Dispatch é um jogo narrativo episódico, em que as decisões do jogador moldam o destino dos personagens da história. Acompanhamos Robert Robinson, o "Mecha-Man", que não está vivendo o melhor momento de sua vida, após um acidente envolvendo supervilões. Sua única opção, agora, é trabalhar na empresa de um colega de seu pai, liderando uma equipe disfuncional de ex-supervilões, a fim de alcançar seus objetivos pessoais.
O jogo foi desenvolvido pela AdHoc Studio, formada por ex-funcionários da Telltale Games e da Ubisoft, em parceria com a famosa mesa de RPG Critical Role (a animação Vox Machinas é uma adaptação da mesa desse grupo de amigos). Como velhos costumes não mudam, seu primeiro título é dividido em oito episódios, que serão lançados semanalmente, assim como as análises.
No fundo do poço
No primeiro episódio, chamado Transição, somos apresentados ao protagonista Robert Robinson, o super-herói Mecha-Man. Devido a um incidente, ele acaba se vendo no fundo do poço, até que uma super-heroína famosa, chamada Loira Luminar, chega oferecendo uma proposta única a ele, que pode ser o necessário para ele recomeçar sua jornada pessoal.
Robert se destaca como um excelente protagonista, mesmo com o jogador controlando todos os seus diálogos por meio de três opções, incluindo o silêncio. Suas falas revelam traços marcantes de sua personalidade: ele é capaz de ser gentil, sarcástico e irônico, frequentemente exibindo um humor ácido. A voz do ator Aaron Paul (Breaking Bad) encaixou melhor do que eu imaginava no personagem.
Adiantando: os nomes de todos os super-heróis são ridículos no idioma original, o que acredito ser proposital, para soarem cômicos e exagerados. As traduções desses nomes para o português ficaram excelentes, assim como todos os diálogos desses dois episódios. Nos diálogos, o jogo conta com bastante palavrão, o que pode afastar algumas pessoas, e um pouco de nudez — mas este último pode ser desativado nas opções de acessibilidade, ao contrário dos palavrões.
Achei que o excesso de palavrões poderia deixar os diálogos um pouco idiotas, mas a desenvolvedora soube manejá-los de uma forma que parecerem naturais, conforme a situação que os personagens estão enfrentando. Isso só reforça como os roteiristas estão sabendo escrever muito bem os diálogos.
No geral, o primeiro capítulo foi excelente, apresentando muito bem o protagonista e seus objetivos. Ele nos introduz ao funcionamento desse mundo de super-heróis, surpreendendo-me com um começo cheio de ação bem coreografada, que ressalta o quão bem feitos estão os gráficos cartunescos.
No início, também temos a primeira escolha que o jogador terá que fazer: se os quick time events permanecem ou não, tornando a experiência ainda mais parecida com uma série. Eu optei por deixá-los ativos, pois gosto deles e, como não existem trechos em que podemos andar com o protagonista — como em alguns jogos do gênero — achei que essa opção aumentaria a minha imersão.
Após um começo mais intenso, o restante do capítulo é mais calmo, e temos a introdução da super-heroína Loira Luminar, que é um estereótipo ambulante de heróis da época de ouro, como Superman: gentil, educada, otimista, voa e tem superforça. Eu adorei a personagem, principalmente seus diálogos com o protagonista.
Por baixo da máscara de boazinha que ela usa, parece ter segredos interessantes e um lado mais rebelde. Mas ela não foi ao encontro do protagonista neste episódio só para jogar conversa fora: ela foi até ele para oferecer a Robinson uma oportunidade de emprego na empresa do amigo de seu pai, a Res. Ou seja, ela foi pedir para o personagem virar um CLT.
Ah, nesse episódio foi apresentando um minigame de hacker, em que controlamos uma forma geométrica que deve seguir por um caminho tracejado até chegar ao fim, conseguindo invadir algum sistema. Durante esse percurso, será necessário digitar códigos usando o analógico — no meu caso, já que joguei no console.
O primeiro dia de trabalho
No segundo episódio, que se chama Integração, após os eventos do final do último capítulo, Robert vai à empresa Res para começar seu primeiro dia no trabalho como coordenador ou despachador (dispatch, em inglês) de uma equipe de ex-vilões que agora são heróis. Porém, o protagonista acabou ficando com a equipe mais desastrosa.
Assim como o episódio anterior, este também manteve sua qualidade, apresentando novos personagens, como o conhecido de Robert, Cometa, e a desastrosa equipe de ex-vilões formada por Sonar, Malévola, Prisma, Golpe Baixo, Coupé, entre outros. Todos são extremamente carismáticos e marcantes, com visuais que se destacam de longe. Dos membros da equipe, eu destaco a Invisiva que, como o nome entrega, é capaz de ficar invisível, além dela ser quem mais tem destaque neste.
Ela é aquela personagem extravagante e cabeça-dura, bastante boca-suja, mas superengraçada. Gostei bastante dela, pois todos os diálogos com ela são bons e, no fundo, ela é uma boa pessoa. Estou muito curioso para descobrir mais sobre ela no decorrer dos episódios. Os demais heróis também são excelentes e possuem poderes criativos.
Neste capítulo, também temos a principal mecânica de gameplay: como coordenador, o protagonista deve atender chamados de emergência e enviar o melhor herói para resolver a situação. Como, por exemplo, quando um carro é roubado e o ladrão está em alta velocidade fugindo. O ideal, então, é ver qual membro da equipe é mais rápido. É possível ver tais atributos nas estatísticas dos heróis.
A jogabilidade é simples e intuitiva; em pouco tempo, você se acostuma a despachar os heróis corretos para cada situação. Ocasionalmente, podem surgir imprevistos, como alguém desobedecer Robert ou querer fazer um desvio antes de retornar à empresa. Caso isso aconteça, cabe ao jogador escolher como responder. No geral, assim como o primeiro capítulo, o segundo teve a função de introduzir novas mecânicas e personagens, sem muitas escolhas que mudam o final do episódio ou os acontecimentos importantes.
Um começo muito promissor
Dispatch teve um começo espetacular, com dois episódios iniciais que demonstram excelência em dublagem e alta qualidade de animação, entregando cenas de ação e comédia muito bem executadas. A jogabilidade se mostrou simples e intuitiva. Embora a presença de palavrões e algumas piadas possam não agradar a todos os jogadores, resta aguardar para ver se os próximos episódios manterão o mesmo nível de qualidade.
Prós
- Gráficos cartunescos excelentes, lembrando quadrinhos;
- Ótimos personagens e opções de diálogo boas e bem-humoradas;
- Dublagem excelente, marcada por vários atores famosos, como Aaron Paul;
- Jogabilidade simples e intuitiva — em pouco tempo, o jogador aprende como coordenar os heróis.
Contras
- A presença de um certo excesso de palavrões pode afastar alguns jogadores.
Dispatch (episódios 1 e 2) — PS5/XSX/PC — Nota: 8.0Versão usada para análise: PlayStation 5
Revisão: Mariana Marçal
Análise produzida com cópia digital cedida pela AdHoc Studio











