Análise: Lost Eidolons: Veil of the Witch é uma combinação desastrosa de gêneros

Embora a proposta de misturar RPG tático com rouguelite seja promissora, o resultado foi bem desastroso.

em 11/10/2025

Em Lost Eidolons: Veil of the Witch, um RPG de estratégia isométrico com elementos roguelite, acompanhamos a jornada de Ash e seus aliados. Após sobreviverem a um naufrágio, eles chegam a Anareios, — uma ilha misteriosa e amaldiçoada, onde os mortos não encontram descanso. A situação se complica ainda mais quando uma divindade, a Eidolon Sable, os incumbe de uma "simples" tarefa: assassinar seu antigo campeão para salvar a ilha.

Em busca do passado para entender o presente 

A trama de Eidolons é previsível e direta, o que, por si só, não é um problema. Contudo, a falta de profundidade impede uma conexão mais significativa com a narrativa. Mistérios surgem e são rapidamente solucionados com excesso de exposição, o que é decepcionante para um RPG que deveria apresentar um enredo mais elaborado.


O protagonista, Ash, carece de carisma. Suas opções de diálogo são superficiais, sem impacto em sua personalidade ou na trama, tornando-o pouco interessante. Da mesma forma, antagonistas e aliados são estereótipos ambulantes — o guerreiro silencioso, o ladino falastrão, o mago inteligente. Embora a presença de estereótipos não seja inerentemente negativa, como seus diálogos são escritos falha em lhes conferir profundidade suficiente para se destacarem.

Apesar dessas deficiências, a narrativa cumpre o básico de justificar as aventuras dos personagens. Há pontos intrigantes, como a maldição da ilha e o mistério em torno do passado amnésico de Ash, que busca recuperar suas memórias após o naufrágio. Ele precisa desvendar o que fazia antes e como foi parar na embarcação que o levou a Anareios.


Um detalhe importante é que Ash pode ser personalizado de forma simples, com opções de sexo e cor de pele antes do início do jogo. Como joguei com sua versão feminina, irei me referir a ela sempre assim. Além disso, o jogo está localizado em português.

Anareios: uma ilha com geografia estranha 

Anareios é uma ilha dividida em três regiões iniciais — Terras Baixas, Ermas Ocidentais e Os Salheims — distintas, o que resulta em um ecossistema peculiar. Começando o jogo em uma praia com um navio naufragado, o jogador avança para uma cidade costeira que funciona como base principal, seguindo então para montanhas nevadas, pântanos e, por fim, planícies verdejantes.


Apesar da diversidade dos cenários, a ilha carece de coesão orgânica, resultando em ambientes que parecem desconexos. A pouca atenção aos detalhes nas arenas de cada região as torna muito parecidas. Por exemplo, a região de neve (Os Salheims) tem poucos elementos que a identifiquem; o pântano (Ermas Ocidentais) é tão desolado que se assemelha a um deserto; e os campos (Terras Baixas), embora apresentem árvores e vegetação no mapa ilustrativo, não as têm nas arenas.



Adicionalmente, o jogo apresenta serrilhados nos campos de batalha e texturas borradas em algumas áreas, o que ressalta a necessidade de aprimoramento. No cômputo geral, todos esses elementos comprometeram minha imersão na ilha e a apreciação de sua ambientação, que, em última análise, se mostrou repetitiva.

Uma mistura desequilibrada 

Lost Eidolons tenta combinar RPG tático e roguelite, mas com resultados mistos. O combate tático é caracterizado por uma perspectiva isométrica, arenas em estilo de tabuleiro e batalhas por turnos. Os jogadores podem aprimorar as classes dos personagens, e a protagonista pode mudar a sua própria. O posicionamento estratégico e a observação dos movimentos inimigos são cruciais, pois os adversários possuem fraquezas específicas a diferentes tipos de armas.


Os elementos roguelite se manifestam na progressão, onde cada "run" ou expedição começa em uma das áreas do jogo. O jogador escolhe um de três caminhos. Cada caminho é dividido em uma batalha e um interlúdio sem luta, e isso continua sucessivamente até chegar ao chefão da região. Após a derrota do chefão, você avança para a próxima região e repete o processo até passar por todas elas. Se conseguir essa proeza, a aventura está concluída, e o grupo retorna à base.


Em caso de derrota, o grupo também retorna à base para uma nova tentativa. O jogo incentiva a rejogabilidade com múltiplos finais e conquistas, como completar uma expedição apenas com conjuradores. Os pontos de experiência das batalhas geram atributos aleatórios para os personagens, e as habilidades variam de comum a mítica. Armas e armaduras podem ser melhoradas com pedras de ressonância adquiridas durante a aventura, desbloqueando habilidades passivas e ativas.


No entanto, a combinação desses gêneros falha em ser equilibrada. A repetição de objetivos aleatórios torna-se rapidamente cansativa. Em níveis avançados, o combate pode ser tedioso devido ao número excessivo de inimigos, o que cria uma dificuldade artificial baseada mais na quantidade do que na estratégia ou posicionamento. Enfrentar 12 inimigos e depois mais 6 é comum, e a ausência de margem para erro — todos os ataques acertam — leva a picos de dificuldade injustos.


Embora seja possível investir em habilidades que fornecem armadura sobre a vida do herói e no atributo guarda, que reduz o dano recebido, isso não mitiga completamente o problema. A implementação de opções de dificuldade padrão (fácil, normal, difícil) melhoraria a experiência para um público mais amplo. Contudo, a personalização completa da dificuldade — permitindo ajustar força inimiga, recursos e frequência de eventos — seria o ideal.


