Bounty Star é um jogo de ação e aventura em 3D que combina combate com mechas, gerenciamento de recursos e construção de bases. A trama central segue uma ex-soldada da milícia que busca redenção após uma emboscada devastadora. Agora, ela recomeça sua vida como caçadora de recompensas na região da Vastidão Vermelha.
Uma jornada em busca da redenção
A história de Clementine — ou Clem, para os íntimos — é profundamente inspirada em filmes do Velho Oeste, cuja influência se mostra clara por todo o jogo. Seus companheiros, Jack, o xerife, e Utah, uma nativa americana, reforçam essa atmosfera, assim como a própria Clem, que encarna o arquétipo da protagonista silenciosa em busca de redenção. Mas, mesmo sendo uma mulher de poucas palavras, seus pensamentos são sempre acessíveis ao jogador: após cada missão principal, a personagem os registra em seu diário, compartilhando seus sentimentos e reflexões.
Esses momentos de introspecção da protagonista silenciosa foram essenciais para a minha conexão com ela, permitindo que eu compreendesse suas inseguranças, medos e arrependimentos. Testemunhar esse lado de forma tão orgânica fez com que eu me afeiçoasse à trama.
A caçadora não está sozinha nessa jornada. Ela é acompanhada por dois aliados carismáticos e uma infinidade de NPCs icônicos, notáveis por suas aparências únicas e histórias intrigantes. Tom é um desses exemplos: um condenado que, como punição por seus crimes, pedala uma bicicleta pelo deserto fantasiado de carne, vendendo produtos agrícolas valiosos, como milho e tomate. Ironicamente, ele não comercializa carne, o que é uma pena, pois ela é bem cara.
O fato de me deparar com personagens tão exóticos como esse me fazia ansiar para visitar a casa de Clem. Falando nela, aprecio que lá exista uma estante de livros onde cada um, conta um pouco mais sobre a história do mundo de Bounty Star. Achei essa uma excelente maneira de enriquecer a narrativa de forma natural.
Senti que, no final, a história se arrastou um pouco, e o antagonista é esquecível. Embora ele cumpra o papel de ser alguém para o jogador odiar, também existem algumas reviravoltas previsíveis. Contudo, esses pontos não ofuscam o charme geral da narrativa.
A Caçadora de Recompensa
Bounty Star é um jogo de ação e aventura com mechas em terceira pessoa, no qual a câmera fica posicionada sobre o ombro, ou seja, fica nas costas do robô, similar ao que é visto em Armored Core VI: Fires of Rubicon. O Raptor MkII, robô da protagonista, é capaz de realizar golpes leves e pesados, sejam físicos ou à longa distância, além de conseguir usar seus propulsores tanto para esquiva quanto para executar combos simples.
Assumir o controle do Raptor é prazeroso. Os golpes são visualmente bonitos e rápidos, mesmo o gigante de aço pesando toneladas. Adorei como esse fato é perceptível pelo som que ele faz a cada passo sobre o chão, dando a sensação de que tudo treme diante de seu caminhar. Mas o que realmente se destaca no robô, como mecânica única, é o sistema de temperatura.
No combate, a temperatura do, mecha varia conforme a hora do dia e os equipamentos, como armas de fogo. Quanto mais quente a máquina fica, maior a velocidade dos ataques físicos. Em contrapartida, quanto mais fria, maior a velocidade das armas de fogo. Contudo, recomendo evitar o sobreaquecimento ou o resfriamento completo da máquina, para não provocar um desligamento temporário.
A ideia é se acostumar a jogar com ambas as temperaturas — porém, falar é mais fácil do que fazer. Acostumar-se com a questão térmica, no começo, é um pouco difícil; muitas vezes, eu acabava tendo um mau equilíbrio no equipamento, e os sistemas do robô desligavam. Porém, conforme fui progredindo, me apeguei ao sistema, sabendo sempre ficar no limite sem vacilar. Essa mecânica apenas enriqueceu a jogabilidade.
