Desenvolvido pela UnknownX e publicado pela Alliance Arts, Marisa of Liartop Mountain é mais um título ambientado no universo da franquia Touhou. Desta vez, temos uma curiosa aventura com elementos de RPG, simulando uma experiência de tabuleiro.
Quatro garotas guiam Reimu
A trama tem início quando as moradoras da Scarlet Devil Mansion — Remilia Scarlet, Flandre Scarlet, Sakuya Izayoi e Patchouli Knowledge — decidem experimentar juntas uma espécie de jogo de tabuleiro que se apresenta como um livro.
O manuscrito é protagonizado por Reimu Hakurei, que parte em uma jornada para encontrar sua amiga desaparecida, Marisa Kirisame. Ao longo dos capítulos, a sacerdotisa do santuário Hakurei percorre ambientes variados, repletos de obstáculos, criaturas perigosas e até versões distorcidas de Marisa.
Embora o enredo não traga grandes surpresas, seu desenvolvimento é interessante o suficiente para manter o jogador curioso sobre o que realmente aconteceu. Um dos pontos que torna a experiência mais envolvente é o fato de que tudo é narrado — desde a descrição dos ambientes até as ações de Reimu — como se estivéssemos realmente à mesa jogando um RPG.
Outro detalhe que enriquece a narrativa é a interação constante entre as quatro garotas, que comentam e divergem sobre os eventos, oferecendo diálogos divertidos e cheios de personalidade. Infelizmente, o título não conta com legendas em português.
Essencialmente, um jogo de puzzles
Como mencionado, a ideia de Marisa of Liartop Mountain é simular um RPG de tabuleiro. Aqui, a campanha é dividida em alguns capítulos, em que cada um ostenta um tema próprio, como uma biblioteca, uma floresta ou um deserto.
O mapa de cada arco é formado por pequenas áreas conectadas, e o jogador se movimenta escolhendo direções, como norte ou sul. Além dos inimigos ocasionais, há obstáculos que bloqueiam o progresso, exigindo que exploremos outros cenários em busca de soluções.
Alguns locais oferecem objetos ou personagens com os quais é possível interagir, com certas ações podendo gerar efeitos diferentes dependendo da escolha. Na prática, no entanto, o jogo segue uma estrutura bastante linear e rígida, apresentando desafios (geralmente lógicos) que só podem ser resolvidos de uma maneira específica.
Um exemplo presente já no primeiro capítulo envolve itens que alteram o peso de Reimu: estando leve, ela pode acessar certos lugares saltando sobre livros; estando pesada, consegue enfrentar monstros que a empurrariam para longe em outras circunstâncias. Contudo, tanto as situações quanto os locais de uso desses elementos são fixos e obrigatórios para o progresso na campanha, limitando qualquer tipo de liberdade de escolha do jogador.
Essa rigidez faz com que tenhamos que percorrer os mesmos ambientes diversas vezes e ouvir novamente as descrições narradas, o que torna a navegação um tanto lenta e repetitiva. Além disso, apesar dos visuais e da narração reforçarem a simulação de um RPG físico, essa abordagem acarreta na obra se aproximar muito mais de um jogo de puzzles.
A despeito dessas ressalvas, muitos desafios são bem planejados e integrados de forma coesa à trama e à geografia de cada local, de modo que descobrir suas soluções proporciona uma genuína sensação de satisfação.
Além disso, vale destacar que Marisa of Liartop Mountain é bastante charmoso em sua apresentação visual. Os cenários transmitem a sensação de estarmos percorrendo um livro ou um diorama, com Marisa representada como uma pequena peça e os inimigos surgindo como recortes de papel detalhados.
Rolando dados durante os combates
Os confrontos em Marisa of Liartop Mountain seguem um modelo por turnos e utilizam dados para determinar as ações. Conforme Reimu sobe de nível, o jogador pode optar pela abordagem proposta por uma das quatro garotas, o que resulta no aumento de um atributo distinto e na aquisição de um novo cubo.
Durante as batalhas, temos um pouco mais de liberdade para lidar com as situações, seja focando na defesa para contra-atacar ou atacando de forma agressiva. Algumas ações, entretanto, também seguem padrões rígidos para permitir o progresso da campanha, como chutar um inimigo para outro ponto do cenário ou permanecer sem violência.
Para cada decisão, o jogador seleciona dois dados, cujos números são combinados e devem atingir um valor dentro de uma faixa específica para que o movimento seja bem-sucedido. Embora não seja possível alterar os itens após a seleção, conseguimos gastar um recurso limitado chamado CP para rolá-los novamente.
Ainda que o fator sorte seja inerente às rolagens, o jogo exige um certo grau de gerenciamento estratégico. Como os cubos são distintos, possuem quantidade limitada e contam com um espaço de armazenamento restrito, é fundamental escolher cuidadosamente quais adquirir e em quais situações utilizá-los para garantir maior eficiência nos confrontos.
Um aspecto interessante é que os valores que representam sucesso mudam de capítulo para capítulo. Para exemplificar, enquanto no primeiro arco números altos tendem a trazer sucesso, no segundo são os valores baixos que são desejáveis. Esse detalhe incentiva que criemos combinações planejadas entre dados com valores altos e baixos, pares e ímpares, e até com valores nulos.
Apesar de seus pontos positivos, o título possui limitações em profundidade e variedade, o que pode incomodar jogadores que buscam uma experiência mais robusta de RPG. Aqui, a diversidade de inimigos é baixíssima e faltam muitos dos elementos mais tradicionais do gênero, como habilidades variadas, efeitos debilitantes ou estratégias mais complexas de combate.
Um produto divertido, embora com ressalvas
Marisa of Liartop Mountain oferece uma abordagem interessante dentro do universo Touhou, mesclando características de puzzles e RPG com a sensação de um jogo de tabuleiro narrado. Independentemente de sua estrutura rígida, que exige backtracking recorrente (percorrer áreas já visitadas para concluir objetivos) e afasta um pouco o jogo da proposta inicial, descobrir soluções para os desafios e gerenciar os dados nos confrontos proporciona uma experiência prazerosa, ainda que limitada.
Prós
- História curiosa o suficiente para manter o jogador engajado durante a campanha, com diálogos divertidos entre as quatro garotas que participam do jogo;
- Desafios bem planejados e integrados aos ambientes, proporcionando uma sensação de satisfação ao serem resolvidos;
- Mesmo com o fator sorte, os combates exigem gerenciamento estratégico dos dados sobre quais coletar e quando usá-los.
Contras
- A estrutura rígida de resolução dos desafios afasta o jogo de sua proposta de simular um RPG de tabuleiro, além de exigir backtracking constante;
- Baixa variedade e profundidade de elementos típicos de RPGs, como inimigos, habilidades e efeitos;
- Ausência de legendas em português.
Marisa of Liartop Mountain — PC/Switch — Nota: 6.5Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Thomaz Farias
Análise produzida com cópia digital cedida pela Alliance Arts














