Poucos jogos chegam ao mercado com tanta responsabilidade quanto Battlefield 6. Depois do lançamento conturbado de 2042, a EA precisou reunir forças dentro de seu próprio ecossistema para recolocar a franquia no patamar que merece. Reunindo diferentes estúdios sob a liderança da DICE, o objetivo foi criar uma experiência de nova geração à altura de seu legado.
E agora, funciona?
Depois do desastroso lançamento de Battlefield 2042, a principal exigência dos fãs era de que o novo jogo, acima de tudo, funcionasse. E, dessa vez, o esforço conjunto se mostra logo nos primeiros minutos, nos quais fica evidente que este é um produto sólido, em que o jogador vai poder passar horas sem se preocupar com o aspecto técnico.A Frostbite mais uma vez se destaca como uma das engines mais impressionantes da indústria quando bem utilizada. Visualmente e sonoramente, oferece um retrato do que se espera de um verdadeiro título triple A, demonstrando fluidez impecável, caos controlado e cenários vivos, onde sempre há algo acontecendo, seja nos céus ou nas construções desabando ao redor.
Agora, com uma base sólida, o estúdio pode focar em expandir o conteúdo, em vez de gastar meses consertando algo que já deveria ter vindo pronto.
O retorno da campanha
Battlefield 6 marca o retorno da narrativa em escala global e moderna, porém os tempos mudaram. Se antes a guerra era um tema explorado livremente nos jogos, hoje ela é parte constante dos noticiários, o que limita a liberdade narrativa de obras do gênero, mais diretamente no modo como países e bandeiras podem ser retratados. Em um mercado globalizado, o conflito aqui é propositalmente maneirado.O inimigo é a PAX Armata, uma corporação bélica que busca expandir seu poder global, enquanto a equipe Dagger 13 tenta impedi-la e descobrir a origem de sua força. É uma premissa genérica, mas eficiente para criar contexto e conectar a história aos mapas do multiplayer.
Os personagens são o acerto da campanha. Todos têm visual e presença distintos, e embora não exibam profundidade fora de seus papéis militares, são convincentes dentro do conflito e levam a trama a sério.
Guerra... total?
Acompanhamos o esquadrão durante nove missões espalhadas pelo mundo. Apesar da ambientação sugerir um conflito indômito, a jogabilidade não sustenta essa sensação. Os inimigos se comportam mais como bots de multiplayer do que como soldados com propósito ou estratégia, tornando o confronto contra a PAX Armata excessivamente fácil, mesmo na dificuldade Hardcore, em que não há sobrevidas.
Por outro lado, seus companheiros de esquadrão de fato ajudam, seguindo ordens de forma eficaz, algo raro no gênero, em que o jogador geralmente tem que fazer todo o trabalho. Ainda assim, em nenhum momento o jogo cria situações em que o trabalho em equipe seja indispensável. Faltou coragem para impor desafios que testem o jogador de fato.
A lógica de design também é irregular. Há alguma variedade de arquétipos nas missões, no entanto, poucas alcançam a escala esperada da série. Isso fica evidente na missão com o tanque de guerra, que é extremamente curta, simples e sem impacto. O verdadeiro senso de guerra total só aparece na missão final, quando todos os elementos — visuais, sonoros, narrativos e de escala — se alinham para entregar um confronto digno da franquia. É estranho que esse nível de excelência só surja no encerramento.
Mesmo esse clímax vem com ressalvas. Ao soltar o controle e assistir à última cutscene, o jogador se depara com um desfecho que passa uma sensação de incompletude, enfraquecendo o ápice conquistado minutos antes. Ainda assim, algumas revelações conseguem gerar curiosidade sobre o futuro.
Agora sim, guerra total
O modo online é onde o título entrega exatamente o que se espera da franquia, com batalhas intensas pela conquista de objetivos, acompanhadas de modos extras voltados para quem busca uma experiência mais direta, apenas para eliminar inimigos sem pensar muito.
O sistema de classes retorna fiel às origens, agora com mais liberdade para o jogador. Desta vez é possível equipar armas fora da classe escolhida, embora também haja a opção de manter a configuração tradicional, com equipamentos restritos. Houve certo receio de que essa liberdade descaracterizasse o sistema, porém, na prática, o impacto não é grande. Em meio ao caos das partidas e à disputa constante pelos pontos de controle, não existe tempo para se preocupar se você foi abatido por um suporte com uma sniper.
A descaracterização, entretanto, aparece de outro modo, sendo difícil identificar de imediato a classe de cada aliado ou inimigo apenas pelo visual. Essa clareza era um dos pontos altos em Battlefield 1, no qual cada classe tinha traços estéticos únicos que ajudavam na leitura do campo de batalha.
