Já fazia um tempo que os Nicktoons amargam uma sequência de títulos medianos — para ser gentil —, independente de qual fosse o gênero. Sendo corrida, luta ou aventura, parece que apenas Bob Esponja conseguiu se manter em evidência, e ainda assim com algum esforço.
Entretanto, Nicktoons & The Dice of Destiny veio para trazer uma aventura com cara de longa-metragem que traz diversas franquias da Nickelodeon em um RPG de ação. Tudo isso graças a mais um pedido sem noção de Timmy Turner.
Multiverso da loucura
Após ganhar mais uma partida de RPG pela centésima vez, Timmy fica entediado e diz que o jogo está muito chato. Logo surge a ideia de transformar toda a aventura fictícia em algo real, pedido ao qual Cosmo e Wanda prontamente atendem. Para variar, isso acaba causando um efeito colateral enorme.
Os dados que ele estava usando se tornaram artefatos mágicos e se espalharam por diversas outras realidades, sugando-as para dentro da aventura, e consequentemente transformando diversos outros personagens em amigos e vilões de jornada. Ao longo do jogo, podemos escolher entre nove heróis:
- Timmy Turner, o mago
- Bob Esponja Calça-Quadrada, o cavaleiro
- Leonardo, o samurai
- Katara, a curandeira
- Sandy Bochechas, a bárbara
- Susie Carmichael, a feiticeira
- Danny Phantom, o ladino
- Jimmy Neutron, o mecânico
- Jenny Wakeman (XJ-9), a caçadora
Como um fã da velha guarda dos nicktoons, gostei bastante de ver nomes mais antigos, como Jimmy Neutron e Jenny. Também curti bastante ver o nome da Susie, que só entrou bem depois em Rugrats e, por ser um pouco mais velha, é uma escolha que vai de encontro com Angélica, uma das vilãs do jogo.
Por mais que a narrativa não seja aquele primor e use bastante de clichês que só os desenhos animados podem se dar ao luxo de usar, tudo é bastante divertido e, caso você seja uma pessoa viciada em desenhos animados, é impossível não sacar as diversas referências e piadas características de cada série e que inevitavelmente irão render algumas gargalhadas sinceras.
Em cima disso vem o primeiro contra, que é a ausência de dublagem ou textos localizados para o nosso idioma. Além de perder as vozes icônicas, nem todos os jogadores irão pegar as referências em inglês, então algumas coisas importantes podem acabar passando batidas, apesar de tudo ser bem ilustrado e intuitivo.
Eu já não passei por aqui?
Estruturalmente, Nicktoons & The Dice of Destiny pode ser um pouco repetitivo, dado o ritmo no qual as missões acontecem. Ao todo percorremos 24 fases divididas em oito mundos, cada um deles contando com um chefe. Os cenários até são curtos, mas o problema é que, dentro de um mesmo mundo, eles se replicam e mudam apenas a direção. Isso acontece bastante na primeira metade do jogo.
Algumas missões secundárias mais para o final também acabam dando uma freada no ritmo, pois essas exigem que revisitemos algumas das primeiras regiões, que a essa altura já foram exploradas umas duas ou três vezes.
Tirando esse fator, a ação se mostra bastante amistosa para quem não tem nenhum tipo de intimidade com o gênero. Podemos alternar livremente entre os heróis antes de entrar em uma fase e, no melhor estilo RPG de ação, temos habilidades que são desbloqueadas ao subirmos de nível, mas também contamos com o golpe básico. Mesmo podendo alcançar o nível 40, liberamos apenas seis técnicas novas (atingindo o nível 16) das quais podemos usar quatro.
A evolução dos personagens poderia ser melhor explorada, tanto na parte prática, adicionando mais habilidades ou aumentando espaçamento entre as que já existem, para que justifique o jogador buscar atingir o nível máximo, quanto na parte estética. Coletamos itens de diferentes raridades, como armaduras, talismãs e armas. Seria legal ver pelo menos as armas tendo um visual diferente na mão dos personagens, já que elas apresentam variações visuais no inventário.
