gameplay, Time Stranger segue a lógica tradicional da linha Digimon Story, que é focada em RPGs de turno. Conforme batalhamos contra os digimon, conseguimos dados que podem ser convertidos em novos aliados após atingirmos pelo menos 100% de taxa de análise. Assim, podemos ter uma equipe bem ampla e o jogo conta com mais de 450 opções ao todo.Um ponto importante da série é a capacidade de explorar múltiplas linhas de evolução, sendo possível escolher de que forma avançar caso o aliado cumpra os pré-requisitos. Além de digivolver, é possível de-digivolver, voltando a uma das formas anteriores daquele indivíduo, tendo assim outra chance para alcançar uma linha diferente. Assim como em Cyber Sleuth, as linhas são bem emaranhadas, permitindo, por exemplo, começar em um Agumon e alcançar uma LadyDevimon explorando bem as ramificações.
Um ponto interessante do jogo é que todos os aliados, mesmo os que não estão sendo usados ativamente, recebem experiência, tornando o processo de viabilizar novos companheiros mais confortável. Além disso, temos a tradicional Digifazenda, que pode ser usada para treinar os monstrinhos digitais e fazer com que eles estejam aptos a evoluir, seja ganhando parâmetros (como ataque e velocidade) ou alterando sua personalidade (com 16 quadrantes que afetam também o ganho de atributos e a habilidade passiva).É muito fácil usar o sistema da fazenda para alcançar as transformações necessárias e repetir o treinamento após a conclusão. Porém, há algumas inconveniências quanto à impossibilidade de ver as digivoluções possíveis no menu. Ter que fechar a fazenda e voltar para o menu para conferir os detalhes e depois gravar na cabeça (ou anotar em algum lugar) para poder ter eficiência no processo é um dos poucos elementos enfadonhos do jogo. Isso também afeta a retirada dos aliados, já que é possível retirá-los da fazenda antes do necessário e depois ter que recolocá-los para treinar mais.
Além das digivoluções e do treinamento, também podemos usar equipamentos para alterar parâmetros dos nossos aliados. Uma das novidades é a possibilidade de equipar também habilidades secundárias, podendo assim ampliar o leque de opções dos membros da equipe para cobrir múltiplas fraquezas elementais, adicionar regeneração, executar buff/debuff, etc. De forma geral, temos muita riqueza de opções.
Batalhas com quesitos estratégicos
Em termos de combate, temos três personagens ao nosso dispor e outros três na reserva que podem ser trocados a qualquer momento. Podemos contar também com até três aliados adicionais em algumas ocasiões, mas, exceto pelo Aegiomon, em geral não é possível controlar as ações desses membros convidados.Antes de começar, podemos atingir um oponente com um ataque preemptivo enquanto ainda estamos no mapa, sendo ele um golpe escolhido entre os disponíveis na equipe. Uma vez dentro da batalha, é necessário escolher entre várias opções de ação que incluem ataque básico, os golpes que consomem “Pontos de Habilidade” ou a defesa. No turno, também é possível fazer uso irrestrito das trocas e da análise dos atributos do inimigo, além de ativar um único item e, ainda assim, executar um ataque ou golpe depois.
Para poder encarar os inimigos com mais tranquilidade, é importante explorar as fraquezas deles nos quesitos categoria e elemento. Em geral, a maior parte dos digimon é categorizada em vacina, dados ou vírus e há um triângulo de forças entre eles que afeta o multiplicador dos golpes, dobrando ou reduzindo pela metade os efeitos dos ataques. Com o elemento e alguns golpes que possuem vantagens adicionais contra categorias específicas, é possível causar dano massivo com uma boa escolha de aliados ou enfrentar dificuldades com uma equipe pouco adequada.No combate, também temos as Artes X, que são habilidades especiais que podemos ativar após acumular pontos com os ataques, tendo uma tendência mais ágil de recuperação se for feita uma boa manipulação das fraquezas inimigas. Elas permitem a ativação de poderes como buffs e debuffs ou até a realização de um ataque poderoso contra os inimigos, sendo necessário escolher antecipadamente qual equipar após desbloqueá-las.
