Aprender a andar pode ter várias interpretações figurativas, que envolve dar passos em direção a alguma meta ou até evoluir em algum campo da sua vida. Em Baby Steps, temos a “grande” jornada pessoal de um rapaz de 35 anos que tinha como meta ficar no porão da casa dos seus pais comendo pizza e assistindo One Piece.
Eu não sei para onde vou…
Nate estava em mais uma maratona televisiva e saboreando um pedaço de pizza, quando ele é transportado para um lugar desconhecido. Neste local vasto e selvagem, ele é obrigado a caminhar com suas próprias pernas e aí está o desafio de Baby Steps. Usamos os gatilhos do controle para controlar seus pés e o analógico esquerdo para colocá-los para frente, um passo por vez.
A mecânica é simples, mas ainda assim ela prega peças no jogador, por causa dos diferentes relevos que aparecem pelo caminho. Sem contar que, cair significa retroceder e, em alguns casos, rolar uma ribanceira ou morro, nos distanciando do ponto que gostaríamos de chegar, nos leva a descobrir algum outro lugar.
Toda essa caminhada errática tem a marca de um desenvolvedor de jogos especialista em criar situações frustrantes: Benett Foddy. Ao aparecer seu nome nos créditos iniciais, fica claro o DNA e o tipo de desafio projetado pela mente que também concebeu QWOP e Getting Over It with Bennett Foddy.
Entretanto, em vez de sempre retornar ao ponto inicial, ou nunca sair do lugar, Baby Steps sempre dará um jeito de mostrar algo para quem está no comando, seja no topo de uma trilha ou após deslizar por uma longa vala enlameada.
Sendo assim, temos dois extremos bem distintos: ou você irá se frustrar com os diversos momentos de retrocesso que um leve degrau pode causar, a ponto de até querer largar o jogo; ou você fará parte daquele nicho do público que não sossegará até descobrir todos os segredos possíveis, mesmo que isso signifique cair e levantar milhares de vezes.
Uma alegoria da vida humana
Outro elemento chave de Baby Steps é o seu humor bastante peculiar e que não se faz de rogado na hora de tratar de maneira jocosa diversos aspectos. Nate não é o protagonista usual para uma atividade tão física quanto uma caminhada, sendo um adulto acima do peso, vestido com um estranho macacão cinza e sempre descalço.
Ainda assim, ele recusa insistentemente qualquer tipo de ajuda que os NPCs oferecem, e isso inclui desde um par de sapatos até um mapa para ajudar a se situar pelo caminho — o que, convenhamos, é um item básico para jogos de mundo aberto. Essa teimosia dele acaba irritando, e ao mesmo tempo criando um reflexo, com a devida liberdade, sobre como nós mesmos resistimos a qualquer tipo de auxílio quando tentamos dar nossos primeiros passos ao traçar algum caminho novo. Quem não estiver acostumado com esse tipo de experiência, com certeza irá se cansar de rodar pelo ambiente sem um norte ou noção de onde ir e o que fazer.
Mesmo com essa proposta, de viés um tanto quanto filosófico em segundo plano, há algumas coisas que podem chocar, o que é o caso de algumas cenas de nudez explícita. Logo ao iniciar o jogo, recebemos o aviso da existência delas e temos a opção de desativá-las. Por isso, fica o aviso para não ser pego desprevenido.
Os efeitos sonoros também ajudam a aumentar a imersão na vastidão em que Nate se localiza. Ruídos que ajudam a evidenciar algum ponto para ir, como o barulho de uma fogueira à frente, e também a identificar se o terreno que estamos pisando está molhado, seco, enlameado e por aí vai.
Porém, algo que prejudica a experiência no geral são alguns leves engasgos durante a jogatina. Essas travadinhas podem acabar atrapalhando na hora de acertar o passo e aí lá vem aquele tombo desnecessário que pode nos fazer voltar uma boa porção do trajeto.
Uma trilha para poucos
Baby Steps é claramente destinado a um nicho específico do público, com sua exploração sem pistas e jogabilidade baseada na tentativa, erro e eventual frustração. Por isso, talvez não seja a escolha mais adequada só para quem quer curtir um mundo aberto. Agora, se você é o tipo de pessoa que consegue se recompor após respirar fundo pelo menos 80 vezes antes de refazer a mesma coisa antes de surtar, a nova criação de Benett Foddy é ideal para sua biblioteca.
Prós
- O mundo aberto é o desafio de fato e dominar a jogabilidade é a chave para triunfar (ou não);
- Os efeitos sonoros oferecem uma proposta interessante de imersão;
- As críticas embutidas no humor ácido dos diálogos trazem uma interpretação mais profunda do que a história aparenta ter.
Contras
- Alguns leves travamentos durante o jogo;
- Por mais que a frustração esteja na proposta do título, ela o torna um jogo para um público muito específico;
- As cenas de nudez podem causar desconforto e estranheza.
Baby Steps — PC/PS5 — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Beatriz Castro
Análise feita com cópia digital cedida pela Devolver Digital