Os contratos
Como caçadora de recompensas, Clementine realiza contratos de alta prioridade — que avançam na história — e de baixa prioridade, melhores para farmar dinheiro. Eles funcionam como se fossem fases: você vai ao mapa na casa de Clem, escolhe o alvo e segue até o local para matar ou capturar os inimigos. Você também pode explorar essas fases em busca de baús com armas e colecionáveis.Aqui reside um problema na estrutura das missões do jogo, pois elas são muito repetitivas. Não importa se são secundárias ou principais: todas se resumem a matar inimigos, o que logo se torna tedioso. Até existem objetivos levemente diferentes, como destruir ônibus ou colmeias de louva-a-deus, mas mesmo esses acabam não fugindo da mesmice.
O jogo acabou carecendo de uma diversidade maior de objetivos. Poderia haver algo clássico, como proteger um alvo ou resgatar um refém — o que já ajudaria a aliviar a monotonia. A situação se agrava quando conhecemos os objetivos opcionais, como "termine o contrato sem sofrer dano" ou "em tal quantidade de minutos". Eles estão presentes em todas as missões com o intuito de oferecer um desafio a mais e também recompensam com dinheiro extra.
Em resumo, os contratos, no geral, são chatos. Eu só fiz muitos dos secundários porque pagam bem, e eu precisava da grana para continuar investindo em melhorias para a base e para o robô, a fim de prosseguir na campanha.
Pela vastidão do antigo oeste
A ambientação de Vastidão Vermelha se inspira em locais como Texas ou Califórnia, apresentando vastas regiões desérticas com vegetação rasteira, escassez de água e abundância de rochas. O clima varia: é frio à noite, quente à tarde e ameno pela manhã. Tudo isso é acompanhado por cores vibrantes, um estilo cartunesco e uma trilha sonora que empolga durante os combates — voltada para o country —, dando um charme ao jogo.Apesar disso, achei que a trilha sonora se torna repetitiva muito rápido, pois não há muitas faixas diferentes. Faltou algo na ambientação para ela se destacar mais, como um uso melhor do ciclo de dia e noite. As tardes e manhãs não mudam nada nos cenários, enquanto as noites apresentam o surgimento de plantas biofluorescentes, que iluminam a escuridão. Sinto que faltaram mais detalhes como esse, que dão um ar mais único ao deserto.
Nem só de rochas são feitas as paisagens. Temos uma boa variedade de construções, como fazendas, planícies, hotéis, campos de beisebol, minas e locais que passam um ar meio pós-apocalíptico — como construções feitas com restos de um avião. No geral, os cenários transitam de algo mais antigo, com temática faroeste, a locais pós-apocalípticos que parecem ter saído de Mad Max.
Todos esses locais são interessantes, porém logo se tornam repetitivos por serem muito reutilizados durante atividades como os já citados contratos. Sendo assim, é comum visitar o mesmo campo de beisebol cinco vezes e a mesma mina três vezes. Logo os cenários se tornam cansativos de serem vistos, e isso pode afastar jogadores que buscam uma diversidade maior.
1200 quilos de morte em aço
O Raptor MKII se destaca pela sua versatilidade em combate, possuindo dois encaixes para armas (uma de fogo e uma física), três para sistemas de apoio (como propulsores de esquiva, jatos de salto ou campos de força à prova de balas) e três para otimizações passivas, que aprimoram dano ou regulam a temperatura. Além disso, conta com um sistema de manobra que concede bônus — como cura — a cada esquiva bem-sucedida.A personalização dos robôs é um dos grandes atrativos de Bounty Star. A extensa variedade de armas e acessórios permite inúmeras combinações, salvando frequentemente a repetitividade dos contratos. Uma das minhas favoritas era a espada motosserra com o canhão de gelo, otimizado com acessórios para evitar o superaquecimento da máquina.
Com essa configuração, eu obtinha excelente dano tanto em combate corpo a corpo quanto à distância, graças a um canhão capaz de perfurar até três inimigos com um único disparo. Vale ressaltar que, além dessas, muitas outras armas podem ser adquiridas nos baús e na loja da base, onde a maioria dos equipamentos também é vendida.