Apesar dos problemas, a fluidez do combate é um ponto forte, e é gratificante ver a estratégia e o posicionamento do grupo darem certo. As habilidades, especialmente as magias, são visualmente impressionantes, ao contrário dos ataques corpo a corpo. A capacidade de pausar o combate e retroceder até seis vezes é um recurso excelente e muito útil.

Os mortos contam histórias 

A variedade de inimigos em Lost Eidolons: Veil of the Witcher é notável. O jogo apresenta desde soldados imperiais de diversas classes — como assassinos, magos, clérigos e soldados (leves e pesados) — até criaturas clássicas de fantasia medieval, como zumbis, hidras, cães do inferno, lobos e dragões. Alguns desses monstros maiores possuem pontos fracos visíveis, o que adiciona uma camada estratégica aos combates.


No que diz respeito ao comportamento dos inimigos, os padrões de movimento são, em geral, simples, com a maioria avançando incessantemente contra o grupo até ser eliminada. Contudo, os soldados humanos demonstram uma inteligência ligeiramente superior, protegendo classes mais vulneráveis, como arqueiros e curandeiros.


Enquanto as criaturas menores atacam em grande número e sem estratégia, os chefes representam verdadeiros desafios. Eles se destacam por suas táticas, golpes especiais e múltiplos conjuntos de movimentos. No entanto, o ataque em área do General Bernhardt e o intervalo das habilidades do assassino das sombras, Fellheart, necessitam de ajustes para tornar esses confrontos menos repetitivos. Apesar de o combate contra os adversários comuns não ser um ponto forte, eles são visualmente interessantes.

Lar é onde nos sentimos seguros 

Em Pelikos, a cidade-base do jogador, é possível selecionar aliados para missões, interagir com eles, aprimorar suas classes e usar fragmentos de memória para restaurar as lembranças perdidas de Ash, além de contar com uma loja de propriedade do comerciante Potter, onde as melhorias são para o próprio mercador, em vez de beneficiarem diretamente o grupo da protagonista, como a possibilidade de estocar poções ou adquirir armas e armaduras melhores.


Há também a Torre do Corvo, onde um corvo falante (mais carismático que a protagonista) oferece desafios que dificultam as expedições, mas fornecem recompensas. No entanto, a repetição do combate diminuiu meu interesse em enfrentar essas dificuldades. Existe também o Santuário, que atua como árvore de habilidade dividida em três categorias.


O combate permite maximizar o dano com armas específicas, além de conceder bônus — como machados que aumentam em 8% o dano. Armaduras pesadas oferecem maior defesa e sobrevivência. Uma das habilidades mais cruciais inclui talentos que elevam a porcentagem de chance de obter habilidades lendárias. Todas elas são permanentes.

Problemas técnicos

Durante minhas 28 horas de jogo no PlayStation 5, a experiência foi seriamente prejudicada por travamentos constantes e frustrantes, especialmente em lutas contra chefes. Por exemplo, o jogo travou duas vezes seguidas após a derrota do chefe Fellheart. Além disso, no segundo encontro com a chefa Karlotta, ocorreram dois travamentos logo após eu completar uma expedição, o que alterou a dinâmica do combate ao mudar os movimentos dos chefes.


Houve também três travamentos no penúltimo chefão, sempre após a derrota dos chefes, forçando-me a repetir as lutas várias vezes até conseguir avançar no jogo. Porém, esses problemas e outros foram corrigidos por atualizações pós-lançamento, o que eliminou a frustração dos travamentos e removeu as texturas com bugs. No entanto, alguns cenários ainda permanecem meio borrados.

Uma música composta por bardos desafinados 


A trilha sonora do jogo é, na maioria, esquecível e não se alinha totalmente com a temática medieval. Embora utilize batidas fortes para os combates e ritmos calmos para momentos emotivos, a falta de diversidade instrumental compromete sua originalidade. Em um roguelite, a repetição de fases é intrínseca, e uma trilha sonora de qualidade ajudaria a mitigar a monotonia, tornando a experiência mais agradável a longo prazo.

Uma jornada rumo ao desastre

Lost Eidolons: Veil of the Witch apresenta uma combinação de ideias promissoras com uma execução inconsistente. Embora o combate seja envolvente e os chefes desafiadores, o jogo sofre com picos de dificuldade abruptos, objetivos repetitivos, uma narrativa sem brilho e cenários pouco detalhados.

Prós

  • Chefes interessantes e desafiadores, ainda que, por vezes, um pouco injustos;
  • Boa variedade de inimigos;
  • Arte dos personagens muito bem feita;
  • Combate responsivo;
  • Habilidades e relíquias variadas.

Contras

  • Opções de dificuldade de pouco impacto;
  • Excesso de inimigos em tela, o que torna o combate repetitivo;
  • Trilha sonora esquecível;
  • Cenários pouco detalhados e borrados, tornando-os muito parecidos;
Lost Eidolons: Veil of The Witch — PS5/XSX/PC/Switch — 6.5
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Mariana Marçal
Análise produzida com cópia digital cedida pela Kakao Games

Observação: A análise foi atualizada após os problemas de travamento da versão pré-lançamento terem sido corrigidos por meio de uma atualização
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Thiago da Silva e Silva
É um universitário se formando em engenharia na UFRRJ,apaixonado por jogos desde a infância, principalmente RPGs.
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