Análise: Lost Soul Aside é um hack and slash divertido e desafiador, mas que peca em pontos chave importantes

O longo tempo de produção não foi suficiente para evitar os problemas que limitam a “boa” uma experiência que poderia ser “ótima”.

em 12/09/2025

Sabe aquela sensação de jogar um título muito esperado? Por vezes as expectativas são atendidas; por outras, nem tanto. Minha última experiência nessa situação é Lost Soul Aside, título de ação e aventura com ambientação fantástica. Conforme vamos conferir nesta análise, ele fica num meio termo positivo, acertando em vários pontos enquanto peca em alguns importantes. Prepare-se para uma grande - e acidentada - viagem, pois a matéria vai começar!

Não pense, só aceite

O game é produto do China Hero Project, iniciativa que busca dar oportunidade a produções chinesas. O jogo surgiu em 2014 com somente um responsável; dois anos depois, a Sony começou as tratativas para incluir a produção no seu projeto de incentivo, integrando-o oficialmente ainda em 2016. Corta para 2025: adiado em abril, o lançamento finalmente chegou em 29 de agosto de 2025.
 
Caso o leitor esteja se perguntando, esse longo tempo de desenvolvimento se deve à inexperiência da equipe, que adquiriu conhecimento e experiência justamente graças ao projeto. Depois de tanta espera, qual é o produto dessa longa trajetória? Lost Soul Aside é um jogo de ação e aventura, com elementos de RPG, ambientado em um mundo fantástico no estilo Final Fantasy.
O jogador está no papel de Kaser, um guerreiro que faz parte de um grupo de resistência contra a tirania do governo. Em meio a uma operação dos rebeldes, invasores chamados Voidrax chegam e atacam a todos. Durante a confusão, Kaser encontra e se une a Arena, um poderoso Voidrax draconiano. Apesar dos novos poderes, o protagonista vê a irmã ter sua alma roubada pelos invasores.
O herói parte, então, numa aventura para impedir Aramon, líder da invasão, e salvar sua irmã, além de lidar com o Império. O leitor pode achar esse enredo relativamente simples de entender, mas não é bem assim. Na realidade, a pior parte de Lost Soul Aside é a sua história e como ela é apresentada: não temos uma introdução adequada ao universo do jogo, seja da sua sociedade, moradores ou situação atual.

Senta que não vem história

Infelizmente, preciso bater um pouco mais nessa tecla da história. O jogo usa termos e cita fatos sem explicações prévias adequadas. A falta de construção do enredo é bastante frustrante, deixando a sensação de “por que estou lutando?” ou “quem são esses personagens?” Mesmo com o avanço da história as coisas não melhoram muito, seja nas cutscenes (por vezes desconexas) ou nos diálogos em jogo.
É quase como se o elemento RPG – no que se refere a narração – de Lost Soul Aside tivesse sido negligenciado até o último minuto da produção. O universo do jogo é muito bonito (como vou falar em seguida) e com temática legal, mas sem a devida contextualização, se torna meio inerte. Os personagens pouco carismáticos também não ajudam, com animações faciais simplistas.
 
As vozes são melhores, mas nada tão incrível que compense o resto. Até porque os diálogos não são muito inspirados, na maioria das vezes, com algumas falas bastante repetitivas durante as lutas. O trabalho de som, no geral, é bom, salvo o estranho efeito sonoro dos golpes de espada de Kaser. Em termos visuais, o nível é mais alto.
Os personagens têm um estilo bem legal, bem como os cenários e os inimigos. É inegável que o título se inspira em nomes famosos do gênero – tal como a franquia Final Fantasy –, mas ele consegue se diferenciar o suficiente para ser autêntico. Efeitos luminosos são legais, bem como o nível de detalhe de texturas e outros elementos.

Nem tudo está perdido

Conforme vamos jogando, é possível inferir algumas coisinhas do enredo graças a constante repetição dos termos e conversas entre personagens. Nada de forma organizada ou clara, mas ao menos temos algo para justificar as lutas (muito boas) e as explorações (boas) pelo mundo de Lost Soul Aside. Felizmente, esses elementos são bem melhores, como vamos conferir agora.
Até porque, depois de tanto bater no game, o leitor deve estar ávido para ler alguma coisa positiva do título. O título é, em essência, um hack and slash, com combates dinâmicos e radicais (somente após nos unirmos com Arena; antes disso, as lutas são mais tediosas). Um alento para quem está cansado dos constantes souslike, pois aqui podemos pular e atacar sem quaisquer restrições.
 
Por outro lado, esquivas e bloqueios gastam uma barra de vigor, que recarrega com o tempo (ou usando itens). Kaser ainda tem golpes especiais (que também recarregam com o tempo) e uma transformação que aumenta o dano e a velocidade do herói. Já os inimigos têm habilidades variadas, oferecendo desafios radicais e com boa dose de renovação.
Comum a todos é uma barra que fica logo abaixo da vida e que, ao ser reduzida a zero, deixa o vilão tonto e com a defesa aberta. A proporção entre diminuir a vida do inimigo e/ou sua defesa depende de cada criatura, dos golpes e itens usados, aumentando as possibilidades de cada luta. Existem mais algumas surpresinhas no combate, mas prefiro deixar essas surpresas positivas para o leitor.
 