Porém, não dá para negar que Dice of Destiny fisga o público pela simplicidade e a vibe daquela sequência de episódios especiais que juntam um punhado de franquias. São necessárias aproximadamente 9 horas para realizar tudo o que a aventura tem a oferecer, e mesmo com as camadas de repetição, é divertido refazer algumas fases com diferentes heróis, só para testar todas as habilidades possíveis em situações de combate.
Claro que isso evidência também que personagens como Bob Esponja, Leonardo e Sandy, que realizam golpes físicos e necessitam de proximidade, tem habilidades menos variadas que Timmy, Susie e Jimmy Neutron, que podem causar o caos pelo caminho e se manterem a salvo — e em um terceiro tópico isolado está Jenny, que é extremamente apelona e justifica o fato de ser a última integrante do time a ser liberada.
Uma mistura bem feita
Não daria para esperar que todas as franquias citadas tivessem uma representação de igual para igual, mas dá para dizer que todas elas foram tratadas com o devido respeito. Seja nas fases, inimigos ou amigos que encontramos pelo caminho, a maneira como as séries foram amarradas influenciou positivamente na trilha sonora e estilo visual do jogo.
Primeiramente, tudo está retratado em 2D bem colorido, o que é um padrão de quase todas as séries presentes. A exceção fica, em partes, por conta de Jimmy Neutron, que sempre foi tridimensional, mas já havia ganhado uma releitura bidimensional no crossover The Jimmy Timmy Power Hour, de 2004. Então, quem conhece não irá estranhar o menino gênio em um novo estilo.
Também aproveito para elogiar as escolhas para Tartarugas Ninjas e Avatar. O primeiro fugiu do famoso, e sempre requisitado, visual dos anos 1980, que ainda é o favorito dos fãs disparado. Usar as personificações da versão Caos Mutante (2024), na qual elas tem uma vibe mais infantil, casa com a proposta leve do jogo do que a sobriedade da encarnação original.
Já para quem se questionou onde estão os traços mais caprichados de Avatar, a resposta está na comemoração de 20 anos da série. O estilo artístico veio diretamente do especial “Avatar: Chibi Minis”, então casou como uma luva com o visual “novo”.
Isto dito, é bem interessante estar na Fenda do Biquíni e ser atacado por águas-vivas acompanhadas pelos duendes de chapéu pontudo, ou entrar na Nação do Fogo e ver os guardas imperiais recebendo cobertura dos ninjas rasos do Clã do Pé, usando armaduras cavaleiros.
As trilhas que tocam durante o jogo mesclam bem a ideia medieval de um RPG com as trilhas sonoras famosas de Bob Esponja, Padrinhos Mágicos, Avatar, Tartarugas Ninjas e Danny Phantom. É praticamente como ligar a televisão nos anos 2000 e comandar uma aventura maluca.
Desejo que todos deem uma chance à essa aventura!
Timmy pode ter causado uma bagunça ao misturar os universos dos nicktoons com seu pedido, mas a verdade é que Nicktoons & The Dice of Destiny é uma aventura leve que merece ser jogada principalmente para quem gosta e conhece os desenhos que estão nela. Mesmo se você não tiver tanta noção assim, ainda é válido curtir a jornada pelo seu clima descontraído e jogabilidade de fácil assimilação.
Prós
- A narrativa é simples, engraçada e mistura bem franquias famosas e outras mais distantes do público atual;
- Estilo visual colorido e que consegue abranger e adequar todos os universos retratados com perfeição;
- A mistura de universos é bem amarrada à história, trazendo combinações curiosas;
- É um RPG fácil de jogar, podendo servir como porta de entrada para quem quer conhecer o gênero;
- A dublagem em inglês é ótima e conta com várias piadas e referências das obras originais.
Contras
- Jogar com os personagens que atacam de longe dá uma vantagem bem mais convidativa que os que só golpeiam de perto;
- Alguns estágios reaproveitam a mesma estrutura, alterando apenas a orientação e isso cria uma sensação de repetitividade;
- As armas poderiam ter mudanças estéticas;
- Por se tratar de franquias famosas, as vozes em português, ou pelo menos textos, acabaram fazendo bastante falta.
Nicktoons & The Dice of Destiny — PC/PS5/Switch/XSX — Nota: 8.0Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise feita com cópia digital cedida pela GameMill Entertainment