Além dos combates contra criaturas comuns, temos também os chefões que, além de serem mais fortes e terem pontos de vida maiores, podem carregar ataques especiais. Quando eles tentam ativar esses golpes, o jogador pode tentar impedi-los atacando partes específicas, o que também os deixa vulneráveis até o seu próximo turno. Do contrário, vale a pena usar a defesa para se proteger, pois os golpes são realmente bastante poderosos.De forma geral, além dos combates apresentarem uma boa variedade de opções, a experiência de batalhas em turno é bastante confortável. Temos a opção de acelerar as batalhas em até cinco vezes e usar ataques automáticos. Além disso, dependendo das nossas condições, os ataques preemptivos podem até eliminar totalmente alguns inimigos, dando ao jogador as recompensas sem precisar se preocupar com o aspecto estratégico. Vale destacar que há três modos de dificuldade inicialmente e, no Novo Jogo+, liberam-se outros dois com adversários ainda mais poderosos.
Um digimundo vibrante
Um dos principais pontos em que o jogo se diferencia de seu antecessor é o fato de que agora podemos visitar o digimundo e isso traz à tona uma boa variedade de áreas. A direção de arte reforça a noção de um mundo vivo, vibrante e cheio de detalhes para explorar.Cada ambiente possui uma temática específica, como, por exemplo, a floresta, o mar com sua área submarina, e uma fábrica. As áreas ainda são majoritariamente compostas por corredores, mas são bastante convidativas à exploração e é interessante ver as condições de alguns ambientes devido aos conflitos.
Para explorar as localidades, é possível usar digimontarias e, embora nem todos os aliados sejam válidos para esse recurso, há uma boa variedade de opções. Em alguns pontos, pode ser necessário contar com a ajuda de digimon específicos daquele cenário, como Palmon ou Submarimon, para avançar por pontos do mapa inacessíveis.
Avançando pela história, também é possível desbloquear várias missões secundárias. Nelas, o jogador tem a chance de conhecer um pouco melhor os personagens e ganhar recompensas, em especial os pontos de anomalia, necessários para desbloquear habilidades de agente e alcançar uma patente mais avançada.
Enquanto em Cyber Sleuth tínhamos a memória como limitação para a equipe, Time Stranger usa o sistema de patente como uma forma de impedir que o jogador alcance uma força extraordinária muito rapidamente. Só é possível alcançar evoluções de níveis superiores, como Campeão, Supremo, Extremo e Híbrido, se o jogador já tiver uma patente específica, fazendo assim com que o progresso na história e a realização de missões opcionais se tornem uma parte essencial da experiência.
Em termos de habilidades de agente, temos uma categoria mais ampla (Elo da Lealdade) e quatro outras opções ligadas a cada um dos eixos de personalidade que os digimon podem ter. Com isso, os ganhos de atributos e as vantagens em treinamento e batalha são aplicados apenas aos monstrinhos que pertencem ao mesmo eixo escolhido pelo jogador. É possível focar em apenas uma categoria ou tentar distribuir os ganhos para todos de forma mais equilibrada.O jogo também conta com um minigame em que são usadas cartinhas em disputas contra NPCs, sendo possível conquistar mais opções. As cartas utilizadas são aleatórias, fazendo com que, quanto mais opções o jogador possui, mais difícil seja ter um planejamento estratégico em relação a elas, deixando a questão do seu uso mais para a sorte. Por fim, em termos de áudio, é possível jogar com as vozes em japonês ou inglês e ambas as dublagens são de boa qualidade.
Uma epopeia digimon
Digimon Story Time Stranger é uma jornada de épicas proporções dentro do universo da franquia. Além de ser uma indicação fácil para os fãs de Digimon, especialmente tendo em vista a sua história, temos também um RPG muito bom e que vale a pena explorar ao máximo.
Prós
- História impressionante e envolvente que explora em detalhe elementos de lore da franquia;
- Boa maleabilidade na criação de equipes graças aos sistemas de digivolução, treinamento e equipamento de habilidades;
- Combate em turnos simples e confortável, mas com bons recursos estratégicos para explorar;
- Ambientes vivos e detalhados para explorar;
- Missões opcionais ganham valor adicional por auxiliarem no desbloqueio das patentes de agente.
Contras
- A tradução para o português conta com vários erros, inconsistências e até problemas de legibilidade em alguns momentos;
- A ausência de informações sobre as digivoluções na Digifazenda deixa o processo de selecionar os treinamentos desnecessariamente complicado.
Digimon Story Time Stranger — PC/PS5/XSX — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco
