Apesar da considerável variedade de opções de pintura para o robô, senti que a personalização visual do gigante de aço poderia ser mais profunda. Acredito que a possibilidade de trocar braços, pernas ou o chassi elevaria o Raptor a uma máquina perfeita.
Administrando uma humilde fazenda
Quando o jogador não está em caça, a gestão da casa da heroína se torna o foco. Diferente de simuladores agrícolas complexos, como Stardew Valley, Bounty Star oferece uma administração mais simplificada. A rotina inclui o cuidado com plantas e animais (como galinhas), a produção de munição e baterias para o mecha, e a culinária.Produzir baterias para o Raptor e munição é crucial para gerenciar os custos dos contratos, evitando reduções drásticas nos valores — especialmente ao usar armas de alto consumo, como a minigun. Além disso, cozinhar oferece bônus passivos, como aumento de dano.
Meu principal problema com a parte administrativa foi a demora na automatização de certos recursos. Mesmo estando avançado na história, precisei continuar alimentando galinhas, enchendo baterias e fabricando munição manualmente. Com o tempo, essa rotina tornou-se repetitiva.
Fiquei surpreso com as diversas formas de ganhar dinheiro, além dos contratos principais. É possível vender ovos fertilizados de galinhas, sucata de inimigos e o excedente da horta (milho, tomate, feijão etc.), além de pratos de comida. Isso, em teoria, oferece ao jogador liberdade para não se prender apenas às missões.
No entanto, na prática, devido ao baixo custo de venda dos produtos que cultivamos, a forma mais eficiente de lucrar é repetindo as missões. Acredito que um leve ajuste no valor dos produtos resolveria essa questão. Contudo, ao equilibrar contratos e vendas de produtos da fazenda, o jogador conseguirá mais do que o suficiente para adquirir tudo o que o jogo tem a oferecer.
Os fora da lei
Os vastos desertos avermelhados são infestados por bandidos vestidos com trajes típicos de faroeste e diversas outras gangues de malfeitores, como os incendiários, os Punhos de Bronze com seus mechas e criaturas mutantes, como louva-deuses gigantes, entre outras surpresas.A variedade de inimigos é ótima, seus visuais são bem bonitos, e alguns chegam a ser desafiadores, exigindo atenção aos seus ataques ou à quebra de suas defesas para causar dano. No entanto, a distribuição deles é ruim, fazendo com que se repitam muito, o que torna alguns encontros monótonos e tediosos.
Clem do cemitério
Bounty Star apresentou uma narrativa satisfatória, com uma protagonista carismática e personagens visualmente icônicos, além de uma ótima personalização, jogabilidade com mecha e administração de base simples e intuitiva. Mas o jogo conta com alguns problemas de repetição, como seus cenários, trilha sonora e estrutura de missões.
Prós
- História cativante, com uma protagonista bem desenvolvida e personagens carismáticos;
- Elementos de velho oeste foram bem aplicados, dando um ótimo diferencial ao jogo;
- Jogabilidade com o Raptor (mecha) é extremamente divertida, com uma ótima variedade de armas, cores e dispositivos;
- Administrar a casa é uma tarefa agradável, com uma boa quantidade de atividades a serem feitas.
Contras
- Os cenários são reutilizados mais de uma vez. Mesmo com inimigos diferentes, isso não impede que o jogo se torne monótono;
- Os objetivos opcionais das missões não têm uma boa variedade, tornando-se repetitivos em pouco tempo;
- Falta mais diversidade nos objetivos principais das missões — eles acabam ficando muito repetitivos, o que pode afastar jogadores;
- O baixo valor dos produtos produzidos pelos jogadores pode desanimá-los a investir nas atividades da casa.
Bounty Star — PS5/XSX/PC — 8.5Versão usada para análise: PlayStation 5
Revisão: Mariana Marçal
Análise produzida com cópia digital cedida pela Annapurna Interactive

