O jogo chega com oito mapas originais, além do retorno de um clássico de Battlefield 3. Apenas dois deles são de escala verdadeiramente gigante, enquanto os outros variam entre médio e médio-grande. Um deles é a volta de Operação Fogo Cruzado, e o outro, Vale de Mirak, que se torna um dos destaques, oferecendo um campo vasto, dinâmico e desafiador, que exige cooperação real entre os esquadrões.
Cada mapa tem seu próprio ritmo, adaptando-se bem aos diferentes modos de jogo. O resultado é uma cadência de combate divertida, mais frenética do que capítulos anteriores, que mantém o frescor mesmo após dezenas de horas. Apesar do número reduzido de mapas imensos, o saldo geral é positivo.
Embora as guerras históricas ofereçam maior diversidade de cenários, o arsenal é o que faz o retorno à guerra moderna tão esperada. Dominar uma arma é um processo envolvente, e o jogo apresenta uma seleção ampla, complementada por gadgets úteis e coerentes com o tema. A progressão também é satisfatória, não bastando apenas usar o equipamento, é preciso cumprir missões e objetivos específicos para desbloquear acessórios e camuflagens. O sistema é interessante, porém, mal explicado na interface, um dos problemas recorrentes por aqui.
Em essência, Battlefield está de volta. Há modos para todos os tipos de público e oferece neles uma experiência que poucos títulos conseguem reproduzir com a mesma escala, intensidade e qualidade. Até o momento, o jogo evita as armadilhas mais comuns do cenário online moderno e entrega o multiplayer de guerra moderna que os fãs esperavam há mais de uma década, desde Battlefield 4.
Os empecilhos da guerra
A obra entrega um nível de customização excelente, e uma das decisões mais inteligentes é permitir que o jogador exclua partes que não pretende mais usar. Depois de finalizar a campanha e coletar todos os coletáveis e troféus, é possível apagar o modo história, reduzindo consideravelmente o tamanho do jogo. É uma escolha que vai na contramão da indústria, cada vez mais inclinada a lançar títulos inflados que ocupam quase todo o armazenamento dos consoles.
Infelizmente, a boa execução em usabilidade para por aí. A interface de usuário parece se esforçar para dificultar o básico, tornando qualquer navegação fora do gameplay pouco intuitiva.
O ponto mais grave é a ausência de uma seção dedicada a estatísticas do jogador. Todas as suas informações são registradas — vitórias, derrotas, armas usadas, tempo de jogo —, e não são apresentadas de forma clara e acessível. Isso cria uma sensação estranha de que o progresso existe e simplesmente não está disponível. É um erro que deveria ser prioridade para uma futura correção.
A campanha genérica alinhada com os problemas de interface, contrastam com a experiência certeira do modo online.
Portal para a guerra
O único ponto realmente positivo que nasceu do fiasco de Battlefield 2042 foi o Portal, modo que permite à comunidade criar e compartilhar experiências personalizadas. Agora, essa ferramenta é elevada a um novo patamar.
Portal está mais acessível, intuitivo e funcional, facilitando a criação de playlists e modos únicos com poucos passos. Mesmo em seus primeiros dias, já é possível encontrar experimentos criativos feitos pelos próprios jogadores, que expandem o potencial do jogo.
Essa ferramenta é capaz de ampliar a longevidade do título e manter a comunidade engajada. Se a EA e a DICE continuarem oferecendo suporte consistente e incentivarem a criação de conteúdo, o Portal pode se sacramentar como um dos pilares definitivos da franquia seguindo em frente.
Tudo ou nada
Battlefield 6 representa um esforço claro para reconquistar os fãs e restaurar o prestígio da franquia. Cada explosão, cenário destruído e som transmite o peso de uma produção de altíssimo orçamento.
A EA sabia que não podia tropeçar novamente, e por isso adotaram uma postura segura, sem tentar reinventar a roda. O resultado é um jogo que prioriza a estabilidade e a experiência clássica, oferecendo o melhor que o gênero pode proporcionar, ainda que sem grandes surpresas. Battlefield está definitivamente de volta.
Prós
- Aspecto técnico impecável;
- Partidas online cinemáticas e intensas;
- Modos e mapas que oferecem um playground extremamente divertido;
- Portal dispõe ferramentas para manter a comunidade ativa.
Contras
- Campanha oferece uma experiência aquém do que poderia;
- Experiência de usuário pouco prática;
- Falta de seção de estatísticas.
Battlefield 6 - PS5/XSX/PC - Nota: 9.0Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Thomaz Farias
Análise feita com cópia digital cedida pela Electronic Arts