O que posso afirmar é que Lost Soul Aside brilha bastante nas lutas. Seja contra hordas de monstros fracos, chefes poderosos ou a mistura das duas opções, cada combate traz desafio na medida certa. Se os efeitos sonoros das armas de Kaser não fossem tão chochos, eu diria que os confrontos estariam entre os melhores que joguei no ano.

Qualidades aqui e ali

Passando agora para as explorações, temos uma experiência boa, ainda que inferior às lutas. Os cenários trazem paisagens bem legais, com diversos corredores, áreas abertas e plataformas. Conforme avançamos na história, novas mecânicas surgem, como teletransportes, quebra-cabeças (bem simples), botões que devem ser atingidos a distância, seções de “surfe” e coleta de itens com Arena, entre outras.
Embora nenhuma delas seja muito inspirada, elas cumprem o propósito de quebrar o fluxo das lutas e oferecer variedade à aventura. Confesso que o controle do pulo de Kaser é meio estranho no começo, mas logo nos acostumamos a sua inércia e o seu dash. Também temos desafios nessa parte na forma de coleta de orbes luminosos, bem como lutas escondidas com regras especiais. 
Uma característica única do game e que achei muito interessante é a customização das espadas de Kaser. É possível colocar acessórios com efeitos especiais, assim como personalizar a aparência dos itens. O sistema não é lá muito intuitivo, mas bastante versátil para obter o resultado desejado.
 
O protagonista também pode se fortalecer ao obter experiência e subir de nível, podendo adquirir habilidades em uma árvore de opções. Elas são divididas de acordo com os quatro tipos de espadas que podem ser usadas pelo Kaser. Inclusive, é possível alternar entre elas quase instantaneamente durante as lutas, permitindo a execução de combos bem legais.

Entre tapas e beijos

Considerando a origem bastante humilde do game, cuja equipe foi amadurecendo conforme a produção avançada, é possível entender parte dos seus problemas. Dito isso, as dificuldades nesses elementos são sérias e comprometem bastante a experiência. Fora as já citadas até agora, preciso citar mais algumas.
As transições de tela (quando entra ou sai uma cutscene, quando morremos, etc.) são bastante abruptas, deixando a sensação de que o jogo trancou. Embora disponível com textos em português brasileiro, a tradução é meio duvidosa e não é compatível com a personalidade dos personagens (ainda que eles sejam pouco carismáticos).
Outras coisas, como uma corrida engraçada de Kaser e texturas feias para os cabelos, foram melhoradas com atualizações. Aliás, devo um reconhecimento à produtora, que lançou várias novas versões para Lost Soul Aside desde o seu lançamento. A questão é que, por mais que cheguem melhorias, a questão do enredo e sua narrativa dificilmente serão consertadas.
 
Digo isso como alguém que queria muito que o jogo fosse melhor. As lutas contra chefes são muito divertidas, bem como executar esquivas e bloqueios perfeitos em meio a vários ataques inimigos e contra-atacar ferozmente. Talvez se o gênero RPG fosse transformado em um jogo de fases, com história contada mais detalhada e organizadamente entre elas, teríamos um jogo digno dos melhores do ano.

Valeu a tentativa

A expectativa por Lost Soul Aside acabou se revelando maior do que o produto final. Por um lado, temos combates divertidos e empolgantes, com boa variedade de poderes, itens e inimigos. Por outro, temos uma história confusa e mal desenvolvida, tal como os personagens, os quais também carecem de carisma. Embora o resultado da produção seja positivo, ela ficou devendo, ficando como recomendação somente para os amantes do gênero ação e aventura (e dispostos a suportar um RPG meia-boca).

Prós

  • RPG de ação e aventura proporciona uma experiência interessante e com bom nível de produção;
  • Combates são divertidos e trazem uma dificuldade bem equilibrada;
  • Produção audiovisual tem, no geral, muitas qualidades, sobretudo em termos de cenários e efeitos luminosos;
  • Boas opções para customizar as lutas, incluindo um sistema para personalizar as espadas disponíveis;
  • Novas mecânicas e desafios renovam a jogabilidade ao longo da campanha.

Contras

  • Ambientação e enredo são jogados na cara do jogador, com pouca ou nenhuma introdução razoável;
  • Diversos elementos estão mal produzidos, tais como cabelos, efeitos sonoros durante as lutas, expressões faciais, transições entre cenas, entre outros problemas.
Lost Soul Aside — PC/PS5 — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Johnnie Brian
Análise redigida com cópia digital cedida pela Sony
OpenCritic
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Matheus Senna de Oliveira
é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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